segunda-feira, 30 de novembro de 2015

ENQUANTO OS FILHOS NÃO TEM VIDA PRÓPRIA

Arte de Roberto Matta

Aproveite a infância de seus filhos. Aproveite enquanto são pequenos. Não deixe o trabalho ou os amores tomaram todo o seu tempo. Brinque muito com eles porque não será brincadeira depois. Não adie o final de semana que é reservado para eles. Não falte ao almoço ou a janta que combinou. Não cancele o cinema ou a praça ou a piscina confiando que poderá recuperar mais adiante. Não faça corpo mole. Não dê desculpas. 

Quando eles ficarem adolescentes, você não encontrará a mesma facilidade. Não existirá mais um mês consecutivo de praia - pois não vão querer viajar em função de um passeio com os amigos. Não existirá aquele sábado ou domingo que planejou sair - pois terão uma festa imperdível da escola. Não servirá para nada aquela folga que tirou para curti-los - pois já começaram a namorar e passarão a tarde inteira na casa dos sogros. Você receberá não e não e não já que eles estarão ocupados com as próprias turmas. 

Antes estar com eles era automático, contínuo, não podiam escolher, agora não, agora precisará se contentar com as migalhas dos compromissos de suas crianças crescidas. 

Se foi um pai presente, a adolescência dos filhos será saudade. Se foi um pai ausente, a adolescência dos filhos será ressentimento. 

Ouça meu comentário na Itapema FM RS, na tarde dessa segunda-feira (30/11), às 13h, apresentação de Denise Cruz:

domingo, 29 de novembro de 2015

FIADOR DA DESGRAÇA



O que eu já vi de pessoas que não amam mais acabarem se envolvendo em projetos duradouros como casamento e filhos. Ensaiam o discurso do fim e alteram bruscamente a rota quando confrontados.

Em vez de recuar, apressam os passos. Em vez de soltar as amarras de uma relação problemática, apertam os laços. Em vez de sair, entram ainda mais dentro de casa. Em vez de dizer a verdade, prestam declarações eternas. Em vez de quitar os juros emocionais, realizam mais dívidas.

Estão a um triz da separação e compram anéis de noivado ou marcam igreja ou decidem ter uma criança.

Confundem a porta de saída com a de entrada, e se lançam com unhas e dentes para uma última e redentora chance, que não mudará em nada o desgaste de um longo isolamento a dois.

A boca desmente o desejo e complica o desenlace. A palavra expressa exatamente o inverso das verdadeiras intenções. Se era difícil largar, será impossível a partir de agora.

Sempre me chamou atenção o quanto existem casais caminhando ao contrário de suas decisões. Talvez por culpa. Talvez pela vergonha da solidão. Talvez pela ilusão de se ver mais responsável pela felicidade do outro do que pela própria felicidade. Talvez por comodismo. Talvez para evitar a decepção de quebrar uma promessa. Talvez pela necessidade de ser melhor do que realmente é. Talvez por não admitir que fracassou. Talvez por faltar forças para recomeçar. Talvez por entender o tempo como investimento e achar que se dedicou excessivamente para jogar tudo fora. Talvez por supor que o ruim é, ao menos, conhecido.

Qualquer que seja o motivo, o melindre de decepcionar e desagradar impulsiona os maiores erros. O receio é de quê? Que no fundo ela ou ele fale mal de você? Mas não tem como controlar os pensamentos alheios nem dentro da convivência, muito menos fora.

Trata-se de uma atitude fóbica, parecida com a vertigem: é tanto o medo de cair que a vontade é cair mesmo para terminar logo com o medo.

Você percebe o esgotamento da rotina e assume pendências para os próximos cinco anos. Pretende ir embora e começa uma reforma sem precedentes. Pretende ir embora e adquire um cachorro. Pretende ir embora e interrompe o anticoncepcional.

Não há limites para o boicote. Você se afoga nas lágrimas e nada em direção a uma dor maior. Você tenta disfarçar o que sente fazendo o oposto, e aumenta as expectativas e engrossa as mentiras.

Na vida amorosa, o “não” vive se escondendo perigosamente no “sim”. Até terminar do pior jeito, deixando alguém plantado no altar ou com uma criança no colo.


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.56
Porto Alegre (RS),  29/11/2015 Edição N°18370

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

DESGOVERNADO

Arte de Joan Erbe

Meu amigo foi convidado para uma festa traje esporte. Por pouco, ele não despontou fardado para jogar futebol com os amigos. Apareceu de bermuda e camiseta polo. Diante dos outros homens com blazer e casaco, a impressão é que estava num baile de carnaval. Faltava apenas o colar de flores do Havaí. Não tinha como recuar e voltar atrás. O azar é que vivia uma fase solteira e não compareceu acompanhado de nenhuma mulher para evitar a gafe. A mulher é o anti-vírus dos vexames masculinos.

