Foto de Gilberto Perin
Quem não tenta fixar o último beijo, reprisar a última frase, recuperar a derradeira mensagem, sofre menos com a separação.
Quem não colecionava fotos, não se preocupava em guardar pasta do casal nos meus documentos, sofre menos com a separação.
Quem não tinha fé quando faltava compreensão sofre menos com a separação.
Quem não comemorava os meses quebrados, depois os anos inteiros de relacionamento, não fazia a ordem cronológica dos diálogos, não recuperava as grandes piadas, não conservava os maiores encantos, sofre menos com a separação.
Quem não trazia as alegrias para as brigas, mesmo as minúsculas, para suavizar a raiva, sofre menos com a separação.
Quem não desenvolvia dialetos, expressões, não dava apelidos carinhosos, não infantilizava e envelhecia o outro para recuar e avançar em todos os tempos da vida, sofre menos com a separação.
Quem não abria a agenda para preparar jantar em casa, regado a vinho e músicas prediletas, quem não telefonava para avisar da lua cheia no céu, sofre menos com a separação.
Quem não criava presentes, não escrevia cartões e cartinhas antes de sair em viagem, quem não preparava declarações públicas nas redes sociais, sofre menos com a separação.
A dor é memória multiplicada, do que aconteceu e, em especial, do que não aconteceu.
Só sofre quem se comprometia a lembrar de tudo porque nada era insignificante.
Homens e mulheres de pouca memória estão salvos, não conhecem a angústia do amor.
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