quarta-feira, 26 de outubro de 2016

COITADO DO HULK



Texto Fabrício Carpinejar
Arte Eduardo Nasi


Não leve a musculação a sério. É extremamente caro. Só o que posso recomendar aos espíritos marombeiros.

Eu não percebi o tamanho do prejuízo. Mais barato antes quando eu pagava três meses adiantado de academia e desistia nos primeiros trinta dias. Mais simples. Mais econômico. Mais prático.

E nem estou mencionando o que gastei com vitaminas, proteínas e transformando radicalmente a alimentação. Nem me refiro aos trajes esportivos, sempre onerosos  e com malhas tecnológicas de transpiração.

Fui leviano de fazer musculação com disciplina e rigor, além das aparências e das postagens nas redes sociais. Deveria ter fingido que estava matriculado e de personalidade mudada, como todos os machos quando começam a namorar.

Investi um longo tempo dedicado a acordar cedo e me exercitar em horários ingratos, como 6h e 23h, ao lado da minha personal Raquel. Eu segui com os halteres, cordas e máquinas por um ano.

O que aconteceu? Melhorei de vida? Não!

Perdi inteiramente as minhas roupas. Um armário inteiro foi desperdiçado: ternos não fecham mais os seus botões, camisetas estouraram nos ombros, calças estrangularam a cintura. Fiquei absolutamente sem figurino, um Hulk pálido e careca. Peças de grife, fashion, caríssimas, únicas e exclusivas, não entram mais em meu tamanho. Tudo posto a pique. É o equivalente  a extraviar várias malas em uma viagem internacional. É como se sofresse um incêndio devastador no quarto. Somente os sapatos ainda me servem, testemunhas de um tempo em que era M e esbanjava opções para sair a trabalhar.

Sou condenado a usar pouquíssimas variações e pedir roupa nos próximos aniversários, natais e datas comemorativas – o que é um contra-senso diante da oferta de presente criativos que há no mundo.

Nunca fui tão comum e desfalcado de criatividade para me vestir.

Quem permanece feliz com o gradual despertencimento do meu corpo é o filho Vicente, de 14 anos, herdeiro direto da maior parte do guarda-roupa.

E não desfruto nem da vantagem do fisiculturismo. Como diz o mano José Klein, é largar a academia e todos elogiam que você emagreceu, é encarnar na academia e todos comentam que você engordou.

Nunca tantas pessoas acariciaram a minha barriga destacando o sobrepeso e recomendando regime.

Publicado no Portal Vida Breve
Coluna Semanal
26.10.2016

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