Ela põe os brincos na cômoda para não me machucar, assim como aparo a barba para não esfolar seu rosto.
Estamos desarmados.
Já sabemos o que vai acontecer, não sabemos como, nunca sabemos como. Ela pode estar mais pura ou mais sarcástica. Pode raspar os dentes antes de beijar ou me contornar com a língua e deixar que meu gemido indique o lugar de sua boca. Posso receber sua precipitação ou sua paz.
Quando transo com minha mulher, temo perder a memória. É para esquecer datas, lugares, nomes. Somos desmemoriados pelo excesso de desejo.
A memória é covarde, não entra em algumas cidades, a imaginação segue sozinha, como sempre.
O que mais me excita é que ela não tira o colar. Nua, branca, sinuosa, resiste com o colar. Já largou a calcinha e o sutiã, e não o colar. Ela é impetuosa, pisa em suas roupas quando vem em minha direção, mas não se afasta do colar. Não se esconde nas cobertas, pede que eu a olhe, que eu a admire, que eu tenha consciência com quem estou lidando. Não há timidez mais, não há timidez na fome. Ela me encara com suas contas no pescoço. Já nos conhecemos demais e isso aumenta o mistério. A intimidade é perigosa porque é capaz de ferir para aumentar a fragilidade. A surpresa somente existe na intimidade. Intimidade é a confiança dentro do medo.
Ela não sobe e desce. Subir e descer não requer arrebatamento - é angústia dos apaixonados. O que ela faz é diferente: ela anda pelos lados. Ela ladeia em mim. Monta em círculos. Como se a cama não tivesse fim ou borda. Como se minha nudez fosse a sua e ela se devolvesse.
Não aumenta os movimentos, desobedece ao vento, diminui, desacelera. Brinca em se despedir. Como se alguém fosse entrar naquele momento pela porta. Como se ouvisse um barulho estranho e parasse. E não chega ninguém, e rebola, os lençóis perto são sua saia, ela me desafia a ver o que está vendo - nos assistimos por um tempo para criar saudade antes da lembrança.
O colar balança, seus seios seguram minhas mãos. Não é aturdida de pressa, não pretende se livrar do meu cheiro, ele me agride com as palavras e me acalma com seu movimento. São duas mulheres conversando com o meu corpo, brigando pelo meu corpo, indecisas, a que liberta pela fala e a que me prende pelas pernas. Eu não entendo para onde vou, e me seguro na confusão.
Não pergunto quando vai gozar. Ela morderá o colar. Morderá com força. Nada mais deslumbrante do que uma mulher mordendo o colar para não gritar. Um dia ainda verei as pedras partindo de seus olhos.
Seu colar é minha coleira.
45 comentários:
Já me vi preso a muitos colares,
sempre esperei as pérolas rolarem pelo quarto.
Encantador como tudo que escreves!
amei esse texto... você descreve nós, mulheres, com perfeição.. sou sua fã.. estou lendo Mulher Perdigueira e amando...
deslumbrante. sem ar.
Não tenho palavras. Estou arrepiada!!!
...se uma das frases já tinha 'batido' pelo twitter, o texto completo então...adorei! 'Seu colar é minha coleira' é otimo!
Nine
Realmente explendida essa crônica. Ela tem uma vivacidade que nos prende.
Lindo, como amar de ser...
beijo pro casal
E eu estou presa em tuas palavras. Lugar obrigatório é esse blogue. Parabéns!
sem fôlego.....
Uma das mais lindas descrições de amor e sexo que já li.
Você escreve como quem roteiriza. É assim o imaginário se avolumando .... lembranças do colar que não usamos, em mim arrebentam-se as fitas, as flores que por vezes adornam o meu pescoço.
Abraço,
A musa dos lençóis;uma prosa poética.
Esse texto é incrível, Fabro.
Amor, memórias e um caminho em meio ao amor! Por que ela largaria o colar? Penso que é o amuleto da sorte. O objeto transicional que guarda o desejo!!
Abraço e te sigo.
Tô sem folego depois de ler, fabuloso! bjos
Sua esposa é uma mulher de sorte! Nunca escutei sexo dessa maneira. Queria ter o meu sexo dscrito por aquele que me ama assim. Ah se eu ao menos tivesse alguém que me amasse...
Que delícia esse texto...
UAU!!FÔLEGO? CADÊ? DELÍCIA DE DESESPERO!!
A D O R E I a entrevista no Jô, pena que acabou muito rápido...queria mais :(
É que o Jô se perdeu, todo mundo viu. Claro que Êle é gay, mas não assumido, e o nosso Carpinejar não deixou barato: Ao natural, desnudou o Jô sem complacência, e com muitíssima competência, e o Jô gostou..., mas não esperava, e pra não vacilar, encerrou a entrevista antes disso, porque não tava preparado, como gostaria, para assumir. Foi massa!
