Quando o filho é adolescente, podemos errar a medida de nossa atenção. Ou ser chato demais ou mergulhar na indiferença.
Eu jurava que estava respeitando meu filho. Deixava fazer suas coisas, enfronhar-se em seus jogos de computador, ter sua rotina de sonâmbulo pela casa.
Às vezes conversava amenidades de futebol, às vezes conferia se precisava de algo, mas sem nenhuma ênfase.
Ele se trancava no quarto ou permanecia horas em silêncio.
Considerava seus hábitos naturais. Não questionava suas atitudes, não debitava a irritação e a grosseria eventuais na lista negra do isolamento.
Eu me enxergava um pai descolado, moderno, compreensível.
Jantávamos olhando para os pratos, os abraços eram vesgos, perdoava o distanciamento, seguíamos a vida como se ela fosse automática.
Até que minha mulher me falou algo no ouvido que me tocou:
- Ele deixou de conviver, ele somente vem passando pela gente.
Aquilo me apertou o peito. E se ele estivesse precisando de minha ajuda? E se ele esperava o dia inteiro que puxasse assunto mais sério? Será que não deveria ter renunciado minha educação e meu trabalho e minhas urgências que no fundo nunca são urgentes?
Chamei meu adolescente para um papo a sós. Ele estranhou, porém aceitou.
Fazia tempo que não sentávamos frente a frente, na mesma altura das sobrancelhas.
Contei que procurava entender seu espaço e não incomodá-lo, mas que no fundo não aguentava de saudade. Era como se ele estivesse morando longe e fazendo intercâmbio.
Ele começou a respirar lento para não chorar.
Descobri que o filho achava que não dava mais bola para ele, que se sentia abandonado, que sempre me ocupava com outras prioridades.
Sofreu calado nos últimos cinco meses.
Ele estava sem amigos na escola, com dificuldades de pedir licença, já murmurava no lugar de falar. Já aparecia todo maniático, criava tocs e exigências (como fechar a janela do banheiro ou lavar de novo os talheres antes de usar) por viver demais em sua solidão.
Confundi respeito com desinteresse.
Mirei sua boca miúda, seus olhos aguados, sua tosse emocionada, e me despertou um desejo de pedir desculpa para os dois: para mim e para ele.
Como pai, tenho que intervir. Mesmo que erre a medida e seja chato.
Publicado na Revista Pais & Filhos
Ano 45, Janeiro 2014 Número 526