segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ESTRATÉGIAS DE SEDUÇÃO

Arte de Jasper Johns

A mulher tem uma manha terrível, um ardil implacável de sedução. Qualquer macho sucumbe. Qualquer. Pode ser um diplomata, um gari, um doutor pela Sorbonne XXXV, um eletricista. Não foi criado um sistema de proteção; ainda somos presas fáceis.

É quando ela sussurra no ouvido que está sem calcinha. Mesmo que seja uma mentira, funciona. O sujeito engasga, extravia a linha de raciocínio, logo baba, perde a língua em ataque epiléptico. Experimentará um transe messiânico, tonteado com a revelação. Trata-se de um convite? Quem diz que não é maldade?

Toda mulher fala que está sem calcinha rindo, o que irrita sua vítima. O barbado buscará se certificar, espiando os joelhos, reparando nas dobras, com os olhos vidrados de um tarado. Não acreditará no milagre. Cometerá uma gafe, um escorregão, derrubará a cerveja na roupa, tropeçará no cadarço, praticará algo idiota como encará-la para avisar que irá ao banheiro. E voltará do banheiro duas vezes idiota porque ela sequer se levantou da cadeira.

É uma confidência imbatível que somente as mulheres têm direito. Se o homem declara que está sem cueca vai sugerir – no máximo – que é um porco. Não será nem um pouco excitante.

Mas, após décadas de experimento, desvendei uma estratégia masculina de efeito semelhante. Não faço churrasco, nunca convidei amigos para uma carne no final de semana. Meu pai se separou cedo da mãe e não me transmitiu o legado e a arte do sal grosso. Azar, não há churrasqueira que não sirva de lareira.

O que não abro mão é de comprar o saco de carvão no mercado. Nenhuma fêmea resiste a um homem carregando um saco de carvão. Com os dedos sujos de graxa. Apanhando a argola de papel com desleixo. Como se não fosse pesado.

Num único lance promocional, é oferecer as fantasias eróticas de mecânico e de peão. É mais imbatível do que escolher carne no açougue. Mais imbatível do que recusar a carne no açougue (a maior parte dos clientes discorda do açougueiro para se exibir ao mulherio).

Atravessar os corredores de laticínios e refrigerantes com um saco de carvão representa a suprema glória viril. Supera o óleo nos bíceps dos halterofilistas. É reconquistar o fogo. É se fardar completamente ao sexo.

Não precisa ser musculoso, apenas desalinhado. A cena depende de preciosos detalhes. Suje a calça na hora de pagar e não dê bola para mancha, provando que estaria disposto a rolar num barranco. Largue o pacote na esteira com um estrondo, para impor passionalidade. E pague com um maço bêbado de notas, retirado do bolso da frente. Não tire a carteira sob hipótese nenhuma, que seria uma atitude educada e fria.

Todo domingo, repito esse ato sagrado. Tenho um estoque de sacos no porão. É meu jeito de estar sem calcinha.





Publicado no jornal Zero Hora
Segundo Caderno, p. 3, 30/08/2010
Porto Alegre (RS), Edição N.º 16443

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

MENSAGEIRO DO APOCALIPSE

Arte de Max Ernst

Abro a janela para sentir onde estou; somente a lufada no rosto resolve. O vento é o único meteorologista em que confio.

Hotel provoca miragem: não acertamos se está frio ou quente lá fora.

O controle do ar repousa ao lado dos canais de televisão. No gabinete. É o efeito estufa em minha vida - viajando, permaneço sempre na mesma temperatura. Gostaria de arder de calor na madrugada ou me encolher de frio, somente para me enxergar em casa. Vida cômoda demais incomoda. A melhor gula é vencer a dormência e mexer na geladeira de noite. O melhor sono, portanto, depende de um esforço físico, em abandonar a zona de conforto, é aquele que caminhamos no escuro por um cobertor ou duelamos com o lençol, empurrando o tecido como um morto no despenhadeiro.

Só que em alguns hotéis a janela está fechada, como o do bairro Anhembi, em São Paulo. O quarto lacrado não me deixava trabalhar em paz. Liguei para a governança:

- Pode abrir as janelas, estou aflito?
- Sim, estou mandando um mensageiro.

Demorou uma hora, e nenhum sinal em minha porta. Insisti, com receio de uma conspiração.

- Eu pedi para abrir as janelas...
- Sim, desculpa, estou mandando um mensageiro.

O jovem chegou. Tinha uma barbicha para forçar a idade. Na minha adolescência, todo rapaz era um bode. Alguns continuam sendo.

Ele veio com um cardápio para assinar.
- Não pedi nada para comer ou beber.
- O senhor não solicitou a abertura das janelas?
- Sim.
- Deve assinar aqui.
- Por quê?
- Para abrir a janela.
- Como?
- O senhor precisa se responsabilizar por abrir a janela.
- Mas eu não me responsabilizei por abrir a porta, por abrir a geladeira, por abrir as gavetas. Que isso?
- É norma do hotel. Abriremos as janelas com seu termo de anuência.

