segunda-feira, 30 de abril de 2012

ALEGRIA DE MAIO

Foto de Cínthya Verri

3/5  (quinta-feira) – Porto Alegre (RS), 10h
7ª Feira de Oportunidades Senac
Local: ESPAÇO ARENA - Mercado Público - Centro de Porto Alegre

3/5  (quinta-feira) – Porto Alegre (RS), 19h
Palestra Senac
“Qual o seu projeto de vida?”
Local: Auditório do Colègio Julinho - Praça Piratini, 76/ térreo

4/5  (sexta-feira) – Fortaleza dos Valos (RS), 18h
Feira do Livro
Local: Salão Paroquial
contato: (55) 3322.7040

6/5  (domingo) – Foz do Iguaçu (PR), 16h
Salão Internacional do Livro de Foz do Iguaçu
Local: Praça das Nações (Mitre)
contato: erica_mass@hotmail.com
  
9/5  (quarta-feira) – Arroio do Sal (RS), 16h e 19h30
5ª Feira do Livro de Arroio do Sal
Local: Avenida Castro Alves - em frente ao Centro Cultural
contato: (51) 3626 9416 

15/5  (terça-feira) – Lavras do Sul (RS),  19h
10ª Feira do Livro de Lavras do Sul
Local: Ginásio da Escola Estadual Licínio Cardoso
contato: livrariasaopaulo@terra.com.br

 16/5 (quarta-feira) – Cachoeiro de Itapemirim (ES), 19h
Mesa: Música, Literatura e Sociedade com Tico Santa Cruz (RJ) e Fabrício Noronha (ES)
Local: Auditório Marco Antônio de Carvalho – Praça Jerônimo Monteiro
contato: vkrclio@gmail.com 

20/5  (domingo) – Belo Horizonte (MG), 15h
III Bienal do Livro de Minas
Café Literário
“Poesia não é um detalhe, mas o detalhe”, com Roberto Pompeu de Toledo
Local: Expominas - Avenida Amazonas, 6.030 - Bairro Gameleira
Contato: eventosparalelos@fagga.com.br 

23/5  (quarta-feira) – Sentinela do Sul (RS), 18h30
Seminário Regional de Educação – Ler e Escrever: Cultivando a Arte de Pensar
Local: Ginásio de Esportes do Parque de Eventos
contato: cleberbenvegnu@cleberbenvegnu.com.br

25/5  (sexta-feira) – Natal (RN)
Ação de Incentivo à Leitura dos Jovens Escribas
Palestra
contato: pittjr7@gmail.com

31/5  (quinta-feira) – Soledade (RS), manhã e noite
7ª Feira do Livro de Soledade

sexta-feira, 27 de abril de 2012

VERDE, QUASE MADURO

Hulk não seria Hulk se suas roupas fossem caras. Acompanhe entrevista que dei para TV PodLer, durante a Bienal do Livro de Brasília.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

MÁQUINA RECEBE CACÁ ROSSET

"O humor é a elegância do desespero" 

Hoje se faz graça com aquilo que não tem graça nenhuma. Veja meu encontro dionísico, tresloucado e imprevisível com Cacá Rosset, ator e diretor, dono de uma meticulosa ironia. O programa A Máquina foi exibido na noite de terça (24/4), na TV Gazeta.

 

terça-feira, 24 de abril de 2012

DORMINDO SEMPRE JUNTOS, NA MESMA HORA

Arte de Gustav Klimt

Quando sua companhia se levanta, rola para cheirar o travesseiro dela?

Você é apaixonado por dividir, desculpe informar. É constrangedor confessar a dependência, mas não resta alternativa. Nunca será mais sozinho. É uma simbiose amorosa por dentro das lembranças, dos hábitos, que surge no modo de repartir uma tangerina e pôr açúcar no café. Uma necessidade de primeiro servir para depois saciar as próprias ansiedades.

