QUANDO O NAMORADO É UM PARA-RAIOS
Arte de Fatturi
“Tenho um grupo de amigas e nos encontramos para falar mal dos maridos e namorados. Meu namorado gosta delas, já saímos juntos, mas elas não suportam a ideia: aqui menino não entra! Largo o grupo ou largo meu namorado no sofá junto com os outros maridos chatos? O que você acha? Obrigada! Franciele.”
Querida Franciele,
Você não deve levar seu namorado. É criar uma indisposição natural entre as amigas. A motivação do encontro é justamente criticar os relacionamentos com leveza e desembaraço.
Não é a primeira que enfrenta o dilema, os demais maridos e companheiros devem fazer pressão. Mas nenhuma abre mão dessa terapia da amizade. Nem caberia. É uma magia branca fundamental.
Tranquilizante saber que outros experimentam problemas iguais. Quando a dor perde a exclusividade, ela diminui de tamanho.
Temos que dissociar o círculo dos amigos do quadrado amoroso. Manter um pouco da vida de solteira para não se sentir asfixiada pelo namoro – são os amigos que nos amparam na separação e nos ajudam na reconciliação. Pense como seria desgastante se aparecesse para assistir qualquer jogo de futebol de seu namorado. Ficasse parada na arquibancada e depois seguisse para testemunhar as trovas do churrasco.
A situação também favorece um terror psicológico: não existe como ficar à vontade com ele presente. Se ele permanecer quieto, tentará incluí-lo na conversa Se estiver falando sem parar, temerá que ele possa desagradar.
Não é que deixou de pertencer ao grupo, está sendo desagradável impondo uma exceção.
No fundo, sabe o que acho? Não deseja falar de seu romance e expor seu início de relacionamento.
Como estava solteira, não tinha motivos para ser criticada. Agora, teme que alguém brinque com seu conto de fadas.
Ele é seu para-raios.
“Tenho 19 anos, namoro há quatro com um rapaz de 21 anos. Eu o amo muito, e o excesso atrapalha. O problema é que ele fez algumas coisas que me magoaram bastante. Não consigo esquecer. Três vezes me disse que estava interessado em outra pessoa. Isso me deixou muito insegura e bastante ciumenta. Enfim, fico remoendo, não confio mais! Um beijo, Eduarda”
Querida Eduarda,
Palavras de festim matam o relacionamento mais do que palavras de verdade.
São provocações à toa, bobinhas, desnecessárias, que ferem com violência porque ambos estão desatentos.
É uma brincadeira com a aparência, um comentário sobre o passado e feito o estrago.
O que parecia ser passageiro demora uma noite, dias, semanas, e nunca mais sai da alma.
Eu temo a discussão ridícula. É a que mais causa a mortandade do amor.
Ele confessou que estava interessado por outras, não que teve uma história.
Óbvio que era uma observação infantil para produzir ciúme. Nem sei se é real. Não precisava ter caído na armadilha, preocupou-se como se fosse uma ameaça.
Poderia brincar que estava atraída por outros sujeitos. E ele iria ruir, e desistir das chantagens para conseguir ainda mais carinho, compreensão e amor.
O que vem acontecendo com vocês é que não admitem a ideia de terem se apaixonado tão jovens. Entraram num jogo diabólico de maltrato.
Como não têm antecedentes de infidelidade, inventam situações, personagens e cenários para ver como reagiriam se isso acontecesse.
É um delírio a dois. Ele percebe que é ciumenta e larga mais corda para se enforcar. Você percebe que ele odeia pressão e intensifica a patrulha.
Não é salutar expor todos os pensamentos para seu par, muito menos cobrar que ele fale quando mergulha em silêncio.
Guarde algo para si. Selecione o que contar. Aceite que ele realize o mesmo.
Franqueza não é descarregar preguiçosamente a mente. É escolher o melhor a ser dito e a melhor hora de dizer.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 30/09/2012 Edição N° 17208
Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 30/09/2012 Edição N° 17208
Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.