Rabisquei na linha em branco para encerrar o assunto. Nunca tinha pensado em suicídio até aquele momento. Foi tanta solenidade que fiquei com vontade de me matar. O mensageiro criou a fantasia mórbida com o ofício. Deu a ideia. Fomentou a imaginação. Agora sim estava aflito com as cortinas farfalhando. As alturas me chamavam pelo apelido, com inegável intimidade.

Aguentei o pânico, suspeitei que, se me atirasse no pavilhão da Bienal do Livro colado ao hotel, o mundo inteiro diria que era mais um dos meus golpes de marketing.

Desci ao saguão disposto a respirar o térreo. Fugi imediatamente dali. Encontrei André, amigo de editora, lendo jornal. Puxei papo para me distrair. Evidente que descrevi os últimos acontecimentos.

Mas ele ficou pálido, mais nervoso do que eu, envergonhado. Resmungou:

- Quando entrei no meu apartamento, as janelas estavam abertas. Não pediram minha autorização. Vou reclamar ao gerente, não é um convite ao suicídio, já é um assassinato.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

JÁ ESTAVA CASADO NA FESTA DE SOLTEIRO

Arte de Cínthya Verri

É fácil descasar.

Agora os casais se separam para depois discutir. Não mais discutem para se separar. Não desenvolvem a quebradeira emocional, o jogo de ameaças, as negativas falsas. Aquelas horas a fio de madrugada para desenterrar uma confidência. Não arranham os discos estacionando a agulha numa única faixa. Não provocam novos juramentos e lamentos desesperados de perdão. Surge uma infidelidade, uma frustração, a parte ofendida nem pede explicações: fecha a conta.

Abandona a casa e busca seus pertences na portaria na semana seguinte. O síndico é o padre das separações, vive consagrando divórcios. No altar, o sacerdote entrega alianças. Na portaria, o síndico entrega as chaves. O corvo não usa mais preto.

Segunda chance e repescagem são atitudes reacionárias. Moderno é virar a cara e partir para outra. Não importa se é verdade, impressões funcionam como fatos. Mesmo que sejam fatos, a vergonha de um engano supera o passado de acertos.

Sentenças como “pisou na bola” e “fez a maior mancada” bastam para explicar o sumiço. Poderá se arrepender e insistir que não terá resposta. Ninguém mais quer perder tempo com namoros. Reatar é um desperdício, é insistir no erro. Ou se acerta de primeira para sempre ou não existe reedição. Amor hoje só tem primeira impressão.

Eu percebi isso quando fui convidado para uma festa de solteiro. Esperava um trago interminável, uma loucura de som alto, os vizinhos chamando a polícia. Ansiava por uma noite animal, o apartamento abaixo como um zoológico. Seria uma data fadada ao esquecimento, para preservar os segredos. Imaginei que os padrinhos chamariam garotas de programa, que estariam nuas cobertas apenas por casacos de pele, imaginei que metade dos convidados entraria em coma alcoólico e a segunda metade dormiria no banheiro.

Mas não havia prostitutas, muito menos bagunça. Virou um churrasco de família, com pouquíssimas piadas e excessivo nervosismo. Desconfio que os presentes rezavam pelo término do encontro, antes que viesse uma surpresa desagradável e um imprevisto que despertasse os dilemas do corpo. Observavam o relógio da cozinha, apreensivos, com receio que alguém surtasse e abandonasse a sobriedade.

Incrivelmente o sogro participava do jantar. Como aprontar diabruras e taras contra a memória de sua filha? Ajudava a espetar a carne com o avental do seu time de coração. Só faltava a sogra trazer a salada.

Badalou meia-noite e o noivo ligou para a noiva para sair num bar. E os amigos dos noivos telefonaram para suas namoradas para ir junto. As mulheres pareciam que estavam de tocaia atrás da porta — chegaram tão rápido.

Foi um aquecimento para o romance, não um inferno a compensar o céu, não a desforra da cumplicidade, não a catarse final que antecipa o casamento.

Todos encontraram seus casacos na saída — antigamente ninguém achava suas meias.

Igual pasmaceira nos chás de panela. Até crianças são permitidas. Não enxergará provas sádicas entre as amigas, concursos de vexames, não se paga mais stripper para rebolar na mesa. Antes as madrinhas levavam vibradores, novidades eróticas, brincavam com os costumes, cuspiam caroços de azeitonas pelas janelas. É tudo comportado, adequado, adulto. Onde se colocou a diversão da véspera? As homenagens são escolhidas com segurança, não se fala de antigos relacionamentos e de atrapalhadas na faculdade para não gerar indiscrições. Loucas e histéricas não são convidadas, logo elas, imprescindíveis, que inflamaram as festas como DJs das gafes.

