VETERANO DA DESPEDIDA
Arte de Kurt Schwitters
“Estava namorando há quase sete meses com uma mulher que não achamos tão fácil por aí. Eu sou mais emotivo do que ela. Gosto de abraçar, beijar, ficar junto, porém ela não é assim. Terminamos no final de semana. Na verdade, ela me deu um pé na bunda por incompatibilidade de gênios. Queria que me ajudasse, pois agora ela está pedindo pra voltar. Ela me magoou muito, e não gosto mais dela como antes. Estou indeciso porque já tive outro relacionamento em que terminei com a minha ex oito vezes. Foi um inferno, e eu não quero que isso se repita. Obrigado desde já, Rafael”
Querido Rafael,
Você adora discutir o relacionamento, acredito que se sente valorizado na hora de brigar (tanto quanto no sexo).
Toda briga engrandece seu passe. Com uma discussão de relacionamento, temos o poder de terminar ou reatar. Há uma adrenalina na gritaria, feita de reinícios, reprises, acusações, defesas, beijos com gosto de lágrima e ecos intermináveis.
Julgar o outro sempre é uma forma de se perdoar e se elogiar. Ela é fria, e, portanto, você é quente. Ela não abraça, não beija muito, não se derrete, portanto, você é que oferece afeto e não é reconhecido.
Entende? Você é o certo, e, portanto, ela é errada. Você é o santo, e, portanto, ela é o monstro insensível. O maniqueísmo destrói afetos.
Não deve ser bem assim o romance. Precisamos dar um desconto, concorda?
A cobrança é uma competição oculta. Fomenta uma rivalidade difícil de controlar. Espera o erro dela para logo denunciar, ela espera sua denúncia para logo pedir as contas, e assim os humores se esgotam com rapidez.
Você terminou oito vezes seguidas com a ex. O que me sugere que o barraqueiro é você, não a atual namorada. Não vem dizer que discute porque não tem saída, a discussão é sempre a sua saída.
Por algum motivo, carrega a suspeita de que ninguém é capaz de amá-lo sinceramente. Talvez você se ache feio, ou com pouca experiência, ou em desvalia financeira. A DR serve para testar o amor de sua companhia. As conversas sérias são maneiras de examinar se ela realmente terá paciência para conviver e quais as verdadeiras intenções. Abre um inquérito das últimas declarações com o claro objetivo de desmascarar suas pretendentes.
Diz que não gosta tanto dela como antes porque simplesmente frustrou seu plano, desistiu de brigar e rompeu o namoro. Não tolerou o permanente ataque de nervos por melhores condições e caiu fora. Você ficou falando sozinho.
Ela não foi aprovada no grande concurso público de suportar suas ofensas até o fim. Alguém suportaria?
É impossível conviver com o inimigo. Mude de lado, por favor.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 7
Porto Alegre (RS), 24/02/2013 Edição N° 17353
Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 7
Porto Alegre (RS), 24/02/2013 Edição N° 17353
Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
8 comentários:
Que maravilha de post,superou minha expectativa dominical de encontrar algo agradável para ler antes do almoço.com certeza ajudou muito o rapaz...parabéns!
Adorei, um um recado e tanto!! Um ótimo domingo!
Nossa!! Muito bom, estava precisando disso.
Incompatibilidade de genios é um assunto sério. Quanto mais parecidos os casais mais eles se completam. A incompatibilidade só tem graça por um periodo de tempo, depois se torna cansativa e desgastante. Procure um amor -romance , com começo, meio e fim e nao um amor-novela que muda a cada capítulo e ainda pode ser reprisada no futuro.
Carpinejar, você foi voraz. A experiência ensina, mas há pessoas que não aprendem por um ego inflamado. Indicaria, sem intuito publicitário, um texto de Helena do blog tudoporhelena.blogspot.com de título "Eu, eles e eu". Dá pra ver que ela é sua fã.
Carpinejar, querido!
Qualquer semelhança com (minha) realidade NÃO é mera coincidência. Eu seria a ex das 8 separações e ele meu último namorado que brigava pelos mesmos motivos... e que tbm terminou há uns dias com sua atual namorada com quem estava há uns 7 meses.
Realmente não é possível forçar que as pessoas sejam iguais a gente, e creio que Rafael queira isso. Rafael, assim como meu ex, deve ser do tipo que quer ficar na cama até às 4 da tarde diariamente amando, quando na verdade ela quer levantar, ver a luz do dia, cevar o mate e viver a vida.
A negação dessa vida "de amor" o incomoda. Mudar de lado? Creio que ele não consiga. Precisa desse mimo, é carente, é doente.
Eu diria que isso iluminou minha vida!
Realmente, há pessoas que culpam o passado pelo presente, e não tem coragem de mudar.
Mudam de consortes mas continuam agindo da mesma maneira que antes, e passam a culpar, sempre, o outro.
A culpa nunca é dele, a culpa é sempre daquele que está ao lado.
Discussões são sempre a maneira, e desculpa, para justificar o que há de errado...
Mudar? Precisam de força e coragem, e visão da realidade, coisa que sempre falta a esse tipo de pessoa.
Querido Carpinejar...
Conheço muito bem essa descrição de relacionamento, acho que o Rafael não teve apenas um relacionamnto igual, mas sim 3, é do tipo que se vitimisa, que se sente injustiçado, é mimado, ciumento ao extremo, tem baixo estima e acha que todos estão contra ele... É um doente, um psicopata, um atrasado que atrasa a vida de todos que estão a sua volta... Enfim não tem escrupulos, mente descaradamente, não gosta de trabalhar e trai, por isso acha que todas irão se comportar como ele se comporta... Espero que a atual ex permaneça ex!
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