Arte de Eduardo Nasi
Não fui idiota, fui leal.
Não fui burro, fui sincero.
Não fui inconsequente, fui esperançoso.
Não fui distraído, fui confiante.
Não fui cego, acreditei em seus olhos.
Amor é jamais anular a possibilidade do outro de errar. Mesmo que custe mágoa, dor, ódio.
É viver com a porta aberta em vez de chavear pelo medo de perder alguém.
É não se prevenir, não controlar, não ser mais inteligente do que os fatos, não se proteger com ameaças.
É se oferecer inteiro, podendo ser enganado a qualquer momento. É se doar inteiro, permitindo que nossa companhia demonstre, dia a dia, quem ela é.
Só se valoriza a escolha pelo tamanho da renúncia.
Só há intimidade com liberdade dentro.
Só o amor ingênuo é verdadeiro.
Não fechei as palavras, não envenenei seus hábitos, não conferi seus horários, não fiquei lhe vigiando, não censurei seus gestos, não vasculhei seu passado.
Eu lhe dei todo o meu espaço, e todas as chances para você fugir.
Eu lhe dei toda a minha honestidade, e todas as chances para você me roubar.
Eu lhe dei toda a minha fé, e todas as chances para você me enganar.
Eu lhe dei toda a minha admiração, e todas as chances para você me trair.
Eu lhe dei toda a minha verdade, e todas as chances para você mentir.
Eu lhe dei toda a minha fé, e todas as chances para você me profanar.
Eu lhe dei toda a minha infância, e todas as chances para você me debochar.
Eu lhe dei todo o meu corpo, e todas as chances para você me agredir.
Eu lhe dei toda a minha imaginação, e todas as chances para você sumir.
Eu lhe dei todas as chances do meu mundo para você não usar nenhuma delas e me merecer.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
18/03/2015