Experimenta-se um pânico moralista, vá que ele ou ela descubra intimidades e mude de ideia. Os noivos sofrem o período de delação premiada. Não arriscam troça nenhuma, acovardados em suas fantasias.

Porque é muito, muito fácil descasar.



Crônica publicada no site Vida Breve

terça-feira, 24 de agosto de 2010

MONTENEGRO

Sessão de autógrafos de Mulher Perdigueira (Bertrand Brasil, 2ª edição) no LAR A GOSTO (Rua Ramiro Barcelos, 1435, Tel.: 51 3057 2299), mostra de decoração da Todeschini, nesta sexta (27/8), às 13h, em Montenegro (RS). Sou homenageado com a criação de um ambiente: a Sala de Leitura Carpinejar, misto de café, escritório e biblioteca.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DUAS VEZES LIBERTADORES


Inter bicampeão da Libertadores. Assume a hegemonia de títulos no futebol gaúcho. Na vitória sobre Chivas, três personagens contribuíram para a conquista: Rafael Sóbis, o anjo vingador, Leandro Damião, o iluminado, e Giuliano, o predestinado. Três homens, três destinos.

Rolo Compressor não dormiu. Sua insônia é alegria. Leia a algazarra poética.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

DEMORA

Arte de Cínthya Verri

Meu amigo se separou.

E ria e conversava com todo fermento da noite. Não vi nenhuma careta. Nenhuma cara amarrada. Nenhuma marca de suicídio. Um homem aberto ao convívio. Quem o observava não cogitaria que dividiu um táxi com sua mulher e cada um partiu para a um canto diferente da cidade. Não imaginaria que ele se distanciou da esposa de cinco anos. Não se apontaria coisa alguma de diferente nele, sem resquício de mal-estar na gola, sem qualquer dobra a mais em sua camisa xadrez. Levantava o chope com a mesma envergadura. Preocupava-se com o rumo dos temas com igual zelo. Comentou filmes, destilou cotação de livros, elegante na ironia e contido na crítica. Aparentava a boemia engraçada de uma sexta-feira. Nem mais vontade de beber, nem menos.

Não havia cansaço de uma longa refrega, olheiras de preocupação, bafo de ofensas. Estava até de dentes escovados, cheiroso inclusive — e eu que jurava que não se tomava banho num divórcio.

A impressão é que esqueceu um compromisso, extraviou uma tarefa, sei lá, a chave da porta do edifício, algo substituível, não um namoro, um casamento, um destino. Sugeria um desapego, uma frieza, fiquei em dúvida se podia confiar nele, não havia feito barbaridades como quebrar cabides e porta-retratos, não havia protagonizado um ataque de piromaníaco com as cortinas, não sumiu com imagens e cenas em seu computador. Como que meu amigo não estava sofrendo? Como não chorava, não reclamava de sua companhia, não condenava o desenlace?

Não vislumbrava um filete de sangue que atraísse os vampiros das fofocas. Ou seja, nós, os colegas do balcão, ansiosos por tragédias, boquiabertos, salivando por detalhes, escárnios, pela exposição desenfreada de sua vida íntima.

Não saiu um palavrão, uma filha da puta de sua boca. Meu amigo não falou nada. Não se debruçou na toalha, não palitou as veias, não esbofeteou seus olhos com guardanapos.

Justamente porque estava sensível demais. Excesso de sensibilidade nos leva à insensibilidade. O extremo é negação.

A despedida era muito recente para gritar e sacudir os braços em oração muçulmana. Ainda não respirou lonjuras, não experimentou a quebra de ritmo, não descontou um par de talheres na hora de pôr a mesa. Não existia um dia de travesseiro e de cama vazia. Não engasgou no ato falho, não emudeceu no constrangimento das gavetas, mantinha a espera de um pedido de desculpa.

Desespero em demasia é tranquilidade. Não processamos, não digerimos, estamos conectados em pensamento com as últimas palavras, revisando os diálogos com a esperança de intervir na ilha de edição ou de retomar as filmagens.

Demoramos a nos separar, mais ainda em nos descobrir separados.

Aceitei que estava realmente divorciado um mês depois do fim, ao buscar o filho no antigo apartamento. Encontrei as tolhas molhadas no corrimão da escada-caracol. Eu que sempre levava para cima quando subia ao escritório, eu que sempre estendia o jogo no varal do terraço. Toda manhã, como uma senha, um rito de bom-dia.

Enfrentei a saudade, contive o ímpeto da falta. Confesso que a imobilidade doeu mais do que um movimento abrupto. Se realizasse o ato banal, vestiria novamente os fantasmas.

A casa não era mais minha. Os hábitos não eram mais meus. Não tinha mais obrigação com o passado. Sequei o rosto com os próprios punhos.



