Arte de Eduardo Nasi
Uma das minhas melhores sensações era a toalha com capuz. Lamento que esta peça tenha exclusividade infantil e que não levamos para a vida adulta.
O que carregamos para a maturidade, em compensação, é o roupão, o que não acho que foi um bom negócio. Pelo menos para ala masculina, já que as mulheres adoram o cinto e a possibilidade de amarrá-lo.
O roupão é exagerado, abafado, pesado, um blazer de banho, uma cortina que vem acompanhada do blecaute.
Existe sempre a dúvida se a pessoa deixou o chuveiro ou está entrando no tatame. É mais uma roupa do que uma toalha — ideal para os preguiçosos, que não gostam de escolher o que vestir.
Sinto falta da toalha com capuz. De sua humildade e singeleza. De sua espontaneidade mágica. De sua funcionalidade despojada.
Largava a ducha ou a piscina e já me via acolhido. Não era apenas uma toalha para me secar, era uma toalha para ficar com ela até me secar. Um moletom fino que espantava o frio no inverno e não aquecia demais no verão.
Eu andava com a toalha como se fosse uma amiga de pano, longe da pressa e da mera utilidade. Segurava a toalha pela cabeça, sem a necessidade das mãos. Equilibrava seu tecido com a direção dos olhos.
Ela também colaborava com a imaginação e o faz-de-conta. Podia brincar que estava com uma capa de super-herói e correr com a impressão de voo. Podia inventar um escudo de invisibilidade e esconder meu rosto. Ou fingir que lutava boxe e desafiar as moscas e varejeiras. Ou ainda me disfarçar de templário em aventuras medievais para proteger o Santo Graal do refrigerante da ameaça das abelhas.
A toalha de capuz coroava a infância. Havia todo um reinado de fábulas me esperando.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
18/02/2015
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