Levou a recomendação do convite ao pé da letra. Pé descalço da letra. Se fosse traje passeio, ele iria como se estivesse passeando: de calça jeans e tênis, condenado a suportar os colegas de terno escuro e gravata. Se fosse passeio completo, não duvido que surgiria de novo com jeans e tênis, acrescido agora de uma mochila. Um quero-quero em meio aos pinguins de smoking e gravata borboleta. Passeio completo para o homem é dormir fora de casa. Fora da casinha, na verdade.

Ouça meu comentário na manhã desta sexta-feira (27/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:


terça-feira, 24 de novembro de 2015

O OLHO GRANDE



A gula estraga o almoço e a janta. Transforma o que era bom em ruim, a comida sonhada em pesadelo, a paixão dos sabores em escravidão digestiva.

Estamos satisfeitos, comemos bem, mas o olho grande não abandona o prato. Mas o olho grande vai dizendo sim para mais uma porção. Mas o olho grande jura que é o fim do mundo. Mas o olho grande é um cachorro brigando pelo osso. Mas o olho grande continua repetindo. Mas o olho grande avança nas bandejas para não sobrar para ninguém. Mas o olho grande é egoísta e já trata qualquer familiar ou amigo como adversário. Mas o olho grande não come o necessário, come três vezes o necessário, ele nos faz acreditar que não teremos uma nova chance daquele banquete e que precisamos aproveitar.

O olho grande é um pobre dentro de nossos pensamentos, um chinelão, um mendigo, um vândalo, um ladrão.

Eu me sentia feliz até aquela garfada, em seguida ficarei triste, bovino e pesado.

Experimento um porre a seco, um porre alimentar, atravessei o meu limite, a ressaca é inevitável.

Por que me saboto? Custava parar um pouquinho antes. Sei o momento de desistir, é quando não baixei ainda a cabeça, é quando ainda converso, é quando ainda me mantenho sociável e amável. Em minutos, mudarei a minha personalidade. O doce virará veneno. É empunhar novamente a faca e corto também a fruição, forçando a boca a acompanhar a mente insaciável.

Serei agressivo, antissocial, depressivo, suicida. Não suporto nem mais encarar as pessoas na minha frente. Quase grito: “Vão embora, me deixem em paz!”.

Não aprendo com a reincidência. Ainda mais quando reencontro pela frente as minhas favoritas iguarias lasanha, pizza e massa quatro queijos.

Na semana passada, voltei a um dos meus restaurantes prediletos, o Café Colonial em Marques de Souza (RS), só que comi cinco bifes na chapa, cinco salsichas bock, três porções de feijão com banha e duas fritas.

Não conseguia respirar depois. Fui correndo nadar no borbulhante sal de frutas. Passei o dia enjoado, encalhado, inútil, arrotando, acenando para uma Samu do inconsciente.

Não devemos parar de comer o que gostamos, o que devemos é apenas controlar. O ideal é sair com um pouquinho de fome da mesa, despistar a gana reservando um espaço imaginário para a sobremesa.

O exagero mata o prazer. O exagero mata os melhores cozinheiros.





Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4,  24/11/2015
Porto Alegre (RS), Edição N°
18365

AMOR TRAVESTI

Arte de Liliam Cuenca

Você está solteiro e procura alguém: tem alguém idealizado dentro de você, a mulher perfeita para o resto dos seus dias. É capaz de desenhar e estabelecer pré-requisitos: desde altura, peso, cabelos até cor dos olhos. Se alguém pedisse um retrato falado da mulher dos seus sonhos, você não teria dificuldades em descrever.

Toda pretendente passa pela triagem de suas pretensões. Você repara na profissão, estuda afinidades, avalia o jeito que se comporta nas fotos. Descarta qualquer interessada com alguma dificuldade, ou com uma visão de mundo diferente da sua.

Você faz exigências, que seja assim, que goste disso, que goste daquilo, que acompanhe em suas atividades, que seja paciente e amorosa.

Esta pessoa que você espera é você. Você vestido de mulher. Você está querendo um traveco. Você quer casar consigo mesmo.

O amor não é se repetir. O amor não é encontrar o que esperamos, vem quando encontramos aquilo que não esperamos, aquilo que modifica a nossa personalidade, que altera a nossa vida, que bagunça as nossas crenças.

Se odeia cachorro, vai amar uma mulher com cachorro. Se odeia criança, vai amar uma mulher com filhos pequenos. Se odeia sertanejo, vai amar uma mulher que tem todos os CDs de Jorge & Mateus.

Amor não é espelho, é vidraça. E vidraça quebrada.