Crônica publicada no site Vida Breve

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

RESPOSTA CERTA

Arte de Perugino


Toda mulher é experiente em testes. Atravessou a adolescência preenchendo questionários de revistas femininas, definindo pela pontuação se é sensual, se terá sucesso financeiro, se ele a ama.

Constantemente busca levantar coincidências e armar uma simbologia para encontros e esbarrões. Nada é fortuito, tudo tem uma mensagem escondida. Qualquer abordagem é uma revelação de infância.

O homem deve ficar atento quando se apaixona. Para desvendar qual é o exame decisivo da convivência. Cada mulher elabora o seu enigma, particular e intransferível. Pode ser um convite para visitar a família no interior ou quando apresenta seu bichinho de estimação.

É um questionário à paisana. Muitos marmanjos são descartados e não compreendem o motivo. O pé-na-bunda foi uma avaliação secreta em que ele deu a solução errada. É praticamente impossível detectar o momento. Ela se finge de distraída:

- O que acha de The Cure?

Você deduz que é uma pergunta à toa entre milhões que serão feitas ao longo do relacionamento. Confessa a verdade, decidido a impor sua personalidade:

- Foi uma tolice adolescente.

Mas não é uma pergunta, é a pergunta. A única que importa. A decisiva. Ela parte do princípio que nunca vai se envolver - sob hipótese alguma - com um cara que não curte The Cure. Robert Smith continua sendo seu ídolo. Não adianta demovê-la da ideia. Na mulher, qualquer ideia se transforma rapidamente em crença.

O batismo de fogo muda conforme as obsessões da moça. Cuidado com o que diz ao tomar sopa de beterraba num restaurante polonês, cuidado com o que diz na saída de um filme sueco. Esteja preparado, um vacilo e ouvirá o som gelado da guilhotina: zaz! (o número do seu telefone desaparecerá do celular dela)

Antes de ser minha namorada, Cínthya me convidou a correr e participar de seu habitual trajeto na Usina do Gasômetro. Fez sombra na cabeça o zepelim da gozação, aquilo soava como brincadeira. Não combinava com minhas características no Orkut: sedentário, fumante, escritor e adepto incondicional do LER. Fiquei tentado a rosnar um "boa sorte"; me reprimi e aceitei, com um sim engasgado, um sim arrependido. Não tinha noção de como completaria o percurso. Afinal, eram oito quilômetros e não desfrutava de um mísero calção, muito menos de fôlego.

Enfrentei o desafio disposto a enfartar. Se é para morrer que seja por ela.

Não senti as pernas por dois dias. Ainda menti que queria mais: que tal ir até Restinga e voltar? Cínthya terminou o passeio impressionada com a performance. E com meu contentamento silencioso - não falava, bufava, concordando com a cabeça, preocupado em como respirar no próprio corpo.

Conversando com seu irmão Gustavo, descobri seu costume em submeter os pretendentes a uma corrida: "É seu teste para o namoro!".

A enxaqueca apareceu quando esclareceu que ela somente iria casar com quem completasse uma maratona ao seu lado. A pergunta dela vai durar 42 quilômetros.

Faço minha estreia como colunista do jornal Zero Hora
Sempre publicarei nas segundas quinzenais, na página 3 do Segundo Caderno
Crônica de 16/08/2010
Jornal Zero Hora, Porto Alegre (RS)
Edição N.º 16429

sábado, 14 de agosto de 2010

TWITTANDO NAS RUAS DE PORTO ALEGRE

O programa Patrola, da RBS TV, fez o desafio: que eu saísse da frente do computador e twittasse com cartolina e caneta no centro de Porto Alegre, usando o improviso e a observação do momento.

Será que o povo nas ruas entenderia minhas frases?

Veja o resultado em matéria exibida na sexta (14/8).


ABERTURA DE OFICINA EM SP



Transmissão via twitcam da abertura da oficina de crônicas no Espaço Cultural B_arco, que ocorreu na tarde de sábado (14/8). Inscrições para as próximas aulas aqui ou pelo telefone(11) 3081-6986

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

LUTA DESIGUAL

Arte de Cínthya Verri

Restaurante com televisão provoca calafrios. É uma maneira de compensar a falta de assunto da família. Você espia, detesta o programa, olha de novo e já está mastigando de boca aberta. A tevê ameaça o emprego do garçom. Um dia, a gorjeta será direcionada para pagar o canal a cabo.

Aos sábados, gosto de almoçar tarde e quebrar o rigor da semana. Eu e minha namorada escolhemos uma mesa colada às paredes de madeira da cantina.

Sentamos num canto sossegado, romântico, com a privacidade para encostar as pernas a cada declaração. Havia retratos antigos e um cheiro de hortelã que bate qualquer incenso.

Iríamos pedir o prato quando minha namorada saltou: “Vamos trocar de mesa?”.

