terça-feira, 7 de outubro de 2014

TODO PRESENTE PIORA COM A IDADE

Arte de Juan Carlos Boveri

Quando somos crianças, adoramos o suspense na hora de receber presente.

Sonhamos, aproveitamos a véspera, a fantasia somente melhora a festa.

Perguntamos com curiosidade, na expectativa de resolver a charada, de entender o que será dado.

Abrimos o pacote com surpresa. Soltamos gargalhadas, susto, gritos.

Os pais narram os nossos movimentos, descrevem a nossa emoção:

- O que será, ai meu Deus? O que é isso?

E o coração dispara.

Pode avisar a criança de presente com antecedência de um mês e ela enlouquecerá todo dia.

Já, quando adultos, o suspense somente piora o presente.

É alguém adiantar que ganharemos algo e esperamos o melhor do melhor.

E nunca é.

E nos decepcionamos.

Superfaturamos a imaginação.

Quando criança, valorizamos o gesto. Quando crescemos, valorizamos o resultado.

Quando criança, qualquer coisa serve. Quando crescemos, esperamos demais.

Esperamos um terno e recebemos um cinto.

Esperamos um perfume e recebemos um desodorante.

Esperamos um tênis e recebemos um par de meias.

Não vale a pena avisar o aniversariante que comprou algo, que é a sua cara, que vai adorar.

Não diz nada antes, apenas entrega sem falar.

Adulto não sabe brincar de ser feliz.

Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (07/10) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:

2 comentários:

Anônimo disse...



OBA !!! VOCÊ VAI VIR À MINHA CIDADE DE ARAXÁ !!! Vou escutar boas palavras que irei aproveitar e irão me fazer bem.

Helder Conde disse...

"Adulto não sabe brincar de ser feliz". Que frase poderosa!

É. Adultos são rochas. Ou pensam que são.

Mas, sabe, há algumas semanas, olhando para um cânion esculpido nas rochas pelas águas de um rio teimoso, pensei numa frase que me dá esperanças de que o tempo pode ser um bom amigo: "Se o tempo é capaz de esculpir rochas, o que é capaz de fazer com as pessoas?".

Bem, talvez - espero - nos ensine a brincar de ser feliz. Nos devolva as curvas. Nos destroce, sem dó, mas sem dor. Nos torne profundos o suficiente para não ter medo de ser simples, como as crianças.

Helder Conde
helderconde.blogspot.com