quarta-feira, 26 de junho de 2013

A RUA DA PALAVRA

Arte de Eduardo Nasi

O marido bate na mulher quando não tem mais palavras.

A mãe bate no filho quando não tem mais palavras.

O motorista sai do carro para brigar quando não tem mais palavras.

Manifestantes invadem lojas e depredam a cidade quando não tem mais palavras.

A palavra é o último reduto da sensibilidade. A fronteira derradeira.

Quem perde a palavra perde o respeito.

Quem perde a palavra perde o silêncio.

Quem perde a palavra perde o direito de protestar.

Quem perde a palavra perde a solidão, o lugar para voltar.

Quem perde a palavra perde a causa, perde o fôlego, perde a justiça.

Perde-se definitivamente.

A palavra é contundência. Depois dela, só vem a crueldade, a truculência, a covardia.

A palavra é firmeza. Depois dela, só vem medo e desconfiança.

A palavra é ouvinte. Depois dela, a memória desaparece.

A palavra é o rosto da voz, essa digital do vento. Depois dela, não restam traços, não resta tinta.

A palavra é responsabilidade, é decisão, é destino. Depois dela, o anonimato é inconsequente e criminoso.

A palavra é fé. Depois dela, seja o que Deus quiser.

A palavra é paz de estar com a verdade.  Depois dela, vem o exagero, a distorção, a mentira.

Abdicar da palavra é entregá-la para os sinônimos errados, para as pessoas erradas.

A palavra é o quintal derramado na rua. Depois dela, as vitrines são becos.

A palavra é ter espaço para frente e para trás. Já a violência sem palavras é um avião que não recua, que não dá ré, que somente avança ao desastre.

A palavra é tempo oferecido. Tempo de justificar. Tempo de convencer. Tempo de explicar as escolhas.

Sem palavra, o tempo é ruína, o tempo é explosão, o tempo é avareza.

A palavra é confiança da resposta. Depois dela, somos animais. Só quebramos para mostrar força, só destruímos porque não entendemos o mundo.

A palavra é generosidade. Depois dela, só vem a soberba, a arrogância, o preconceito.

Palavra é vidro. Tem que se preservar inteira para não cortar.




Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira

15 comentários:

Ritinha disse...

TEXTO BRILHANTE!!!!
Gostei principalmente da parte em que descreve: "A palavra é o último reduto da sensibilidade"...
Adorei, pois acredito que quem perde a palavra perde "quase" tudo.
beijos e suce$$o sempre!
Ritinha

Anajá Schmitz disse...

Lindas palavras para descrever o poder que elas tem.
Me lembrei de ti hoje li uma frase de Khalil Gibran que dizia,
" Quem não sabe aceitar as pequenas falhas de uma mulher, não aproveitará suas grandes virtudes".
Tenha uma ótima semana.

Anônimo disse...

A palavra é o que engolimos da chuva e devolvemos ao sol.

Sâmya disse...

Como sempre as suas palavras encantando!

Um grande beijo!

Bela Campoi disse...

Por isso é tempo de tanto falar, soltar a palavra!Como professora de História, a palavra sobre o passado ensina, pra se tentar entender o presente e esboçar um futuro melhor: sua poesia curou minhas dores do mundo de hoje!

Thayane Cristina disse...

Sempre encantador. (suspiros)

Adriana Magalhaes disse...

Solidarizo em silêncio amigo
a melancolia que me abate
por presenciar a violência que mancha por falta de palavras
nossa festa democrática.
Sua rua é perfeita.Obrigada.

Camila disse...

Uma pena! Você não ouviu a palavra dos que estão estilhaçados. Eu ouvi. Nem foi grito. Saiu com dificuldade.Voz embargada.

Muryel Oliveira disse...

Amei, verdade a palavra é tudo! Eu me defendo com as palavras, eu ponho-as no papel, no blog e alivio a alma, as mágoas e os amores.
E mesmo assim as pessoas insistem na violência!
murysdiary.blogspot.com.br

... disse...

Este texto é extraordinário!!!

["/]jeaninedemoraes["/] disse...

Muito bom, como sempre. E eu vou compartilhar, como sempre! Abraço!

Unknown disse...

Texto sensacional! Ainda me tirou um sorriso, impressionante.

Ramiro Conceição disse...