Coloquei as mãos no tampo para verificar se estava firme, a mesa não estava manca.

— O que houve?

— É Van Damme na tevê.

Não acredito, ela é fã do troglodita Van Damme. Do fisicultor bailarino. Daquelas ações intermináveis em que o herói é maltratado, chora com os olhos arregalados e parte para uma represália vitoriosa.

A televisão de 40 polegadas me anulou. Sugeria com afinco opções do cardápio e a namorada rebatia com desinteresse:

— Pode ser, pode ser.

Não entrava em pormenores para não prejudicar a concentração.

- Agora é o spacatto dele nas cadeiras, vê?

E suspirava, como se o spacatto fosse uma obra de arte, o Davi de Michelangelo.

Cínthya não se limitava a uma audiência silenciosa, discreta, dublava as principais cenas de O Grande Dragão Branco. Antecipava as falas, festejava com uma careta o espirro do sangue que não favorecia o avanço da minha colher no spaghetti ao sugo.

— O melhor amigo dele quase morre espancado, repara na maldade do Chihsing (?). É o início da vingança. Vingança, vingança!

Ela vibrava com os braços, o triunfo da pancadaria dependia estranhamente de sua torcida.

Eu me apavorei: há um homem na alma de minha mulher. Toquei em sua rima labial para procurar buço, não havia nada. Nenhum pelo no rosto. Passei a temer seu passado, sua criação com pôster de Arnold Schwarzenegger na porta do quarto, seu histórico na bilheteria do cinema em Passo Fundo ao figurar como reincidente nas séries Rocky e Rambo.

Em vez de coraçõezinhos e estrelas, especulei que marcava seu querido diário com rifles, bazucas e caveiras. Seus clássicos não eram Casablanca e Love Story, e sim Código de Silêncio, de Chuck Norris, Desejo de Matar, de Charles Bronson, e Operação Dragão, de Bruce Lee. E eu que me considerava insensível pelo excesso de futebol em casa.

Necessito loucamente de um exorcista. Levá-la a um trabalho contundente de magia negra. Acompanhá-la a uma faxina espiritual. Não sei se funcionaria. Na terreira, tenho minhas dúvidas de que aceitaria a Pomba Gira. Baixaria nela o Van Damme e mataria o pai-de-santo com golpes de kickboxing, karatê shotokan, muay thai e taekwondo.

Prometo dar o troco. Ainda vou mudar de mesa para assistir Uma Linda Mulher, meu filme preferido.




Crônica publicada no site Vida Breve

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

REVOLUÇÃO

Arte de Franz Kline


- Você tem que ensinar ironia para sua filha, me disse o amigo Gustavo.
- Por quê?
- Ela precisa se defender do mundo.
- Não, repliquei. Ironia ela está farta de saber.

O adolescente tem ironia de sobra. Já é sarcasmo. Ironia para superar a separação dos pais, os desentendimentos dos horários, a obrigação dos temas e as escalas para dormir e voltar. Ironia para suportar as reclamações do trabalho dos adultos, a falta de tempo, as sucessivas renúncias inventadas para cobrar o amor de volta.

Mariana de 16 anos conhece de cor e salteada a ironia. Depende disso quando reitero pela terceira vez o que ela deve fazer e peço para ela repetir minha frase para ver se realmente a ouviu. E percebi que não converso há muito tempo com ela, só quero que ele repita as frases. Ela virou aspas da minha cegueira. Não é um diálogo, são ordens. Eu percebo que ela escutou, mas reforço com o objetivo de manter a autoridade, para mandar nela. Ela pressente a tirania e não responde.

Desde quando repetir é educar? Envelhecemos não quando ficamos surdos, e sim quando acreditamos que o filho é surdo e o torturamos com a insistência das perguntas.

Já arrumou seu quarto? Já estudou para prova? Já tomou banho? Que bagunça é essa em cima da mesa? Onde está meu carregador?

Era uma vez não existe na adolescência, são inúmeras vezes uma única ameaça. É um massacre. Um bate-estaca. O que era um pedido transmuda-se em mandamento e depois em chantagem e, no fim, numa briga de portas trancadas. Somos contrários à decoreba na escola, porém não largamos de difundi-la em casa.

Eu tenho que ensinar ingenuidade para minha filha. Ingenuidade no amor. Ingenuidade no trabalho. Ingenuidade nas amizades. Os jovens estão sobrecarregados de pessimismo, receberam nossas desilusões de herança.

Revolução não acontece com cinismo, política talvez. Revolução é feita com ingenuidade. É acreditar mais do que desconfiar. É ir para frente por uma causa ou um sentimento, não prevendo se vale a pena ou se levarão alguma vantagem pessoal. Que fracasse com convicção, mas experimente os próprios desejos. Toda experiência será sempre uma situação de risco.

Ironia não é sinal de maturidade, muito menos ingenuidade é prova de imaturidade.

