quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

PAI PASSARINHO

Arte de Anastasiya Markovich

Minha filha de 21 anos veio com aquele papo estranho quando eu dava carona:

- Você não vai morrer cedo, né pai?

- Não, Mari, não vou morrer.

Depois de dez minutos, ela voltava com o assunto:

- Não vai morrer mesmo? Sabe que te amo muito.

- Eu também te amo muito. Ainda passaremos grandes momentos lado a lado.

Ela não se acalmava com as minhas respostas.

- Vou ficar furiosa se morrer, entendeu?

- De onde tirou esta preocupação, minha filha?

- É que você anda muito distraído. Como os passarinhos que quebram o pescoço e morrem.

Meu pescoço não quebrou, mas meu coração me arrancou do chão. Vi que minha filha não ama somente seu pai como uma fortaleza e um referencial de segurança. Amadureceu. Eu não sou mais eterno, o nosso sentimento que é eterno. Agora ela ama também a minha fragilidade, ama combatendo minha finitude, ama me protegendo e me salvando dia a dia com seu amor.

Ouça meu comentário na manhã de sexta-feira (20/2) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Jocimar Farina e Kelly Matos:

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