Arte de Eduardo Nasi
No relacionamento temos pressa. A ânsia de acertar e ser compreendido. A ânsia do encaixe e de apaziguar as diferenças. A ânsia de espantar antigos problemas de convivência e afugentar implicâncias. A ânsia de ser feliz e não pensar mais no assunto. Às vezes o namoro e o casamento são compreendidos equivocadamente como abandono dos problemas amorosos e não são admitidas as divergências naturais de quem precisa se completar devagar.
Uma imagem interessante é o modo como a pessoa se movimenta pela casa.
Há aqueles que pegam o pote pela tampa, nem sempre a tampa está devidamente fechada, e o risco de cair e quebrar é imenso. O impulso é condenar o parceiro ou parceira por não ter enroscado com cuidado o frasco, não percebendo que a fragilidade vem do próprio costume de impor pressa na rotina.
Há um segundo grupo, temerário, que antevê a queda e segura o pote pela base, jamais dependendo dos demais. Não repassa a responsabilidade, muito menos gera discussões indevidas. Perde tempo olhando e manuseando o objeto com firmeza.
Diferente daquele que alça pela tampa e que, no afã de economizar tempo, perde grande parte do seu dia procurando culpados pelos seus atos.
A tampa é também aparência. Entra-se num romance sem uma base de amor próprio e calma para oferecer. Tudo é julgado instantaneamente e executado sumariamente, no atropelo do presente. Quebra-se o laço com muita facilidade já que não há a perícia da independência e da solidão para desembaraçar o que é de si daquilo que é da companhia. Ocorre uma simbiose prejudicial de identidades, longe de uma reserva emocional e de uma poupança que deve se levar para um relacionamento para não sobrecarregar o outro.
Casamento e namoro não são feitos somente daquilo que você vive com quem ama, mas tudo o que soube viver antes de amar e carregou para dentro da relação.
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