Porque logo mais minha filha não começará um relacionamento sem a certeza de que dará certo. Não se aproximará de ninguém ao antecipar os possíveis foras e enganos. Não escolherá a carreira predileta devido à instabilidade. Excesso de cautela não é prevenção, é medo.

Nossos filhos não confiam em mais ninguém, nem nos pais, sequer neles mesmos. Foram treinados a não conversar com estranhos, a não fornecer dados pessoais, a não expor suas crenças. Não se arriscam com a seriedade que o idealismo pede. Serão inconsequentes, não corajosos.

Por favor, minha filha, não me escute, vá viver sua vida com vontade.



Publicado na minha coluna
"Primeiras Intenções"
Revista Crescer
São Paulo, P. 119, Número 201
Agosto de 2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

JÁ BROXOU?


O homem pode ser tão gentil que se desfaz na bebida para não culpar a mulher pela broxada. A mulher é tão educada que faz de conta que acredita.

Na adolescência, tinha a parceria de Ferrugem nas noitadas. Todo mundo teve um colega chamado Ferrugem. Ou um fedelho na escola chamado Alemão. É uma obrigação constitucional.

Ferrugem contrariava nossos amigos dizendo que não bebia para tornar qualquer mulher atraente, e sim para esquecer seu rosto e atrair as mulheres.

Admirava essa abnegação. Pena que Ferrugem terminava a noite abraçando a privada. De qualquer maneira, ele foi meu herói. Um herói de um final triste.

Talvez tenha vivido para contar sua história e me inventar nela. Já que bebia e me esquecia de tudo, não apenas do meu rosto.

É certo que, desde essa época, eu me preocupo em não usar pijama. Foi um juramento: a impotência viria com o uniforme noturno. Com aquele lençol listrado. Com aquela fronha de corpo.

Deu certo, nunca broxei, o que no fundo me assusta pensando nos debates familiares na boca da churrasqueira. Os tios avisavam: quanto mais cedo broxar, melhor. O homem somente é homem depois que murcha uma vez.

Não decodificava a mensagem – espécie de criptograma Desafio Cobrão. Como a catapora e a caxumba, será que acontece uma vez e não volta? Ou o marmanjo se acostuma com o fato?

Há teorias que não preciso viver para comprovar. Assim como não emprego hipoglós para assadura em minha bunda. Vá que o dedo deslize.

Evitei a contaminação cultural. E o contágio simbolizava botar pijama. Imaginava que o impotente se fardava de pijama azul bebê.

Na minha concepção, macho dependia da velocidade do zíper. Abusar de botões e boca de sino é se aposentar. O próximo passo é aceitar pantufas e transar de meias. O último ato é cantar Julio Iglesias de roupão branco.

Cuido para não ser devorado pelos caprichos.

É o mesmo que sonhar com uma orgia numa banheira de hidromassagem. É tentador, inclusive com as barras laterais para armar acrobacias. Mas não caía na miragem de motel. Relaxamos demais para endurecer. A água quente é LSD natural. A única coisa que levantará da superfície é a bolha de espuma.

Passei a dormir com roupas velhas. Abrigos puídos, cansados do futebol. Preservava as camisas novas e puxava aquelas recusadas do fundo da pilha no armário. Como preferida, escolhia a que recebi de uma campanha de vereador.

Temos somente camisetas de vereadores que nunca foram eleitos e que não votamos. E de três eleições atrás. E com o rosto impresso numa litografia tosca. E com um número derrotado que não serviria sequer para ganhar na loteria.

Realmente não broxava. Com a careta do eterno candidato no peito, quem broxava era minha namorada.

ESTAVA ESCRITO NA BÍBLIA


Rolo Compressor comemora a passagem do Inter para final da Libertadores e Mundial com uma mensagem de fé. Peço que nos acompanhem na reza de agradecimento. São Paulo, Segunda Carta a Timóteo, capítulo 4, versículos 7-8.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

ANDANÇAS EM AGOSTO


10/08 (terça), Curitiba (PR), 19h30
Projeto Autores e Ideias/Sesc
Debate "A narrativa breve na era do Twitter"
Com Marcelino Freire
Local: SESC Paço da Liberdade
(Praça Generoso Marques, 180 – Centro)
Tel.: (41) 3234-4200


11/08 (quarta), Londrina (PR), 19h30
Projeto Autores e Ideias/Sesc
Debate "A narrativa breve na era do Twitter"
Com Marcelino Freire
Local: SESC Londrina – Sala de Espetáculos
(Rua Fernando de Noronha, 264 – Centro)
Tel.: (43) 3378-7800


12/08 (quinta), Maringá (PR), 19h30
Projeto Autores e Ideias/Sesc
Debate "A narrativa breve na era do Twitter"
Com Marcelino Freire
Local: SESC Maringá
(Rua Lauro Eduardo Werneck, 531 – Zona 7)
Tel.: (44) 3262-3232