Ouça meu comentário na manhã dessa terça-feira (24/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

CHATICES

Arte de Carlo Carrà

O chato no amor é aquele que não faz outra coisa a não ser forçar o amor eterno.

O chato é o que pensa que qualquer um precisa estar à disposição 24h.

Não trabalha, não tem amigos, não tem distrações.

É um falso preocupado: no fundo é possessivo. É um falso romântico: no fundo é pegajoso

É um psicopata da relação. Todo psicopata é um desocupado. Todo psicopata é um ocioso.

É o cara que não tem intimidade e já determina o que farão no sábado durante a manhã de segunda-feira. É o cara que acabou de sair do primeiro encontro e manda mensagens madrugada adentro dizendo o quanto a noite foi inesquecível e linda. É o cara que não tem limites e não realiza mais nada na vida a não ser persegui-la. É o cara que telefona quando lhe vê online. É o cara que comenta todas as suas postagens no Facebook e no Instagram. É o cara que não espera a resposta e decide pelos dois.

Amor depende da saudade e de um tempo longe para vingar.

O chato é o aborto do amor.

Ouça meu comentário na Itapema FM RS, na tarde dessa segunda-feira (23/11), às 13h, apresentação de Denise Cruz:

domingo, 22 de novembro de 2015

VIAGRA NATURAL



O maior afrodisíaco do homem é se sentir desejado. É de menos a beleza e a aparência, por mais que soe cabotino de minha parte, o homem se apaixona quando vê que é desejado. Muito desejado. A descrição aumenta o prazer, a antecipação reforça a vontade.

É irrelevante se a mulher é alta ou baixa, loira ou morena, feia ou miss, com quilos a mais ou a menos, o que adiciona coragem no homem é o discurso arrebatado, a volúpia e a excitação de sua companhia.

A dúvida alimenta o imaginário feminino, por sua vez é a certeza que impulsiona o homem. A convicção. O filme precisa ser legendado e dublado ao mesmo tempo. Qualquer desconfiança do objeto amoroso desencadeia desvalia e ressentimento.

Quando a mulher desenha, diz o quanto o quer, quando promete e anuncia o que fará, quando explica o motivo dele ser o eleito, o homem pira de felicidade.

Ele joga melhor com a vantagem no placar. Odeia ser humilhado e constrangido – é um carente, é uma criança emocional, busca reconhecimento no sexo e no amor. Ele se afastará do relacionamento que subestime o seu desempenho ou o critique em demasia. Não é maduro o suficiente para rebater as ofensas e seguir adiante.

Excitação masculina é elogio, é declaração de exclusividade, é manifesto de virilidade. Facilmente influenciável, folgadamente impressionável, depende do retorno efusivo, da resposta para definir se está agradando. Pode bajular que ele não se importa, pode exagerar que oferece um desconto.
Todo homem é um político na cama, refém do Ibope, das pesquisas de opinião, da crença do voto. Não vive sem o panfleto, o folder de suas realizações e de sua propaganda eleitoral.

Sua alegria é tributária dos enredos e das fantasias, das mensagens picantes e áudios fora de hora, das insinuações ao telefone. Ele gosta da preparação, do aviso, de alguém que se renda aos códigos e dialetos da intimidade.

Pois ser procurado ou procurar é para o casal que transa pouco e não se provoca ao longo do dia, é problema de quem não está conectado sexualmente.

Mas não se deve confundir desejo com submissão. A submissão é broxante, envolve desagradável imposição e ausência de livre-arbítrio. O que ele anseia é ser escolhido pela mulher, adorado pela mulher, que ela confesse a plena excitação em seus ouvidos, que o beijo, o gemido e a palavra venham sempre misturados.


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.52
Porto Alegre (RS),  22/11/2015 Edição N°18363

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

UM POUQUINHO?

Arte de Dorothea Tanning

Quando a mulher diz que vai pintar um pouquinho o cabelo, voltará absolutamente modificada.

O que sugere um retoque é o surgimento de uma nova personalidade.

Se queria ficar levemente acobreada, ficará vermelho sangue. Se queria ficar loira, ficará platinada. Se queria ficar morena, ficará azul.

O tingimento sempre foge do controle. Só restarão as sobrancelhas para contar a história e recordar do passado.

Pintar um pouquinho provocará um maremoto de selfies, todas devidamente apagadas. Nenhuma mulher é feliz depois de pintar o cabelo. Ela apenas se conforma - não tem mais o que fazer nos próximos meses.

A cor desejada na caixa ou na cabeça de uma modelo na revista jamais se repete. A cor do seu cabelo não combinará nem com o seu tom de pele muito menos com a sua personalidade, combinará apenas com o cabelo.

Colocar um tonalizante é uma aventura radical. O só pouquinho é muito.

