Arte de Umberto Boccioni
Eu sempre tive a noção de que odiava esperar.
Odiava atrasos dos outros.
Não suportava ficar no bar ou no café, sozinho, contando os minutos.
Experimentava um terrorismo psicológico: se não aparecer daqui a dez minutos, sumo, me mando do lugar.
Percebia todo atraso como um desprezo, uma falta de educação, uma arrogância.
Até que me dei conta que eu só não gostava de esperar de quem eu não gostava.
Básico assim. É uma indisposição que não nascia com o atraso, existia antes, desde quando marquei o encontro. Eu comparecia ao local absolutamente contrariado, ansioso para cancelar. O atraso era apenas uma desculpa, um pretexto para realizar minha vontade premeditada e desaparecer.
Não tenho problema em esperar quem eu gosto.
Quem eu amo posso esperar uma hora e não protesto. Sou capaz de esperar duas horas e perdoar. Sou um noivo feliz no altar do cotidiano.
Quem eu amo posso esperar o tempo que for e permanecerei no ambiente.
Vou me distrair vendo tevê, olhando o celular, fazendo perguntas ao garçom.
Só me irrito em aguardar aquelas pessoas que não tenho muita vontade de conversar. Daí sou intransigente, sou intolerante, sou nervoso, sou brabo.
Já com minha mulher ou com meus amigos, sou paciente e tranquilo. Sou zen. Sou budista. Sou da paz. Pode me dar qualquer desculpa pela demora que aceito. Pode mentir engarrafamento que aceito.
Com quem eu amo, espero até o dia seguinte. Faço sala, faço escritório, faço varanda, faço pátio, faço uma casa toda.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (30/9) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina: