É complicado adivinhar o que uma mulher deseja no homem.
Deseja que seja sensível, mas não demais.
Deseja que seja determinado, mas não grosseiro.
Deseja que se vista bem, mas que não dispute beleza.
Deseja que seja interessado, mas não obcecado.
Deseja que seja sensual, mas não bagaceiro.
Deseja que seja preocupado, mas não ciumento.
Deseja que seja compreensivo, mas não tolerante.
Deseja que seja apaixonado, mas não grudento.
Deseja que tenha amigos, mas não álibis.
Deseja que seja independente, mas não indiferente.
Deseja que seja afetuoso, mas não invasivo.
Deseja que seja dedicado, mas não bajulador.
Deseja que seja persistente, mas não chato.
Deseja que seja irônico, mas não sarcástico.
Deseja que seja crítico, mas não lamurioso.
Deseja que seja surpreendente, mas não volúvel.
Deseja que seja misterioso, mas não volúvel.
Deseja que seja compreensivo, mas não condescendente.
Deseja que seja conselheiro, mas não moralista.
Deseja que seja educado, mas não afetado.
Deseja que seja familiar, mas não acomodado.
Deseja que seja simples, mas não superficial.
Deseja que seja ousado, mas não inconsequente.
Deseja que seja culto, mas não arrogante.
Acabo por concluir que toda mulher anseia por um homem de dupla personalidade.
E a personalidade tem que vir na hora certa, e do lado certo, senão é caso psiquiátrico.
Minha namorada gosta que lhe defenda da injustiça, mas que não me defenda dela.
A raiva deve ser externa, brigando com o mundo, não me apartando do seu universo.
Ele pretende enxergar em mim a masculinidade da fala e a fragilidade do ouvido.
E não posso ser o mesmo para os outros e para ela. Tenho que mostrar uma diferença, uma mudança, um lado b, uma reserva imaginária, uma caligrafia secreta.
Mulher procura no fundo a exclusividade. Uma parte somente sua. Um homem que somente ela conheça.
Posso esbravejar e desaforar fora, desde que seja capaz de chorar com ela. Que lute por nossas fraquezas, mas que seja compreensivo com seus erros. Que não desista de me destacar, mas que sempre possa inclui-la. Que tenha o pulso para protegê-la e ser decidido, mas que não atropele ou imponha minha vontade. Que seja intuitivo no sexo, gentil depois dele.
O homem só não pode ser o exagero de si.
São Paulo, março de 2013, p. 76, Edição Nº 698