O só pouquinho da mulher no salão é o só o pouquinho do homem no sexo.

Ouça meu comentário na manhã dessa sexta-feira (20/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:

terça-feira, 17 de novembro de 2015

ELA SABE DE TUDO



Você pensa que a sua mulher não enxerga suas mentiras, você pensa que ela não percebe o quanto não atende às ligações sempre depois do almoço e depois dá um retorno com aquela voz risonha de culpado, você pensa que ela não conferiu a ausência de perfume quando volta para casa de noite (estranho para quem borrifou no pescoço, no pulso e no peito), você pensa que ela não notou que jamais desgruda do aparelho e não deixa que ela chegue perto para visualizar as mensagens, você pensa que ela é boba e idiota, que você pinta e borda, que é invisível e realiza o que quer e quando quer, você pensa que ela não identificou o seu cansaço excessivo de noite e o seu conformismo, que nem reclama pela falta de sexo (homem quando não reclama ou morreu ou está aprontando), você pensa que ela não testa as suas contradições com as perguntas mais simples, você pensa que ela não fez as mesmas perguntas para os seus melhores amigos, você pensa que ela se contenta com as suas respostas decoradas porque não discute, você pensa que ela não olha que o banco do passageiro ao seu lado está sempre reclinado quando anda sozinho, você pensa que ela já não telefonou para o seu emprego e cruzou as informações de reuniões que nunca aconteceram, você pensa que ela não levantou os nomes comuns e incomuns que adicionou no Facebook, você pensa que é capaz de enganar a sua mulher? Você pensa, mas uma mulher só é enganada se ela deseja se enganar.

Você pensa que ela não registra as suas mudanças sutis de humor, o seu nervosismo de abrir a porta da geladeira sem buscar coisa alguma, a sua ansiedade dobrando as mangas da camisa. Ela o conhece de cor: quando sincero, você é lacônico, quando trapaceia, explica demais. Você somente é paciente para conversar quando tem algo para esconder.

Ela o observa há quanto tempo? Acha que algo passaria despercebido? Tira o cavalinho da chuva. Você pensa que mulher não tem intuição, sexto sentido, atenção aos detalhes. Por exemplo, por que de repente começou a usar Halls preto? Você pensa que não é visto, que nunca será pego, que para tudo há uma explicação, desde que nunca entregue os pontos. Você pensa que a sua distração com os talheres não vem cortando o silêncio, você pensa que a verdade é ter álibi, você pensa, continue pensando.

Ela apenas não falou nada porque pretende descobrir até onde vai com a sua farsa. Mas é questão de tempo. O que lhe posso assegurar é que não existe impunidade no amor.






Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4,  17/11/2015
Porto Alegre (RS), Edição N°
18358

MULTIPLICAÇÃO DOS PILAS

Arte de Bridget Bate Tichenor

Tenho um amigo artista de rua. Ele se apresenta nas estações de metrô das principais cidades do mundo. Toca violão e canta só Música Popular Brasileira. Já esteve na França, Holanda, Espanha, Portugal. Ele me contou que, no começo da carreira, ninguém colocava dinheiro em seu chapéu preto. Depois de horas de exibição e aplausos sinceros, não arrecadava coisa alguma. Ele via que agradava, mas ninguém mexia no bolso e na carteira.

Até que decidiu largar o próprio dinheiro no chapéu. Antes mesmo de começar, já põe algumas notas altas para despertar a confiança do público. É uma isca de tubarão. E funcionou: quando o espectador enxerga o chapéu cheio fica mais disposto a colaborar, não se sente sozinho e idiota (- Pô, o cara é bom, olha quanta grana já tem em seu chapéu).

No Brasil, ele larga três notas de cinquenta e sempre sai com um bom cofrinho de seus shows a céu aberto. As cédulas se multiplicam naturalmente.

Meu amigo mostra que o artista precisa investir em si mesmo.

Ouça meu comentário na manhã dessa terça-feira (17/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

NOS CALOS E NAS FERIDAS

Arte de Luigi Russolo

Já bastava uma marca de refrigerante colocar o nome das pessoas em sua bebida e criar constrangimento. Poderia estar almoçando calmamente, amorosamente, com a sua mulher e receber do garçom uma latinha com o nome da ex. Será que ninguém prevê os efeitos colaterais da homenagem?

Agora o Facebook criou um mecanismo de nostalgia. A máquina decidiu se humanizar e ter saudade. Passa a lembrar, inesperadamente, de momentos de nossa linha do tempo de quatro ou cinco anos atrás. Surgem nossos fotos do passado. Aquela mulher que recém saiu da fossa de repente se revê abraçada a um ex? Ou aquele homem que jamais engatou uma nova relação é condenado a reprisar um grande momento de seu antigo casamento?

A memória é absolutamente pessoal. E não precisa de muito para voltar a sofrer.

Ouça meu comentário na Itapema FM RS, na tarde dessa segunda-feira (16/11), às 13h, apresentação de Denise Cruz:

domingo, 15 de novembro de 2015

SEPARAÇÃO FELIZ



Você deve se separar quando está feliz. É meu excêntrico conselho. Porque não adianta se separar na tristeza se continua casado com a alegria do outro. É só a fase ruim passar que terá recaída e esquecerá as mágoas. É só o desentendimento esmorecer e a luz do sol bater na sala e no quarto que o amor manda de novo em casa.

Uma decisão fora de si perderá a validade quando voltar a si.

Você é capaz de rebater os ressentimentos e as brigas com facilidade, justificar o fim com rotina morna e sem sexo, mas não resistirá ao riso do seu par, às promessas de festa, aos carinhos e juras apaixonadas.

Precisa não gostar mais dentro do contentamento, para não cometer o engano de se afastar de uma das facetas de sua companhia e permanecer secretamente vinculado às demais.

A tendência é correr do namoro ou casamento no desespero, por pura ânsia, sem distanciamento do todo, sem recobrar as caminhadas deliciosas de mãos dadas e dos pés se acarinhando de noite.

Se não tem coragem de pedir o desenlace no céu, a queda é ensaio para repetir o voo.

É uma sabotagem piorar o que se encontra pior – raro é definir a incompatibilidade na mansidão.

Ao fugir às pressas do que incomoda, será perseguido depois por aquilo que lhe satisfazia e não tem mais. É se dar um tempo sozinho que as lembranças irresistivelmente agradáveis tomarão conta, e se achará um idiota por não comparar o joio e o trigo, a joia e a gema.

Precisa definir o fim durante a reciprocidade, não na falta, a carência é uma miragem e produz distorções e exageros.

Precisa elaborar o julgamento na presença, pois reclamar da ausência é parte da saudade.

Precisa propor a partilha no período de paciência, com o juízo firme e a esperança atenta, jamais com o orgulho ferido ou em meio à coerção das gritarias e ofensas.

O problema é que os pares rompem os laços quando estão mal, inventando purgatórios entre os amigos e familiares, e depois sucumbem aos encantos quando se recuperam e se veem pacificados da raiva.

No romance, o inferno é próximo e complementar ao paraíso, mas o medo de uma semana difícil ser para sempre causa precipitações.

Se a separação não é feita no momento favorável, é que ainda não está seguro da mudança.

Desamor mesmo é querer ir embora quando tem todos os motivos para ficar. Ir no melhor dia porque nem o melhor dia segura.

Se não ama mais, daí sim nem a alegria fará efeito. Nem o beijo mais longo. Nem o abraço mais demorado e mais cálido. Descobrirá que é um estranho para um estranho, e a intimidade certamente morreu.


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.32
Porto Alegre (RS),  15/11/2015 Edição N°18356

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

É SEMPRE ASSIM

Arte de Émile Bernard

Sou otimista, positivo, tento sempre enxergar o lado bom das adversidades, mas há um tipo insuportável, o que sofre de infinita preguiça e não pretende se incomodar. Tem uma única resposta conformista na ponta da língua.

É o sujeito do normal, tudo é normal.

É o que não se surpreende com qualquer evento do dia. Nem olha. Nem se mexe para olhar.

É o que costuma dizer "É sempre assim" para qualquer coisa.

O avião está pegando fogo, ele espia pela janela e comenta para a esposa: - Não se preocupe, é sempre assim.

O garçom demora três horas para trazer a comida e ele explica para a esposa: - Não tem nada demais, é sempre assim.

A empresa em que trabalha está falindo, demitiu a maior parte dos funcionários, os corredores estão cheios de cadeiras e mesas empilhadas e ele continua as suas tarefas tranquilamente, porque acha que "é sempre assim".

Seu cachorro não para de latir, ganir, pular, e ele nem vai espiar o que está acontecendo. A casa termina assaltada porque ele volta a dormir depois de resmungar para a esposa: - É sempre assim!

Sua mulher está com outro homem na cama e não duvido que ele diga que é sempre assim.

Ouça meu comentário na manhã desta sexta-feira (13/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:


terça-feira, 10 de novembro de 2015

PIPOCA SALTANDO DE MEUS OLHOS



Eu vi uma mãe chorando numa apresentação de escola em Porto Alegre. Cheguei lá para fazer uma palestra. Sua filha estava vestida de milho, mais precisamente de pipoca. Era engraçado ver o esforço da pitoca em saltar, em imitar o pulo da panela quente com seus coleguinhas. Dava a mão, completava cambalhota de lado, mexia os braços como um helicóptero, formava fila, batia palmas, desfazia a fila sob a batucada de Claudia Leitte.