Entregou os pontos ao abandonar seu horário para dormir. Renunciou ao livre-arbítrio no momento de atender ao chamado sedutor de sua esposa.

– É tarde, te espero?

Aquela desistência foi fatal. Pode ter classificado o gesto como uma exceção, só que gostou de verdade, gostou imensamente de adormecer com sua mulher. Ambos apagando o abajur em igual instante, depois de ler, de rir, de brincar. Sincronizaram o relógio dos batimentos cardíacos e nunca houve mais atraso de beijo.

Amor eterno é quando um não consegue mais dormir sem o outro. Simples assim. Deseja descansar, e convoca sua mulher na sala.

– Vem, tá na hora!

E ela, que estava envolvida com um filme ou um programa de tevê, nem reclama, nem diz mais um minutinho, ajeita os ombros no cobertor do seu abraço e segue junto.

Lado a lado no espelho do banheiro, escovam os dentes, ajeitam o rosto, colocam roupas folgadas. Reina uma sincronia dos movimentos, uma disciplina na admiração. Alguns até confundem com tédio, porém é intimidade: não precisar falar para se entender. Se silêncio com ódio é submissão, silêncio com ternura é concordância.

Escoteiros do casamento, entram no mar branco dos lençóis cada um do seu lado: ela pela margem esquerda, ele pela margem direita. E centram os corpos para fazer conchinhas encostando as cabeças. Um casal apaixonado ocupa menos do que uma cama de solteiro: terminam agarrados, sobrepostos.

Você se dá conta de que não deita mais sozinho há décadas. É uma compulsão olfativa. Está no escritório trabalhando de madrugada, e ela abre a porta para convidá-lo:

– Vem, tá na hora!

E não estranha a ordem, obedece, sequer medita sobre o motivo da adesão. Vai, sem preguiça alguma, sem aviso de bocejo, ainda que não esteja com vontade, ainda que tenha uma porção de tarefas e problemas a resolver. Larga as urgências pela metade e se prontifica a acompanhá-la.

Casal quando se ama dorme na mesma hora. E não suportará morrer longe. O sonho é também morrer na mesma hora. Com as respirações próximas.



Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 24/04/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1749

HONESTIDADE DO DESEJO

Arte de Fernando Botero

Não há vítimas, não há coitados, não há azarados no jogo da sedução. E não venha me falar de alma para justificar a escolha dos feios: o corpo é que atrai, mesmo que seja absolutamente estranho e diferente.

Ouça meu comentário de terça (24/4) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:


sábado, 21 de abril de 2012

FINGIMENTO

Arte de Miró

Diário não é um túmulo. Literatura não é um cemitério.

Procure outro esconderijo, ou ressuscite com frequência.

Ouça meu comentário na manhã de sábado (21/4) na Rádio Gaúcha , programa Gaúcha Hoje, com Daniel Scola e Jocimar Farina:

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O SEGREDO DOS CACHORROS


Quanto pior o cachorro, mais nos apaixonamos. Quanto mais problemas, mais nos apegamos.

Ouça meu comentário da manhã de sexta (20/4) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

quarta-feira, 18 de abril de 2012

MÁQUINA RECEBE TADEU JUNGLE

"O roteiro é só uma guia para o improvável"

Entrevisto o diretor e roteirista Tadeu Jungle, no programa A Máquina, da TV Gazeta. Bate-papo sobrenatural sobre a imagem. A exibição aconteceu na noite de terça (17/4).

terça-feira, 17 de abril de 2012

O RISO É PERIGOSO

Arte de Mark Rothko

Clarice Lispector beliscava sua amiga Lygia Fagundes Telles quando entravam juntas num encontro literário:

– Não ri, vai! Séria, cara de viúva.

– Por quê? – perguntava Lygia.

– Para que valorizem o nosso trabalho.

Não há mesmo imagem de alguma risada da escritora Clarice Lispector. Em livros e revistas, a cena que persiste é seu olhar desafiador, emoldurado por um rosto anguloso, compenetrado e enigmático. Os lábios não se mexem, absolutamente contraídos, envelopes fechados para a posteridade.