14/8 (sábado) - São Paulo (SP), 14h
Oficina de crônicas
b_arco
Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426
(11) 3081-6986
E-mail: contato@obarco.com.br


17/08 (terça) - Cascavel (PR), 19h30
Projeto Autores e Ideias/Sesc
Debate "A narrativa breve na era do Twitter"
Com Marcelino Freire
Local: SESC Cascavel – Sala de Eventos
(Rua Carlos de Carvalho, 3367 – Centro)
Tel.: (45) 3225-3828


18/08 (quarta), Pato Branco (PR), 20h
Projeto Autores e Ideias/Sesc
Debate "A narrativa breve na era do Twitter"
Com Marcelino Freire
Local: SESC Pato Branco - Auditório
(Av. Tupi, 405 – Bortot)
Tel.: (46) 3220-1750


19/8 (quinta) - São Paulo (SP), 19h
Bienal do Livro de São Paulo
Debate "Literatura em miniatura"
com Verônica Stigger e Marcelino Freire
Local: Pavilhão de Exposições do Anhembi
(Av. Olavo Fontoura, 1209)


23/08 (segunda) - Carlos Barbosa (RS), 9h
19ª Feira do Livro de Carlos Barbosa
Sou patrono dessa edição
Palestras em escolas na cidade


24/08 (terça) - Carlos Barbosa (RS), 14h e 19h
19ª Feira do Livro de Carlos Barbosa
Palestras
Colégio Santa Rosa
(Rua Assis Brasil, 76)


25/8 (quarta) - Curitiba (PR), 19h30
A Felicidade e a Poesia
Bate-papo com Márcia Tiburi
Projeto Cultural "A Felicidade"
Caixa Cultural Curitiba - Teatro
(Rua Conselheiro Laurindo, 280)
Tel.: (41) 2118-5114


26/8 (quinta) - Canela (RS), 19h30
Aula Inaugural da UCS
"A felicidade não consulta o dicionário"
Núcleo Universitário de Canela UCS
(Rua Rodolfo Schilieper, nº 222)
Tel.: (54) 3282-5213


28/8 (sábado) - São Paulo (SP), 14h
Oficina de crônicas
b_arco
Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426
E-mail: contato@obarco.com.br


30/8 (segunda) - Porto Alegre (RS), 10h30 e 18h
Debate e sarau com os alunos
Auditório
Colégio Estadual Professor Elmano Lauffer Leal
(Rua Tenente Ary Tarragô, 3345 - Bairro Jardim Planato)
Tel.: (51) 3344-4666


31/08 (terça) - Sertãozinho (SP), 18h
8ª Feira do Livro de Sertãozinho
Sou patrono dessa edição
Local: Praça 21 de abril

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

AMEAÇADOS DE EXTINÇÃO

Arte de Cínthya Verri


Em passeio ao zoológico com os filhos, quase choro diante do aviso de “extinção” nas placas explicativas sobre os bichinhos. Aquele é um dos únicos animais do mundo e está enjaulado — que sina.

Eu também enrubesço com o extermínio de várias espécies urbanas. O filador de cigarro, por exemplo. Já é complicado encontrar alguém com fogo, imagina pedir um cigarro emprestado. O filador é uma subcategoria do fumante. Como o primeiro é desagradável, o segundo é detestável. Sua existência está fadada ao fracasso.

Outra raça ameaçada é o caroneiro. Peguei excessivas caronas em final de festa na adolescência; era um profissional. No começo, esperava o convite que nunca vinha. Caminhava, lento e sozinho, pela rua escura, aguardando que uma alma generosa percebesse que não tinha carro. Até um flanelinha seria mais chamado do que eu.

Não funcionava a saída chapliniana. Desenrolava o mapa da cidade tão deprimido quanto qualquer assaltante que pudesse confiscar meus trocados. Mais próximo da concorrência da bandidagem do que do papel de vítima.

Tomei gosto pelo desespero e aprendi macetes do ofício. Perdi a vergonha. Avisava de cara a todos no início do encontro que o trânsito estava terrível e que ainda desci na parada errada. Pronto: sabiam que estava a pé. Na hora de perguntar o nome, aproveitava e perguntava onde a pessoa morava. Direto. Tive êxito na empreitada. Cogitei que seria uma vocação e poderia atravessar os continentes com o polegar deitado. Tanto que esqueci os nomes dos amigos, mas nunca seus endereços.

A tática surtiu efeito, mas não consegui manter o sangue-frio. Carregava um remorso misterioso, um mal-estar do abuso. Pensamentos terríveis e incessantes feriam o orgulho e me tiravam o sono. Fazer com que um colega alterasse o trajeto surgia como uma dívida impagável. Agradecia pedindo desculpa. Desejava me livrar do favor. Mal saíamos e dizia que ali estava bom. Sussurrava ao generoso motorista me largar em qualquer esquina. Para o caroneiro, estar perto de casa já é a própria casa.