Quem criou aquela coreografia e enredo, aquele adereço de capuz branco e camiseta laranja, é uma professora de muita imaginação.

Eu tinha o impulso de rir, mas a mãe da menina chorava dramaticamente, chorava fungando, chorava limpando o rosto na manga do casaco.

Chorava testemunhando a sua filha de pipoca. Chorava com uma música alegre de Claudia Leitte. Se fosse um pepino ou um abacaxi, estaria chorando. Nada demoveria suas lágrimas.

O celular da mãe tremia devido aos soluços incessantes. A filmagem não servirá para nada, mas já as suas pupilas transbordavam do brilho da memória.

Eu chorei junto, ridiculamente, pateticamente. Chorei diante de um imenso saco de pipocas humanas, pipocas fedelhas, pipocas piás, pipocas do jardim de infância. Porque me lembrei de quanto não gostava das apresentações de meus filhos. Ia obrigado, reclamando da demora para ver um ou dois passos, pois o colégio inteiro exibia os seus trabalhos artísticos antes. E o quanto sinto falta hoje: a minha criançada está grande e adolescente.

O sal da pipoca estranhamente casava com o sal dos meus olhos. A saudade é uma chantagista da pior espécie. Deveria ter aproveitado melhor a minha época. Choro copiosamente, choro contagiado, pedindo maternidade e paternidade emprestadas para completar a minha idade.

Não alcançava a importância daquele momento, de preparar uma fantasia, de acompanhar os ensaios para, ao fim, ter um filho se apresentando só para você. A exclusividade sonhada do amor.

Não traduzia o que um menino ou uma menina sente ao pisar pela primeira vez no palco, o nervosismo de errar a coreografia e as falas, a dificuldade social de encarar a ameaça do holofote e dançar conforme o ritmo, o perdão de qualquer falha em nome da coragem. Não pensava nisso, pensava em mim, em não perder tempo com outras crianças que não fossem meus filhos.

Agora toda criança é lembrança de meus filhos. Choro sem medo da vergonha. Todo pai com filhos crescidos é um orfanato.





Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4,  10/11/2015
Porto Alegre (RS), Edição N°
18351

TRÊS POR UM

Arte de Henry Fuseli

Mulher usa três vezes mais palavras do que o homem.

É de enlouquecer quando telefona prestes a entrar em casa e fala tudo o que queria como se estivesse longe. Ela está somente há cinco minutos da porta.

É de enlouquecer quando chega em casa e conta tudo de novo o que já antecipou ao telefone. Porque uma coisa é falar à distância, outra é falar pessoalmente.

É de enlouquecer quando você está ouvindo atentamente, ela pergunta o que está pensando. Quando você responde o que está pensando, ela reclama que não sabe ouvir.

É de enlouquecer quando ela questiona como foi o seu dia e você é sincero e ela muda de assunto porque não aguenta os seus pensamentos negativos.

É de enlouquecer quando ela diz "hoje você decide!" para rebater ponto por ponto daquilo que decidiu.

É de enlouquecer quando ela xinga alguma amiga e você apoia e xinga junto e ela fica ofendida e sai em defesa de sua amiga: - Você deveria respeitar mais as minhas amizades.

Por mais que não entenda, agradeça cada palavra de sua esposa. Pois o mais irritante é quando a mulher não fala nada. O silêncio da mulher é apavorante. Um terror psicológico. Ter que falar por ela é morrer pela boca.

Ouça meu comentário na manhã dessa terça-feira (10/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A TEXTURA DO MUNDO É MEU TEXTO

Arte de Egerton Coghill

Quando criança caminhava para a escola raspando a mão nos muros. Pela textura, pelo cal, pelas heras, eu sabia se estava chegando ou não.

Conhecia cada muro da vizinhança como um degrau da própria escada de casa. Eu caminhava mais pelo tato do que pelos olhos. Assim, do mesmo jeito, o olfato me guiava.

Conhecia pelo cheiro a cerração das manhãs ou a luz alvoraçada da primavera. Identificava a floração e o pólen das árvores de meu bairro. As árvores eram pessoas que eu cumprimentava.

Eu despertava para a aula não com nenhum alarme, e sim com o barulho da porta pesada de ferro do armazém se levantando.

Quando amo, não são os meus olhos que me avisam que estou amando, mas a minha pele.

Desconfie do que vê. Que mantenha a infância dos outros sentidos abertos para não cometer nenhum preconceito.

Ouça meu comentário na Itapema FM RS, na tarde dessa segunda-feira (09/11), às 13h, apresentação de Denise Cruz:

domingo, 8 de novembro de 2015

GLICOSE DO AFETO


Bêbado tem dono, sim. Tem endereço. Tem memória. E merece todos os cuidados.

