Arte de Federico Zandomeneghi
Minha mãe é de família italiana, de Guaporé.
Ela se expressa por gestos, passional, exagerada.
Tem a mania irritante de conversar batendo no ombro.
Está nervosa e começa a me dar tapas na hora de falar.
Apanho toda vez que ela conta uma história.
Já tenho medo de escutar.
Ela chora com uma lembrança bonita e me empurra de emoção.
- Olha que lindo! Não é lindo?
Não para quieta com a mão. Vive me esmurrando sem querer.
Sua voz é um martelo.
Não tem como olhar para os lados.
Lá vem uma fofoca nova e mais um tapa.
Quando está alegre, segura meu braço para que possa ouvir melhor.
Quando está triste, sou espancado com cutucões.
Eu enchi o saco depois de décadas de agressão amorosa:
- Para de me bater, mãe! Por favor, conversa sem bater. É muito chato. Ninguém gosta disso.
Ela me olhou com ternura:
- É que sou sinestésica.
Ah bom, agora chatice tem um novo nome: sinestésica. Ver com o tato.
As palavras difíceis sempre salvam as mães.
Ouça meu comentário na manhã desta terça-feira (25/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo:
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