Lispector não mostrava suas obturações, sua arcada para ninguém. Não se permitia gargalhadas para não parecer mulher superficial e leviana.

Ela percebeu que existe um imenso preconceito contra a alegria. Os críticos não a levariam a sério, dizendo que ela não era densa, não inspirava profundidade; acabariam por sobrepor a aparência faceira aos questionamentos metafísicos de sua obra.

Seu medo não era bobo. O riso permanece perigoso. Todos temem os contentes. Falam mal dos contentes.

O riso gera inveja, ciúme, intriga: “Por que está feliz, e eu não?”.

A alegria é malvista em casa e no trabalho, sempre intrusa, sempre suspeita equivocada de uma ironia ou de um sentimento de superioridade.

Ainda acreditamos que profissionalismo é feição fechada, casmurra. Ainda deduzimos que competência é baixar a cabeça e não entregar nossas emoções.

Quanto mais triste, mais confiável. Quanto mais calado, mais concentrado. O que é um tremendo engano.

A criatividade chama a brincadeira, assim como a risada renova a disposição.

Se um funcionário ri no ambiente profissional, o chefe deduz que ele está vadiando, sem nada para fazer. Poderá receber reprimenda pública e o dobro de tarefas. Quem diz que ele não está somente satisfeito com os resultados?

Se sua companhia ri durante a transa, você conclui que está debochando do seu desempenho. Quem diz que não é o contrário, que ela não festeja o próprio prazer?

Se a criança ri no meio da aula, o professor compreende como provocação e pede para que cale a boca. Quem diz que ela não está comemorando algum aprendizado tardio?

Se o filho ri quando os pais descrevem dificuldades profissionais, a atitude é reduzida a um grave desrespeito. Quem diz que ele não achou graça do tom repetitivo das histórias?

Se a esposa ou marido ri e suspira à toa, já tememos infidelidade.

O riso é escravo dos costumes, sinônimo de futilidade e distração quando deveria ser visto como sinal de maturidade e envolvimento afetivo.

Não reagimos bem à felicidade do outro simplesmente porque ela ameaça nossa tristeza.



Publicado no jornal Zero Hora

Coluna semanal, p. 17/04/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1742

A PERFEIÇÃO É BURRICE


"A esposa é minha revolução digital. É meu Steve Jobs. É meu Bill Gates. É meu Instagram.

Quer um melhor motivo do que mudar por amor? Mudar por mulher? Vai mudar por quem, então? "

Ouça meu comentário na manhã de terça (17/4) na Rádio Gaúcha, dentro do programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel scola:

sexta-feira, 13 de abril de 2012

SAPATOS, SAPATOS, SAPATOS!


Nos preparativos para o casamento, a principal preocupação da mulher não é o vestido de noiva, mas o sapato. Mesmo que fique por debaixo da longa cauda branca.

O sapato não é uma mania feminina, é uma vocação. Ela escolhe suas roupas e seu marido a partir dos pés.

Ouça meu comentário da manhã de sexta (13/4) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

quarta-feira, 11 de abril de 2012

MÁQUINA RECEBE SONINHA

"Maior declaração de amor é contar algo que nem você sabia"

Entre folheadas de revista Caras e revisão de relacionamentos, Soninha não esconde nada da Máquina, meu programa de entrevista na TV Gazeta. Confira entrevista que aconteceu na noite de terça (10/4). Na abertura, interpreto minha crônica "Pode me chamar de gay".

OH VIDA OH AZAR

Em “Formas do Nada”, Paulo Henriques Britto oferece mais um capítulo de sua poesia cética

Carioca que completou 60 anos no dia 12 de dezembro de 2011, Paulo Henriques Britto venceu o Prêmio Portugal Telecom de 2004 com o livro de poemas “Macau”. Além de poeta, é um dos principais tradutores do país. Em seu currículo, estão obras de autores como William Faulkner, John Updike, Philip Roth, Don DeLillo, Thomas Pynchon, V. S. Naipaul e Elizabeth Bishop

Poeta não possui estilo, mas temperamento. É um modo de pensar característico, um sistema emocional, que faz com que o leitor identifique, de cara, quem está falando.