E o texto desse poema, talvez seja o melhor texto poético/sensual que já li! "simpli ze best"! hihi
#CheckPoint: Fantastico o Post e Fantastico mais uma vez no Jô!!!
Tu tens umas sacadas ótimas!
Tipo:
" não há timidez na fome "
" Intimidade é a confiança dentro do medo. "
Nota 100!
Adorei vc no jô ontem!!
Beijos
"A intimidade é perigosa porque é capaz de ferir para aumentar a fragilidade"
Realmente, é incrível como a intimidade pode também nos intimidar perante aquele que pode nos atravessar até em pensamentos. Amei o texto! Beijos
Eu ganhei mais uma pessoa para adimirar! Não conhecia vc, hj to sedento de vontade de devorar todos os livros!
Grande abraço e fique na paz!!
te favoritei no meu blog... aliás, já não escrevia há tempos, agora acredito que eu volte... muito obrigado!
ficarei feliz com um comentário seu um dia!
Grande abraço!
lindo demais
adorei sua entrevista ontem no Jô
um cara sensacional
concordo em tanta coisa que falou la...
http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1298186-7822-ESCRITOR%20FABRICIO%20CARPINEJAR%20LANCA%20LIVRO,00.html
abs
andre gardenberg
http://www.andregardenberg.com.br
Ah se todos fossem iguais à você...
Postei aí em cima o link com a entrevista de ontem no Jô, mas qdo fui assistir novamente, vi que só tem o primeiro bloco...
Tomara que possamos ver o segundo em breve
abs
André
E o colar de terço transforma o sacro-profano em desafio!!!
E que Deus perdoe meus pensamentos...
Visceralmente amor!! Cada gesto decifrado pelo amante para encontrar a completa nudez!!
abss!
A entrevista deixou sabor de quero mais!!
Amei a tua entrevista no Jô!
Não é qualquer um que fala o que quer com ele, sempre esperei por este momento.
Gosto muito dele e nunca gostaria de vê-lo em saia justa, mas sempre esperei um diálogo entre entrevistador e entrevistado na mesma altura intelectual.Você realizou o meu sonho de tantos anos.
Adoro você,só tem um problema, as minhas filhas querem todos os seus livros, haja dinheiro!!! rs
Estou te seguindo com prazer, ficaria super feliz se você me deixasse um beijo no Chá das Cinco.
Beijos
GEMÁRIA SAMPAIO
Uau! tipo de texto que prende a gente! sem palavras... tb quero esse Amor!
"Já nos conhecemos demais e isso aumenta o mistério. "
Seria esse segredo ?
Um dos melhores, Parabéns!
Descreve com riqueza de detalhes exatamente como todas nós, mulheres, gostaríamos de ser admiradas. Essa é a riqueza do amor e do sexo. Os grandes significados dos pequenos detalhes... Parabéns por esse dom de encantar com as palavras!
"...a que liberta pela fala e a que me prende pelas pernas..."
Gosto do seu estilo!
Me encantei pelos detalhes do seu texto, vc discorre tudo com enorme facilidade e para entendimento de qualquer um que se aventure a ler!
Descobri seu blog pelo seu twitter, e estarei sempre aqui. Parabéns, parabéns e parabéns!
Deve ouvir isso o tempo todo, com certeza... mas cada um é cada um. E um elogio é sempre bem-vindo! :D
Muito sucesso!
Beijos!
Nossa! Eu li cada canto do seu blog e estou impressionada. Você escreve com a alma e quem lê a primeira palavra, não consegue mais parar... E as perfeitas descrições, é fantástico!
Acho que você ganhou uma fã!!!
Sucesso e cada vez mais inspiração!
Abraços
Nossa, Fabrício!
A sensação que me dominou sequestrou todas as palavras!(risos)
Beijos!
E por aí elas nos prendem...
E nós não nos importamos nem um pouco...
QUE ABSURDO DE PERFEITO!
Todos os homens deveriam ler esse texto, rs.
Absurdamente arrebatador. Você é foda!
Noossa, é meu favorito de tudo teu que já li. Me encanto; Acho surpreendente como a admira, e como percebe cada detalhe.
Parabéns. Aos dois =)
Se você realmente morder como ladra... Canalha! Deveria ementar um Curso Preparatório para Maridos de Mulheres Perdigueiras, muito embora seja improvável conseguirmos angariar a simpatia do vaticano para adotá-lo como disciplina obrigatória nos cursos de noivos. Resta-nos uivar, apropriando-nos da nudez da tua lembrança sob a seda da fantasia...
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