Quem abusa de bêbado já extraviou o caráter. Quem troça de bêbado não guarda lembrança dos extremos da adolescência e da fragilidade do corpo. Quem zomba de bêbado não enfrentou a severa humildade de dormir abraçado numa privada.

Não se fica com mulher embriagada ou que não responde pelos seus atos. É covardia, golpe baixo, desaforo. O que se deve fazer é dar carona e largá-la em casa – nada mais do que isso. Sedução requer igualdade de condições. Se ela não desfruta de equilíbrio para rejeitá-lo, não resta prêmio em conquistá-la. Zerar na noite é melhor do que não poder se olhar no espelho de manhã.

Não é homem aquele que se aproveita do porre alheio para tirar vantagem. Não cultiva o próprio respeito. Não conta com a mínima compreensão de solidariedade, de educação, de decência (palavra em desuso, infelizmente).

Bêbado é um cachorro atravessando a BR – precisamos diminuir a velocidade para não atropelar.

Não existe nenhuma graça de ver alguém cambaleando, derrubando copos e objetos em dança suicida. O riso excessivo é enganador, significa descontrole, deixou de ser divertido há quatro copos. O sofrimento se expressa também na comédia.

Sempre que um amigo passa de seu limite na bebida, eu sereno imediatamente. Acordo impulsivamente do efeito do álcool.

Um amigo em apuros é o meu café, o meu guaraná cerebral. Desperto de qualquer torpor. Não acentuo o constrangimento e não finjo euforia para cavar confissões e frases engraçadas.

Não debocho dele. Ele não se torna uma piada pela fala presa, pelos tombos ou gafes desesperadas. Não o exponho para os outros. Falo cada vez mais com calma, soletrando, explicando o que está acontecendo e que é recomendável recuar com água ou refrigerante. Sou o chato, sou o careta, sou o pai de meu comparsa, sou a figura que ele vai odiar na balada e chamar de estraga-prazer. Pois tentarei ajudar enquanto ele somente busca enlouquecer. Meus ombros serão passarelas, jamais permitirei que ele seja um mico de auditório, ainda que eu cumpra o papel desagradável de leão de chácara.

É o meu momento de protegê-lo de si mesmo – seu pior inimigo.


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.40
Porto Alegre (RS),  08/11/2015 Edição N°18349

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ABENÇOADA SEJA A LOUCURA


Eu fico envergonhado quando alguém bate palmas no momento em que o avião pousa, quero me esconder na poltrona. Desde quando avião é espetáculo?

Eu fico envergonhado quando o público aplaude o fim de um filme no cinema. O diretor e os atores não estão ali, para quem?

Nestes dias, caminhando na praça da Encol, a minha mulher pergunta: vamos abraçar uma árvore? Fiquei novamente envergonhado. Como sempre envergonhado.

- Tá maluca? Todo mundo vai me ver abraçando uma árvore, o que as pessoas pensarão de mim?

Como estou errado! Como sou bobo em não ser bobo!

Deveria me envergonhar da corrupção, da violência, da insegurança neste país. Não daquilo que é espontâneo, puro e alegre.

Que os aviões e sessões de cinema sejam ovacionados. Que as árvores sejam abraçadas.

Acabamos nos controlando demais com medo dos outros. Viver com medo é nunca ter nascido.

Abençoado seja o vexame. Abençoada seja a loucura do bem.

A vida precisa de mais entrega, de mais emoção, de mais autenticidade.

Este foi o meu comentário na manhã de sexta-feira (6/11) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

MINHA PORTO ALEGRE



Como é difícil mostrar a própria cidade. Dois amigos argentinos – Lorenzo e Tomás – vieram visitar Porto Alegre depois de tanto professar a minha paixão. Acostumados com as praias brasileiras, chegaram aqui por absoluta crença nos meus elogios escandalosos para a capital gaúcha.

Fiquei encarregado de provar o meu gosto, e somente me confundi e me amargurei. Apresentei a Usina do Gasômetro no entardecer e aconteceu num dia nublado e o sol não deitou no horizonte, não prateou o Guaíba, e os olhos castanhos da água não se transmudaram em verdes pela luz refletida.

A curiosidade não produzia atenção, não prolongava nenhum lugar na memória da dupla estrangeira. Eles me olharam com pena, como que pedindo mais, e levei os dois para a Feira do Livro, mas ambos conheciam um projeto semelhante em Córdoba, não se mostraram arrebatados e não tinha jeito de singularizar a minha cidade. As palavras escapavam. E corri para o terraço da Casa de Cultura Mario Quintana e o meu espanhol era curto para explicar a importância de nosso poeta pensador. E fomos ao porto do Guaíba, ao morro Santa Tereza, aos chopes na ladeira, e a comoção não vinha e a monotonia já parecia eterna.