PORQUE HOJE É SÁBADO: VIVA SÃO PEDRO!
by Ramiro Conceição
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Hoje, 29.06.13, dia de São Pedro, tudo começa a voltar ao normal… Farei algumas reflexões baseando-me na cidade de Vitória, ES, pois aqui, justamente, em 20.06.13, foi onde acorreu, relativamente à população da cidade, talvez, a maior manisfestação do Brasil, isto é, dos 350.000 habitantes – mais de 100.000 foram às ruas. Assim, considerarei a capital capixaba como uma excelente amostra representativa do universo da população brasileira associada aos últimos eventos ocorridos em nossa República. Vamos lá…:
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1) Ontem, 28.06.13, menos de 5.000 estiveram nas ruas, ou seja, 5%, aproximadamente, daqueles do dia 20. Como de costume, o protesto teve um início pacífico, mas depois o pau comeu, quer dizer, a mesma rotina daquela rotineira minoria. Em grande escala, os capixabas, ainda sem perceber claramente o seu “voluntarismo político”, começaram a se dar conta que foram cuidadosamente manipulados pela grande mídia e, principalmente, nas ditas redes sociais… Quero dizer: na semana que vem, sem precisar ser nenhum grande bidu, o tal movimento se fu!!!… Ou seja: às ruas, estarão os imberbes estúpidos de sempre: os famigerados mascarados – da classe média – aqueles (mal)ditos de esquerda do movimento estudantil, que deram início a tudo em São Paulo, no início de Junho; mas, com certeza, os profissionais mascarados por que não são idiotas, tais quais aqueles primeiros, voltarão às tocas costumeiras até a próxima grande oportunidade de saque;
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2) Contudo, o golpista conservadorismo brasileiro, sempre de plantão, não para (eh, acordinho ortográfico…). Pela rede, uma greve geral andou a balbuciar para segunda-feira, 01.07.13, mas, claro, deu “chabu”, então, o novo fogo de artíficio conservador adiou o estrondo, o seu rugido, para o dia 11.07.13;
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3) Enquanto isso, o PIG e seus asseclas continuam, a qualquer custo, minar o governo Dilma: ora, minhas senhoras e meus senhores, redundantemente, o objetivo deles é isso – e só isso!; quer dizer, é aquela famosa matemática de um único número: 2014… A prova disso é que um dos arautos de tal conservadorimo, em seu protegido poleiro, hoje, ressalta que Dilma perdeu 27 pontos percentuais em seu prestígio… O conhecido galináceo em sua argumentação utiliza uma pesquisa da Folha… Coitadinho… Vamos a ela… O tal galináceo, posando de honesto, mas, tal qual parônimo, pousando em sua “fraquinha” lógica ideológica, rascunha “O Datafolha fez uma pesquisa, com MARGEM DE ERRO ENORME, de 4 pontos percentuais, só entre os manifestantes da passeata realizada no dia 20 em São Paulo”. Ora, ora, ora, não é necessário ter doutorado em estatística para desvendar, não o rojão de cinco tiros à noite de São Pedro, mas a mais infantil das “biribinhas” que estourou no biquinho do bípede…: a) primeiro, a amostra é viciada, pois representa somente o universo constituído pelos participantes das manifestações; b) segundo, o mais grave, pois aí revela “mala fides”, pois o valor médio de 30%, com desvio-padrão de 4%, resulta num coeficiente de variação estátistico, isso é, o quociente entre o desvio-padrão e a média, igual a, aproximadamente, 0,13; estou a admitir, aqui, que a distribuição seja uma curva de Gauss. Talvez tenha sido utilizada a distribuição “t”, associada à pequenas amostras, não sei… Portanto, é uma irresponsabilidade jornalística!!!, que o tal Galináceo cometeu… É bom lembrar que o dito-cujo se autodifine como conservador a proteger o estado de direito democrático (quero deixar claro que respeito tal salutar posição, desde que exercida com honestidade intelectual…: o conservadorismo, numa democracia real, faz muito bem, pois é um contraponto sempre a ser considerado…; sem ele estar-se-á numa ditadura – de esquerda ou de direita – que, efetivamente, não convém);

(cont...)

Ramiro Conceição disse...

(cont...)
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4) Enquanto isso, lá, no manicômio de Brasília, o Senado e a Câmara tentam mostrar serviço ao Povo, pois perceberam que rojões estão sendo fabricados para serem colocados em cada respectivo traseiro…;
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5) Enquanto isso, lá, no Palácio do Planaldo, Dilma continua a ser pessimamente assessorada… Tal fato é extremamente preocupante…;
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6) Então, o que resta à militância política que deseja verdadeiramente a continuidade do estado de direito no Brasil, não importando a possível derrota ou vitória em 2014? O mais urgente possível fazer uma interlucção sadia em todas as redes sociais…
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7) VIVA SÃO PEDRO (ora, é claro que não sou católico)!!
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ana disse...

" doenças são palavras não ditas "
Lacan