Ela pode ter sido prostituta, ela pode ter sido usuária de drogas, ela pode ter se relacionado com quantos homens quisesse ao mesmo tempo, ela pode ter feito apologia de armas em sua página pessoal, pode ter dançado funk até cansar, pode ter saído de minissaia e sem sutiã, pode ter se encontrado de madrugada, pode ter fantasias eróticas de violência, pode ter se calado de vergonha, nada justifica o estupro, nada justifica ter sido contrariada, ter sido coagida, ter sido barbarizada, ter sido filmada agonizando. Ela não consentiu com a transa, muito menos com a transa coletiva, muito menos com a gravação absolutamente debochada e sarcástica no momento em que sofria. Ela foi violentada em todos os seus direitos por uma gangue de boçais.
Se alguém usar um desses argumentos para relativizar o ocorrido deve pôr a mão na consciência para ver apenas que não tem mais consciência. Está sendo álibi da misogonia no país.
A mulher não é culpada por ser mulher, não tem que se esconder ou disfarçar que é mulher, não tem que se preservar e ser recatada para não chamar atenção.
Se um homem tivesse sido estuprado por 33 sujeitos armados ninguém duvidaria de seu sofrimento. Ninguém colocaria em dúvida o seu depoimento. Ninguém insinuaria que ele facilitou o desenlace. Ninguém descontaria a sua dor pelas suas experiências anteriores.
O passado foi uma escolha dela, o presente é também a sua escolha e ela não quis sexo, ela foi dopada, manipulada, sequestrada e forçada por dezenas de homens covardes e brutais, pretendendo conseguir o prazer à força. Não tinha como se defender, como pedir ajuda, como escapar. Era uma menor indefesa naquele instante.
Os seus antecedentes não diminuem o crime. Os seus gostos culturais não atenuam a monstruosidade. A barbárie é digna de guerra civil, de uma sociedade sem rapidez de polícia e de Justiça, com os presídios lotados, em subcondições.
Jamais a vítima será culpada. Ela tem o direito de definir quando quer ou não quer, quando deseja ir embora ou quando pretende ficar. Não é não, não não é charme, não é que ela está se fazendo de difícil, não é que ela está seduzindo e ganhando tempo. Não é não. Ir para um lugar perigoso não significa assumir riscos. Vamos parar de hiprocrisia.
O machismo é explicar o que não tem explicação. O estupro coletivo é inexplicável. O inexplicável merece condenação sumária.
Publicado no dia 31.05.2017 no Jornal Zero Hora
4 comentários:
Se eu te contar que estou de cama de tão abalada que fiquei com essa barbárie toda vc acredita? E não estou falando apenas da barbárie estupro que por si só é o que de pior pode haver. Mas, estou tbm falando da barbárie toda que vc muito bem relacionou em seu texto. Estou em choque com a sociedade. Estou mal pra caramba...
Falou tudo. Não existe justificativa para estupro. Não existe o "mas", porque o "mas" nunca vai ser objetivo, mas sempre dependerá do julgamento de alguém sobre quantos centímetros a menos tinha a saia, ou quantas horas a vítima adentrou uma madrugada, se estava em um baile funk ou em um show de rock, se estava voltando do trabalho ou da balada. Não existe QUALQUER justificativa para o estupro. #pontofinal.
Falou tudo. Não existe justificativa para estupro. Não existe o "mas", porque o "mas" nunca vai ser objetivo, mas sempre dependerá do julgamento de alguém sobre quantos centímetros a menos tinha a saia, ou quantas horas a vítima adentrou uma madrugada, se estava em um baile funk ou em um show de rock, se estava voltando do trabalho ou da balada. Não existe QUALQUER justificativa para o estupro. #pontofinal.
Fabrício, vou tomar a liberdade de novo, para postar seu texto, parece que quando um homem se manifesta contrário a esse tipo de barbárie, as pessoas aceitam, enquanto que a mulher não tem voz, nem aceitam a nossa opinião!
Agradeço, abraços carinhosos
Maria Teresa
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