quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DESATINO ESSENCIAL DA PAIXÃO

Arte de Eduardo Nasi
 
A paixão é um porre.
 
Ninguém mantém suas atitudes, conserva suas latitudes.
 
A paixão é uma pane.
 
Só vai conquistá-la a partir de constrangimento público, chamando seu par para dividir um vexame.

Terá que convidá-la a dançar na rua sem som nenhum, ou gritar seu nome desesperadamente na parada do metrô, ou beijá-la no meio de um bar como se não houvesse gente alguma querendo passar pelos corredores.
 
É necessário escandalizar os passantes, é necessário um público incrédulo e invejoso que não entenda o que vocês estão fazendo.
 
Ambos andarão na contramão da hora e do espaço, isolados na própria alucinação, resguardados pela onipotência do desejo.
 
O desatino é o pedágio da conquista.
 
Você vai se ajoelhar numa faixa de segurança, pedir esmola para bancar o engraçado, criar diálogo de marionetes com cachorros-quentes.
 
É estranho concluir que nos habilitamos para o relacionamento sendo inconsequentes. O conservadorismo não tem chance. A caretice não merece sala.
 
No amor, podemos pedir a mão ao destino. Na paixão, pedimos a mão dela para mergulhar no abismo.
 
Será um rompante que sustentará o futuro, determinará o súbito endividamento do passado.
 
Você pode encarnar um tipo educado, culto, estável, sensível, nada disso contará a seu favor.
 
O que arrebata a mulher é o quanto pode enlouquecer por ela.
 
É um desvio de seus bons modos, uma coragem inusitada, um apelo à espontaneidade que definirá o namoro.
 
Você pode ser o mais retrógrado dos mortais, mas apaixonado sairá da linha e cometerá uma imprudência. Mesmo que seja a única de sua vida.
 
Todos os casais guardam o dia em que se decidiram um pelo outro. E é sempre uma sandice que será lembrada com orgulho, marcará o motivo de estarem juntos até hoje.
 
Representará a demonstração de seu desprendimento, um duelo onde a palavra venceu a aparência e a irreverência superou o julgamento moral.
 
Paixão é quando dissemos: dane-se o mundo, e sigamos com o nosso instinto. É uma breve e inesquecível alforria dos olhos.
 
Você nadará nu numa piscina, descerá as trilhas de uma floresta no escuro, cantará músicas francesas no muro do viaduto.
 
É o momento em que os dois provam que estão preparados para a maior loucura que um casal é capaz de experimentar dali para frente: dividir normalidades.
 
 

 




Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira

6 comentários:

Juliana Segallio disse...

é bem isso...ótimo texto, parabéns!
A frase final é sensacional.

Anônimo disse...

Querido Carpinejar,

hahaha...Adorei o texto!!
Acho que é bem isso! :-)

Bjs!

Vanderley José Pereira disse...

estou querendo passar por isso tambem

Anônimo disse...


ADOREI..DIVULGUEI NO FACE. É a pura verdade.

Chris disse...

Credo, acabei de constatar que nunca me apaixonei!!

cara pemesanan ace maxs disse...

Thanks again for the blog post.Really looking forward to read more. Will read on...