Ela não aceita que chamem seu namorado de feio, diz que ele é apenas desarrumado.
Ela não aceita que chamem seu namorado de vesgo, diz que ele olha para todos os lados por segurança.
Ela não aceita que chamem seu namorado de vampiro, diz que ele tem um sorriso de criança.
Ela não aceita que chamem seu namorado de confuso, diz que ele procura a palavra certa.
Ela não aceita que chamem seu namorado de estranho, diz que só é estranho aquilo que a gente não conhece.
Ela não aceita que chamem seu namorado de retraído, diz que ele é apenas educado.
Ela não aceita que chamem seu namorado de tolo, diz que ele é um sonhador.
Ela não aceita que chamem seu namorado de desocupado, diz que ele estuda muito e um dia será
famoso.
Ela suspira descrevendo o que é a mão dele suando na mão dela, o quanto se arrepia quando ele beija sua testa, o quanto se sente orgulhosa de andar abraçada nele, o quanto logo que se afasta já quer voltar para perto, o quanto a saudade elimina os defeitos, o quanto o coração bate inesperado quando ele deseja uma “Boa aula” ou comenta que “Foi bom te ver”.
Ela não aceita que falem mal de seu namorado. Porque não é qualquer um, é seu namorado, é o homem que ela escolheu entre todos os homens que ela viu passar.
A beleza vem de sua verdade, de nenhum outro lugar mais seguro. Ninguém tira e ninguém atrapalha sua crença. Não serão os pais, os amigos, os colegas que a farão pensar o contrário. O sentimento não muda de opinião.
Ela me apresentou seu namorado em Teresina, quando participava do Salão do Livro do Piauí (Salipi):
– Não é lindo?
Eu achei mesmo o menino lindo. O menino encabulado atrás dela. O menino escondido na moldura crespa dos cabelos dela. O menino e sua leoa. O menino e sua protetora. O menino que amadurecerá protegido por aquela mulher, que conseguirá superar os preconceitos e o bullying pela devoção milagrosa.
Não há como desmanchar um amor vira-lata. Porque o vira-lata não foi escolhido pela sua formosura, mas definido pelo território insondável da ternura.
Adota-se um vira-lata pelo jeito torto que anda, pelo lampejo do olhar miúdo e de pobres cílios, pela carência de seus meneios.
Um vira-lata será chamado pelo nome, não pela sua raça e pedigree.
O vira-lata tem resistência, tem humildade, tem sabedoria de rua.
O vira-lata será sempre grato. Não precisa de nada para ser feliz; basta ser simplesmente amado.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.32
Porto Alegre (RS), 14/06 /2015 Edição N°18193
Um comentário:
Nossa Carpinejar adorei esse texto ,realmente muito lindo!!!Na verdade gostei do blog todo ,não consigo parar de ler seus textos.Parabéns adoro você e a forma que você escreve.Abraços !!
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