Manuel Bandeira tem aquela alegria triste. Um soluço sem lágrimas, disfarçado.

Carlos Drummond de Andrade imprime um olhar oblíquo, esquivo, de quem não se entrega inteiramente nem ao sonho muito menos à realidade.

Cecília Meireles prima pela altivez apaixonada, ainda que meditando sobre perdas e dores.

João Cabral é o orador pessimista, negando crenças e conceitos.

Murilo Mendes cumpre transcendência, suas metáforas são alucinadas e messiânicas.

Jorge de Lima segue uma sina barroca, serve a dois senhores simultaneamente e sobra guarnição aos anjos e demônios.

Mario Quintana é o debochado, de bondade acanalhada, disposto a provocar comédia no meio do drama.

Vinicius de Moraes vivia de suspiros, nostálgico de um passado sensual – parecia fumar as reticências.

Ferreira Gullar é paciente e pictórico, dono de síntese vingativa, destilada após longo ódio ou amor.

Manoel de Barros é uma criança a desmontar palavras e experimentar molecagens com a sintaxe.

Poeta é um sujeito real, que tosse, escarra, beija. Formamos sua identidade a partir de uma sequência de obras. É alguém que puxaremos o braço para conversar, tamanha autenticidade de suas confissões.

Demora, portanto, a se constituir o caráter autoral. O DNA. A linguagem inconfundível de um estro.

O momento definidor ocorre pela repetição das obsessões. Quando se repetir, na verdade, é se consolidar. Qualquer próximo passo inédito tem o charme de antologia. Todo volume surge como um capítulo adicional a uma única e indivisível odisseia.

O carioca Paulo Henriques Britto, 60 anos, acaba de atingir à maturidade. Em Formas do Nada, lançamento da Companhia das Letras, traz o mesmo do melhor de si.

Um grande volume que não oferece nenhuma perspectiva nova no entendimento de sua pena. É uma continuação harmoniosa de seus livros anteriores “Liturgia da matéria” (1982), “Mínima Lírica” (1989), “Trovar Claro” (1997), “Macau” (2003) e “Tarde” (2007).

Diria que ele já se perpetuou, não tem mais como renunciar o caráter e voltar atrás. O leitor que o conhece não irá se decepcionar.

O tradutor e vencedor do Portugal Telecom de 2004 estabelece no cenário das letras o tipo ranzinza, niilista, objetivo, que avisa, desde o princípio, que todo esforço é inútil e tudo dará errado.

Edificou mais um personagem para a galeria de poetas brasileiros: o mal-humorado. A cada nova página, escuta-se por dentro do pensamento a hiena Hardy: “Oh vida! Oh azar!” .

No poema Madrigal, sugere:

“Desista, que a vida é incerta.
Ou insista. Dá no mesmo.”

Antes, em Oficina, indicava:

“Tudo se perde, nada se aproveita.”

Já em Biographia Literaria expõe:

“Acrescentar ao mundo um morto a mais 
é só o que a vida garante.”

Três Peças Dispépticas sentencia:

“Não peça desculpas:
não adianta nada.”

Quatro Bagatelas adverte:

“Todas as soluções são boas,
menos a que você escolher.”

Seus versos orbitam por uma atmosfera burocrática, em que não há mais diferença entre agir e pensar. Não adianta gritar, tampouco sussurrar. Demonstra parentesco lírico com o paulista José Paulo Paes, em função da autocrítica impiedosa e do prazer em desenvolver odes mínimas.