Eu estava cansado de falar, gesticular e rir de nervoso. Desisti de esclarecer a minha cidade. Entendi que é o mesmo que justificar o porquê de amarmos uma mulher. Como expor visivelmente o que é subjetivo? Como descrever a minha emoção de atravessar a Rua da Praia, calçadão que frequento desde menino? Como detalhar o efeito de caminhar em bairros com a copa fechada das árvores? Como alfabetizar o arrepio, o coração acelerado, o sotaque, o aconchego de um chimarrão na Redenção?

É igual a fundamentar o amor pela esposa, já que não alcançarão o poder da nossa cumplicidade, a telepatia das mãos dela em meu rosto, as longas conversas de apoio quando quero desistir de tudo, o sabor do nosso beijo, as festas e gafes conjuntas, as vitórias e superações sigilosas.

Porto Alegre é inexplicável para os turistas e, paradoxalmente, adorada pelos seus moradores. Os meus amigos só enxergavam os defeitos, e eu com as virtudes engasgadas na garganta.

Voltei para casa ouvindo Nelson Coelho de Castro no carro e cantando sozinho o que é intraduzível, o que não tem rima em outra língua, o que não tem versão em outro crepúsculo.

A única forma de conhecer uma cidade é amando.





Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4,  03/11/2015
Porto Alegre (RS), Edição N°
18344

INVASÃO DA PRÓPRIA PRIVACIDADE

Arte de Georg Arnold-Graboné

Vem vindo o verão. Vem vindo a praia. Só que você, homem, não terá fotografia da primeira viagem com a mulher. A primeira viagem do ano não existe.

Como ela ainda não está bronzeada e se acha fora de forma, não vai deixar você tirar nenhuma selfie junto, separado, de lado, do alto. Nem de helicóptero. Nenhum flagrante. Nenhuma imagem de surpresa e, muito menos, supervisionada.

Mesmo que você diga que ela é linda e que é loucura de sua parte.

A praia que sucede o inverno é absolutamente confidencial. Não haverá provas. Não haverá vestígios. Não terá como esnobar os amigos dos lugares que frequenta com poses amorosas no Facebook.

Não ouse preparar declarações nas redes sociais - ela vai abominar qualquer cena de sua intimidade.

Nesta época, marido é paparazzi, e poderá sofrer agressão e ter o celular e a câmera quebrados pela esposa.

Não adianta insistir, ela não se vê pronta, não deseja que ninguém a veja assim. Quer aparecer de repente, gloriosa, sem rascunho conhecido.

Ouça meu comentário na Itapema FM RS, na tarde dessa terça-feira (03/11), às 13h, apresentação de Denise Cruz:


domingo, 1 de novembro de 2015

MATURIDADE OU INDIFERENÇA


– Você é jovem e ainda viajará bastante, conhecerá o mundo, não deve adiar os seus sonhos por ninguém.

– Gosto do jeito que é, não mudaria coisa alguma em você.

– Sou contra pagar a conta, pois dividir valoriza o seu trabalho.

– Não tenha pressa de se envolver, vamos devagar, seguindo o seu ritmo. A relação é uma construção.

– Já teve quantas histórias? Afinal, se você transa bem é consequência daquilo que já viveu.

– Hoje é melhor eu ficar sozinho para aumentar a saudade.

– Pode se abrir e me contar o que quiser, não há com que se preocupar. Antes de tudo, somos amigos

– Não precisamos nos encontrar todo dia, desejo que não perca a sua independência.

– Você está certa, como sempre.

– Estou passando por uma fase de autoconhecimento e você tem sido extremamente compreensiva.

– Beba com as amigas, vá a festas, a sua felicidade vem em primeiro lugar.

– Eu entendo o que você sente, somos muito parecidos.

– Não quero que sacrifique a sua liberdade por mim.

– Ciúme é burrice, feito para quem busca mandar no outro.

– Estarei aqui quando precisar.

– Tem todo o meu apoio.

– Você é muito importante para mim, não há necessidade de nenhuma prova.

– Sexo não é tudo, há tanto numa relação para se aproveitar.

– Estava escrevendo para você quando me escreveu.

– Você não me sai do pensamento.

– Não ligo para a beleza, eu presto atenção na autenticidade das pessoas.

....

– Nossa, como você me aceita!, nunca encontrei um homem tão seguro, independente, maduro, compreensivo, equilibrado, calmo, esclarecido, nem um pouco possessivo, capaz de me incentivar sem nenhum egoísmo, sem nenhuma pressão.

(O que ela não sabe é que ele só é assim porque não está apaixonado.)


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.32
Porto Alegre (RS),  01/11/2015 Edição N°18342