Assim que tirei a carteira, troquei de figura, encarnei a função avarenta da história. Procurava fugir dos chatos sem veículo nas saídas dos bares e das baladas. Menosprezava o grau de amizade, achava um modo de sumir. Nem me despedia para não gerar propostas. É óbvio que fracassava e ficava irritado. Aparecia um pangaré bem quando voltava com uma garota e usaria o trajeto para convencê-la a ficar comigo. Frustrava meus planos. Não dava para seduzir e ser taxista ao mesmo tempo.

Ou, quando casadinho, gostaria de ir a um motel e traçar uma rota romântica inesperada. O amigo fingia não notar nada de estranho no ar e congelava a preliminar com sua direita e esquerda, direita e esquerda.

Praguejei os pedestres abusados por uma década, criei listas de abaixo-assinado contra suas insistências, invoquei meus direitos.

Minha vingança foi longe demais. Errei a medida. Observo com desalento o término do caroneiro. Dói uma saudade desse componente trágico e avulso da madrugada. Persiste em meu peito uma nostalgia infinita do banco de trás. Os carros estão cada vez menores. Com smart, só há dois lugares. É um reinado, com tronos exclusivos ao rei e rainha. Impossíveis a negociação, o fiado, a vassalagem. É uma avareza explícita.

Logo inventarão um veículo com um único assento, daí será mais fácil e honesto ir de bicicleta.





Crônica publicada no site Vida Breve

terça-feira, 3 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CRÔNICAS NA PAULICÉIA DESVAIRADA

Foto de Renata Stoduto

TANTA TERNURA
(Oficina de crônicas)

Fabricio Carpinejar

de 14 de agosto a 11 de dezembro
de sábados quinzenais
das 14h às 17h

b_arco
RUA DR. VIRGÍLIO DE CARVALHO PINTO, 426
SÃO PAULO - SP - (11) 3081-6986
E-mail: contato@obarco.com.br


A literatura dá tempo para que cada um se descubra. Dá ritmo para que cada um encontre sua voz dentro da letra. Dá força de vontade para que cada um siga a própria vocação.

O premiado autor apresenta suas teorias sobre o fazer literário, como o termo conficções (confissões inventadas), e estabelece uma possibilidade de acentuar a beleza da banalidade, musicar a conversa e pensar com ternura todo detalhe do cotidiano.

Se somos feitos de palavras, quais as palavras que escolhemos ser?


COMPETÊNCIAS
Capacidade para compreender, avaliar e produzir criticamente a natureza da crônica

CONHECIMENTOS
História comentada da crônica: diferenças entre crônica, artigo e conto. A despretensão e a espontaneidade. Simplicidade e surpresa. A leveza não é superficial. Manter o foco. A cozinha do trivial: o assunto é o estilo. Os três E da crônica: Estranheza, Exemplo, Emoção. O detalhe é Deus. Hesitações de uma conversa: a proximidade com o leitor. O ponto de vista minoritário. A importância da poesia na elaboração da atmosfera. O humor no gênero brasileiro: de Sérgio Porto a Luis Fernando Verissimo.

METODOLOGIAS
Exercícios criativos
Debate
Jogos de interação
Produção textual

Para todos os interessados.
Dias 14 e 28/8, 11 e 25/9, 2 e 23/10, 13 e 27/11 e 11/12
Carga horária: 27 horas


Faça sua inscrição aqui.

domingo, 1 de agosto de 2010

INTERIOR

Foto de Fabrício Carpinejar


Neste domingo, o Informe Especial convidou o poeta e cronista Fabrício Carpinejar para compartilhar com o leitor de ZH um registro feito por ele.

“Minha residência é estar de passagem. Se eu pudesse passaria a vida viajando pelo Rio Grande do Sul e nunca me cansaria. Meu passatempo é encontrar o pastel perfeito em nossas estradas. Não desisto. Tenho um caderninho com indicações dos restaurantes e cotações da massa e do recheio.

Nas andanças literárias pelo interior, só abasteço meu interior. Já encontrei de tudo: um bar com uma placa indicativa na porta: 'Não dê comida aos macacos nas árvores'. Fui espiar e eram macacos hidráulicos espalhados pelos galhos. Pode?

Sim, nossa imaginação é poética. A imagem ao lado vem de Catuípe, pequena cidade a 400 km de Porto Alegre. Dormi num hotelzinho honesto em cima de um posto de gasolina. Tentei dormir até que um trem me despertou de madrugada. E descobri que o sol era seu último vagão."

Publicado no jornal Zero Hora
Informe Especial, p. 3, Túlio Milman
Porto Alegre (RS), 1º/8/10, Edição N° 16414