É um timbre inteligente, sagaz, que às vezes escreve em inglês, e que projeta os olhos aos objetos da rotina e ao cotidiano puramente físico. Não recorre a um acento afetado, sua poesia partilha da claridade ostensiva da prosa: comunicativa, coerente, legível. A dialética é o motor para localizar os engodos da aparência. Os títulos homenageiam arcaísmos e referências literárias – a falsa erudição aumenta a ironia.

Paulo Henriques Britto trabalha com o tédio, onde o descanso é também uma obrigação e prossegue o consumismo.

O desencanto não é recente no autor. Vem desde sempre em sua trajetória. Trovar Claro entrega a riqueza de sua operação intelectual:

“O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.”

Como a vida não tem sentido mesmo, precisamos continuar vivendo. É um raciocínio sábio.

Deveríamos cortar os pulsos, porém o suicídio causa muita sujeira, então não vamos mais nos preocupar com isso.

Publicado no jornal Zero Hora
Segundo Caderno, ps. 4 e 5 11/04/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1736

terça-feira, 10 de abril de 2012

TODO CASADO POR MUITO TEMPO É TARADO

Arte de Egon Schiele

Quando alguém confessa que está casado há 30 anos, ataco:

– Tarado!

Ele tenta se explicar, logo repito:

– Tarado!

Ele gagueja, e gesticulo com o dedo:

– Tarado!

Ficar com a mesma mulher todo dia é obra de maníaco sexual. Não tem o que acrescentar. É safadeza em demasia. Sério, sem brincadeira, o homem casado é um pervertido. Deveria ser preso por atentado ao pudor. Não poderia sair por aí espalhando o exemplo.

Há a crença equivocada de que o solteiro dispõe de um harém, que pode sair livremente e aproveitar sua sexualidade sem dar satisfação. Que nada. O solteiro não larga a primeira marcha – ao engatar a terceira e correr um pouquinho, já troca de caso e necessita conhecer o percurso inteiro de novo.

O casamento é a porta dos sentidos, a autêntica libertinagem, o elo perdido do Marquês de Sade.

Sabe mais sobre sexo quem transa com a mesma mulher durante décadas do que aquele que tem uma diferente a cada manhã. É como jogador de futebol, que atua muito melhor com a sequência de partidas.

Mulher não é diversidade, é permanência. Ela se solta ao longo da convivência, impõe seu ritmo lentamente, até formar um estilo para se vestir e outro para se despir.

Depende de tempo para expor suas fantasias. Afortunado é o que não se separa antes dos cinco anos.

Com a intimidade, sua companhia realiza acrobacias inacreditáveis, transforma as janelas em trapézios; os trapézios, em escadas de incêndio.

Uma mulher devota é capaz das maiores obscenidades. Porque o amor tira a culpa, o amor elimina o preconceito, o amor não sofre de nojo.

Uma mulher devota enlouquece o marido. Cria suspense na hora certa, desarma o ciúme no último minuto. Tem informações privilegiadas sobre a vítima: conhece seus pontos fracos, o lugar do arrepio atrás do ouvido, onde tocar para acelerar ou retardar o prazer, o que falar para enervar o silêncio.

Uma mulher devota é irresistível, rodará a casa por um afago, estará reaproveitando os suspiros do dia nos gemidos de noite.

Uma mulher devota desfruta de segurança no relacionamento para correr riscos no quarto.

Vá se acostumando com a ideia: sua esposa humilha qualquer profissional, pois entra na cama para ganhar, não joga amistoso, não faz cera, não tem interesse a não ser o próprio orgasmo.

Sua esposa que é pornográfica. Ela dedicará absoluta atenção na transa, a atenção cristalina que vem da carência. Nada passará em branco, nada será esquecido.

As insanidades indescritíveis são experimentadas no matrimônio. Os casados são bando de loucos, irresponsáveis.

O altar perdoa a cama.



Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 10/04/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1735

HOMEM DE FAMÍLIA

Arte de Paul Klee

Se finge que não escutou a mulher, faz mercado conferindo listinha de itens, não dorme sem meia, tem uma caneca personalizada, uma poltrona especial na sala e já arrebentou a tampinha do controle remoto, você se tornou um Paizão, o típico homem de família.

Ouça meu comentário na manhã de terça (10/4) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

sábado, 7 de abril de 2012

QUANDO SUA MULHER EXPLICA O ÓBVIO


O amor ensina o óbvio. O ridículo.

Só sua mulher pode ensinar aquilo que deveria ter aprendido antes e que tem vergonha de confessar que ainda não sabe. Pode ser qualquer atividade banal, usar o abridor de latas ou andar de bicicleta, amarrar cadarços ou soltar pandorga, fazer pipoca na panela ou embaralhar cartas, criar fogo entre duas pedras ou ligar a máquina de lavar.

O amor é uma segunda infância, a repescagem das descobertas.

Ouça meu comentário de sábado (7/4) na Rádio Gaúcha, dentro do programa Gaúcha Hoje, apresentado por Daniel Scola e Jocimar Farina:

sexta-feira, 6 de abril de 2012

DO SEU JEITO

Arte de Maurice Denis

O homem vai lavar a louça de casa. De tanto que a esposa reclama que ele não ajuda e não se importa com a família.

O sujeito passa uma hora ensaboando os pratos e colocando no escorredor. Sofrendo um medo danado de lascar o conjunto, presente de casamento da sogra.

Quando ele larga o avental, a esposa aparece e diz:

- Estão sujos ainda. Terei que lavar de novo.

No dia seguinte, não satisfeita com a reprimenda, ela ainda comenta no café da manhã:

- Você gastou todo o meu detergente.

Quando seu parceiro atende finalmente seu chamado, em vez de animá-lo a continuar, você o castiga, você o humilha, você o constrange.

Talvez não seja falta de vontade do homem em colaborar com as tarefas domésticas, é a mulher que não suporta o jeito como ele faz.

A mulher tem dificuldade porque as coisas não serão feitas como ela costuma arrumar. É óbvio que não. É certo que ele não chegará nem perto do capricho dela.

Mas ele fez, ele tentou, e já é um começo.

Como é desagradável ouvir:

- Você não sabe fazer. Deixa que eu faço.

“Deixa que eu faço” é o equivalente a concluir “Você não serve para nada”.

Seu marido não irá se recandidatar, tire o cavalinho da chuva.

É preciso entender que o homem terá que cozinhar mal para cozinhar bem, terá que varrer pelo centro até localizar as sujeiras dos cantos, terá que estender torto as roupas para encontrar a manha dos prendedores.

Mas a mulher quer que ele acerte de primeira, sem erro. Não pode. Não é justo.

A esposa pretende que ele colabore, mas não quer perder tempo ensinando.

A mulher deve ajudar o homem a ajudá-la.

Homem é como cachorro. Dê um biscoito quando ele acerta.

Acompanhe meu comentário na manhã de sexta (6/4) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

quinta-feira, 5 de abril de 2012

MÁQUINA RECEBE THUNDERBIRD

"Não existe fundo do poço, sempre há uma pá imaginária para cavar mais"

A Máquina, meu programa na TV Gazeta, capturou o apresentador e músico Thunderbird, dentista de ofício e doido por natureza.

Papo elétrico, sem firulas, amizade de meninos no recreio. A exibição foi na noite de terça (3/4).

terça-feira, 3 de abril de 2012

TRABALHO DE PARTO

Arte de Akira Kurosawa

Jussara deixou para definir o nome de sua filha na última hora, curtia a dúvida, sondava numerologias. Apostou na inseminação artificial para não sofrer com dilemas existenciais com nenhum homem. Temia que fosse subornada por chocolate nos instantes derradeiros e aceitasse batizar seu bebê de Frisson, a Mulher Melão.

