sexta-feira, 7 de outubro de 2016
FÁCIL SE SEPARAR, DIFÍCIL VOLTAR
Texto Fabrício Carpinejar
Imagem Gilberto Perin
Você se separa por pouco e só volta por muito.
A ruptura aconteceu por uma bobagem, já a reconciliação invoca sérias mudanças.
Se a distância surge por um troco, retomar a proximidade pressupõe uma fortuna.
Excluindo a separação pelas razões radicais de infidelidade e incompatibilidade, ela tende a ser desencadeada por nada: uma diferença que transbordou ou uma grosseira fora de hora. O estopim das crises vem de pretextos bobos, ou é o lixo que não foi levado, ou é a louça que não foi lavada, ou é um ciúme gratuito. Ninguém se separa por grandes causas, em defesa de um plano educacional ou em nome da reforma agrária. A separação é deflagrada por motivos banais e egoístas, não emerge de conflitos ideológicos e argumentações generosas a favor da coletividade.
Por sua vez, o retorno vira uma epopeia, ninguém aceita o outro de volta facilmente.
Se quebrou os pratos porque recusou gastar em um pulo à serra agora o ressarcimento da união depende de uma viagem internacional.
É simples se separar e é extremamente difícil voltar. A separação é barata, a reconciliação é cara.
Do grito de nunca mais à súplica por mais uma chance, migrará da avareza ao endividamento.
Para resolver as discussões de relacionamento, bastava atender a uma mera lista de supermercado. Após o término receberá uma lista de exigências de sequestrador.
Para a reconciliação, você precisa fazer em um dia o que não fez durante toda a relação. Não é somente corrigir o que originou a discussão, fica condicionado a cumprir o que gerava silenciosa insatisfação na companhia. O suave retoque e as rápidas aparas no temperamento cobrados anteriormente não servem mais, resgatará o status mediante uma completa cirurgia plástica na personalidade.
Na briga, é se desculpar que os laços são refeitos. Na reconciliação, não é somente verbalizar o perdão, você será testado e humilhado, condenado a provar o efeito das palavras em atitudes e gestos em longo período de experiência.
Ou seja, para obter o reato você perdeu absolutamente tudo o que conquistou e mais um pouco. Não está na estaca zero, mas no negativo, arcando com juros abusivos.
Na hipótese de sair de casa por um desentendimento na programação de sábado, para recuperar o amor, será obrigado a largar o futebol de terça e o chopp com amigos na quinta, que não tinham nenhuma conexão com a pendenga. Retornará para a residência mais pobre moralmente e com menos autoridade do que quando partiu. Assumirá privações para liquidar a saudade e aceitará concessões impensáveis para convencer que o fim não irá se repetir.
Se você se separou porque não queria assumir o namoro, apenas conseguirá a mulher de novo ao pedi-la em casamento.
Pense duas vezes antes de se separar para não pagar quatro vezes mais a volta.
Publicado no blog do Jornal O Globo
Coluna Semanal
07.10.2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Saí recentemente de um relacionamento de sete anos... Lindo, com companheirismo, um dia ele disse que era mais amizade e senti que mais do que o amor ele queria sua liberdade!...
Não sei porque escrevo "aqui" rs... Aposto que não lê, mas me identifico tanto com seus textos e nesse meu momento de reflexão e angústias encontro abrigo nas letras alheias...
Ao pensar em mim, vi o quanto o que escreveu é real... Não sei se conseguiria o retorno, apagar as dores da separação e aceitar o mesmo nível...
Bom, gostei do desabafo... "nosso" ;-)
Abraços =)
amiga passei pelo mesmo caminho aceitei o retorno que foi mil vezes pior... sofri demais por mais 4 anos ...e por fim graças a deus me separei definitivamente. Fui pra terapia me calei pra aceitar mas no fundo nunca o perdoei!!!Qdo saiu dizia que se sentia sufocado que nosso casamento estava desgastado e que casamento não precisava ser pra vida inteira!!!dois dias depois tive a oportunidade de saber que tinha outra!!!!Meu grande arrependimento ter voltado ....mas hoje tenho a consciência tranquila que tentei....a vida segue!!!!abs
Postar um comentário