quarta-feira, 15 de outubro de 2014

MÃO PELUDA

Arte de Eduardo Nasi

O homem pode ser definido pela natureza de sua punheta.

Há o que recorre a punheta nostálgica, aquela dirigida a alguém do passado, a um caso tórrido, a repetição de uma cena antológica. Chega ao extremo patético de alimentar fantasias com a ex (enquanto esteve casado, pensava em outras). Ele não inventa nenhum enredo, é fiel à memória e às sensações vividas. A excitação surge da memória, da absorção dos detalhes, das descrições de cheiro e de som. É um fetichista, busca repetir rituais e sensações experimentadas.

E há outro tipo que faz a punheta esperançosa. É o menos romântico. Joga o enredo ao futuro mais próximo. Junta pedaços do seu dia a dia e personagens reais para compor seu orgasmo particular. Seu prazer é a projeção, o que pode acontecer. O sexo vem da imaginação, do inesperado, do imprevisto, da colagem aleatória de seu cotidiano.

Não sou muito de me masturbar. Uso a mão em último, último caso. Tenho uma visão machista e simplista de que, ao me masturbar, estou perdendo de transar. Ninguém me convencerá do contrário: a punheta é o fracasso da noite.  

De qualquer modo, sou um sequelado. Vim de uma infância que não se falava abertamente sobre o assunto, permeada de ameaças bíblicas.

O mundo inteiro ficava com medo de se masturbar para que não crescesse pelos nas mãos.

A escola era um laboratório de lobisomens, de macacos de proveta.

O padre Alfredo avisava: saberemos quem está se tocando, não adianta disfarçar.

Já me enxergava amaldiçoado, um primata pulando em galhos, subindo nos telhados.

Ainda existia a revista das unhas e dos cabelos (prevenindo piolhos), para apavorar a gurizada. A professora examinava nossa higiene antes do início das aulas.

Eu escondia minhas mãos nas mangas ao máximo possível. Vá que aparecessem tufos indesejados e fosse arremessado para as caldeiras gigantescas dos demônios.

Num esforço exagerado, escrevia com o dorso deitado na superfície da classe. O lápis esticado quase como um pincel.

Mesmo em manhãs quentes, não me furtava de vir de luvas, defendendo que era um estilo, que gostaria de ser pugilista. Disposto a justificar a extravagância, imitava a dança do Rock Balboa, de um lado para o outro, como se estivesse batendo em carnes no frigorífico.

Deixei de sofrer por mim quando Anselmo entrou na escola, um guri dois anos mais velho, já com algumas repetências no currículo.

Quando ele me estendeu o braço para me cumprimentar, gelei, levei um susto. O novo colega tinha uma longa penugem cobrindo os dedos.

A turma espalhou que ele se masturbava trinta vezes por dia. Sem parar. Quando ia ao banheiro, aproveitava para aumentar a média.

Todos o olhavam com reverência e receio.

O que ninguém entendeu é que logo ele foi escolhido para ser coroinha do padre Alfredo.





Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
15/10/2014

3 comentários:

Flávio P. Reis disse...

Carpinejar, você fala do patético que lança mão do ato em memória às falecidas com tanta propriedade...
Acho que temos -você, eu e ele- muito em comum... e sem deixar de sermos também os românticos esperançosos...rs

obat kencing manis disse...

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