Era influenciável demais para dividir a vida com um marido. Aceitaria qualquer sugestão como ordem. Não aprendeu a dizer não, tomada de arrebatamentos generosos que lhe colocavam em maus lençóis. Não podia ter um estagiário, que já cumpria o trabalho de banco para ele. Não podia ter uma empregada, que já cozinhava para ela. Não podia chamar uma pizza, que convidava o entregador a comer junto. A culpa crescia e dividia os méritos e renunciava à autoria do sucesso. Jussara evitava a convivência para não ser corinho, rejeitava o amor para não ser escrava do sexo e da gentileza. A gravidez não foi bem coragem, mas cobrança da mãe por um neto. Atendeu ao pedido para dispensar explicações em toda visita.

A gestação seguiu tranquila, até o dia D. Rompeu a bolsa e ela se desesperou. Não havia ajuda para montar a mala e partir para o hospital. Não havia amparo para superar os cinco andares de seu prédio. Não havia sequer um nome para a filha (não bateu o martelo de tanto que saboreava o índice onomástico do Guinness Book).

Fazendo respiração meio latido meio miado, ela tentou ligar para a mãe, que não atendeu. Tentou também o táxi, só ocupado. Ainda por cima chovia. Despencou escada abaixo. Já na rua, ensopada, ninguém parava diante de seu sinal educado e tímido. A sorte é que uma jovem passou pela gestante e se preocupou com os gemidos. Não titubeou, colocou Jussara no banco traseiro do Palio e correu ao Mãe de Deus. A nissei dirigia com astúcia, ziguezagueando a Ipiranga, atalhando pelo corredor do ônibus.

– Calma, estamos chegando – acalmava a voluntária, com forte sotaque oriental.

Jussara desceu a salvo na entrada do hospital. Posta numa maca, reuniu ânimo para segurar o braço da salvadora e sussurrar:

– Gostaria de agradecer o gesto dando seu nome a minha filha. Como se chama?
– Sou Suashará – ela respondeu.
– O quê?
– Suashará – ela repetiu.

Jussara se arrependeu da promessa, sua filha receberia um nome incompreensível aos ouvidos ocidentais, mas tinha palavra, não iria quebrar a homenagem.

Pena que, no calor do momento, não prestou atenção no que realmente falou a estranha:

– Sou sua xará.




Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 03/04/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1728

VOCÊ É UM WORKAHOLIC?

Arte de Arshile Gorky

Eu baixei o aplicativo "me engana que eu gosto". É quando busco me convencer de que não sou viciado no trabalho.

Sinais de que você passou da conta:

- Quando avisa que "vai adiantar trabalho". Decide resolver com antecedência os compromissos para garantir o descanso depois. O que acontece? Mergulha no computador escrevendo sem olhar para os lados. No dia de folga, tem idêntica carga de tarefas esperando solução. Não adiantou nada, trabalhou um dia a mais.

- Quando explica que irá apenas conferir os emails: significa que você será sugado pela caixa de correspondência. Um e-mail não é uma carta, é uma rede de contatos, de compromissos, de links. Email é seqüestro - tem gente que não volta mais. Tudo o que você responde hoje retorna em segundos. Dez emails respondidos serão vinte emails a responder. Cuidado ao replicar rápido, o destinatário percebe que você é John Wayne e transforma suas mensagens em MSN.

- Quando não telefona mais para os amigos, pensando que eles entendem a falta de tempo. É um engano: amizades não suportam migalhas.

- Quando leva o celular para o banheiro.

- Quando sua mãe não liga mais para você. Mãe desistindo de procurar é caso grave.

- Quando reprime as idas ao banheiro.

- Quando começa a competir com sinaleiras.

- Quando briga com garçons e caixas de supermercado.

- Quando adoece somente nos feriados e nos finais de semana, para não atrapalhar o ritmo do serviço.

- Quando esquece de almoçar e apenas lembra disso de noite.

- Quando se irrita com os velhinhos caminhando nas calçadas ou se enerva com motoristas mais lentos.

- Quando descobre que o filho já sabe falsificar sua assinatura.

