quarta-feira, 18 de maio de 2016

CASAMENTO COMO FESTA FANTASIA



Fabrício Carpinejar
Foto Gilberto Perin

Heloisa foi marcar seu casamento numa igreja de Belo Horizonte, a mais disputada da cidade. Não havia mais nenhum sábado, somente sextas no mês de maio. Espiou a agenda e definiu uma data, apesar de  não ser a predileta.

- Deixa ver quem será a minha vizinha de altar?

Quando descobriu o nome de quem iria se casar no sábado, deu um pulo para trás, era uma conhecida, bem conhecida.

- Ei, esta mulher é minha amiga e nem namorado tem! Está solteira! Quem é o noivo na reserva?

- Só tem o nome dela, realmente não há nome de nenhum noivo.

O que faz alguém marcar um casamento, bloquear um dia, sem ao menos estar dentro de um relacionamento? Soa como piada, mas é a realidade amorosa de quem vive fora da realidade.

Talvez a ansiosa tenha achado que seria mais fácil arrumar uma companhia disposta a casar do que conseguir um espaço no calendário da igreja. A verdade é que ela não é uma alienígena, sofre de uma moléstia comum a muitos: o amor genérico. É quando se ama o amor antes de amar uma pessoa específica. É amar a ideia do amor, a teoria do amor, desvinculada de uma individualidade que desperte o sentimento. A vontade de usar o vestido de noiva uma única vez supera a escolha de vestir o corpo do outro por toda a vida. A fantasia da aparência esconde o desleixo na essência.

A chance do erro é imensa. Assim, qualquer um pode ocupar o destino das palavras, sem mérito algum. Qualquer um poderá servir de marido. Obviamente, para não estragar o objetivo, predominará  a cegueira diante de sinais e demonstrações de incompatibilidade ao longo da convivência. O desespero para realizar um sonho é sempre atalho ao pesadelo. Casar, amar e gerar um filho não deveriam ser vistos como objetivos, representam uma inspiração da vida e demandam tempo, acerto de hábitos e intimidade.

Na véspera do Dia dos Namorados, é preferível uma solteirice honesta a um namoro de fachada. Não é ridículo atravessar a noite de 12 de junho dormindo sozinho, será patético reservar uma cabana na serra ou uma mesa num restaurante chique para depois sair à procura do par.

Publicado no Blog de Fabrício Carpinejar do Jornal O Globo
18.05.2016

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