Homem pode sair sozinho para uma balada e não vai parecer um psicopata.
Pelo contrário, será visto como um caubói, corajoso, livre atirador.
Sempre haverá um balcão para sentar e se mostrar seguro, sempre haverá um barman para puxar conversa e se distrair enquanto o tempo passa. Não depende de matilha e bando para se sobressair. Usufrui de independência para correr riscos, sem a pecha do isolamento, sem a carga social do abandono, sem a obrigatoriedade de uma cumplicidade aos seus crimes amorosos.
Já há um preconceito contra as mulheres.
É ela estar sozinha num bar em alta noite que já recebe todas as suspeitas. É fotografada culturalmente mais do que terrorista lendo jornal em metrô.
Torna-se dependente de uma amiga. Toda mulher precisa de uma amiga solteira. É um item indispensável para alçar voos e mergulhar na boemia.
Não pode somente aceitar o encontro de um homem para uma festa, precisa convencer a amiga, o que não é uma operação simples, mas uma trabalheira.
A aposta de flerte acaba sendo um convite coletivo.
Para um encontro a dois, a mulher recorre a um plano diabólico, a uma operação militar, a um cavalo de Troia.
Tem que cavar atrativos para tirar a sua amiga de casa. No desespero, é capaz de se oferecer para custear o táxi e a consumação. Ou de buscar e levar de volta. Ou de emprestar uma roupa e, inclusive, pagar a manicure.
A ala masculina não faz ideia do esforço de agenda: telefonar sem parar para voluntárias. Pior do que marcar futebol numa segunda-feira chuvosa.
O “sim” para ver alguém logo vira um “e agora, quem vai comigo?”. Bate um terror, uma caça às bruxas, uma acalorada licitação no Facebook.
A mulher é obrigada a trabalhar e ainda achar uma fresta em seu rápido intervalo para efetuar ligações e mandar mensagens e descobrir quem está disponível para a camaradagem e explicar a aproximação com aquele candidato.
Largar a vida de solteira requer primeiro persuadir uma confidente, com nenhum motivo em especial para o programa. Pois o papel da acompanhante não deixa de ser vexatório. Cumprirá a sina de segurar a vela e desfrutar do timing para abandonar a cena de fininho quando pintar uma atmosfera romântica. Sofrerá o constrangimento de se preparar e se maquiar para nada, apenas para atender aos caprichos de uma amizade.
Há grandes riscos de desistir da roubada na última hora e duplicar o caos da interessada.
E o que era difícil – arrumar uma companhia – transforma-se em missão quase impossível – arrumar uma nova companhia em cima do laço.
Mulher sofre para seduzir. Não subestime o que ela enfrentou para estar com você frente a frente.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.32
Porto Alegre (RS), 30/08 /2015 Edição N°18279
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