- Quando diz para sua mulher: "Hoje não, estou com dor de cabeça". Daí é o fim. Você trabalhou tanto que simplesmente não existe mais. Falta de sexo é o fim da vida privada.

Ouça meu comentário de terça (3/4) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

segunda-feira, 2 de abril de 2012

FOLHA ELOGIA A MÁQUINA

Atrações tropeçam em "brodagem corporativa"

Entrevistas "chapa-branca" atrapalham programas; Gentili e Carpinejar têm o mérito de buscar oxigenação do formato

MAURICIO STYCER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Formato dos mais simpáticos, o talk show conquistou novos espaços na TV aberta brasileira em 2012. O publicitário Roberto Justus, na Record, e o poeta Fabrício Carpinejar, na Gazeta, estrearam programas. Jô Soares repaginou o seu, na Globo, e Danilo Gentili ganha agora em abril um quarto dia na semana na grade da Band.

Essa movimentação indica a existência de público e interesse comercial pelo bate-papo de fim de noite. Os problemas são a falta de imaginação geral e o engessamento do formato ao modelo de "brodagem corporativa".

O cardápio de entrevistados desta semana dá uma ideia do problema. Jô recebeu o ator Domingos Montagner, contratado da Globo. Falaram de "Cordel Encantado", novela que ele fez em 2011, e de "Brado Retumbante", série que protagonizou no início deste ano.

Como de praxe, Montagner fez propaganda da peça que mantém em cartaz e, em seguida, respondeu a uma série de perguntas desconexas, que Jô pareceu ler sem maior interesse: "Você gosta de desenhar também?"; "Como é aquela história no aeroporto?"; "Você trabalhou com o seu pai?"; "Qual é a sua ligação com lasanha?"

Danilo Gentili, no "Agora É Tarde", alimenta o sonho de ser uma alternativa no mercado. Suas entrevistas transmitem, de fato, um frescor maior, mas não raro elas esbarram no mesmo problema de Jô Soares -as conversas com figuras "da casa", sem muito o que dizer.

Nesta semana, Gentili entrevistou Sabrina Sato, estrela do "Pânico", que estreia na Band hoje.

Maroto, o apresentador tentou levar a conversa para um lado cômico, mas a certa altura ela o lembrou: "Vamos falar mais do 'Pânico' porque eu vim aqui pra isso".

Justus inovou, negativamente, diga-se, com um talk show temático. Uma vez por semana, recebe três ou quatro convidados para falar de um mesmo assunto. Mais engessado impossível.

Para piorar, o "Roberto Justus +" também não escapa da "brodagem corporativa". Nesta semana, para discutir "o universo feminino", o publicitário contou com Ana Paula Padrão, estrela da emissora em que o programa é exibido.


Carpinejar lidera "A Máquina", um projeto menos convencional do que os demais, no qual entrevista um único convidado, ao longo de 30 minutos, uma vez por semana. O programa tem mais semelhanças com o dominical "De Frente com Gabi", do SBT, do que com os talk shows citados aqui.

Meio personagem, meio entrevistador, o poeta enfrentou Tom Zé na estreia, no que resultou num dos encontros mais surreais da televisão em 2012. Uma semana depois, entrevistou o músico China, que encerrou assim sua participação: "Aqui jaz um programa ótimo de que eu participei". Tomara que prossiga.

MAURICIO STRYCER é crítico do portal UOL

NA TV
Programa do Jô
QUANDO de seg. a sáb., por volta da 1h, na Globo
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO regular

NA TV
Agora é Tarde
QUANDO ter., qua. e qui., às 23h45, na Band
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom

NA TV
Roberto Justus +
QUANDO seg., à meia-noite, na Record
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO ruim

NA TV
A Máquina
QUANDO ter., às 23h30, na Gazeta
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom


Publicado no jornal Folha de São Paulo
Caderno Ilustrada
Domingo, 01 de abril de 2012