Arte de Eduardo Nasi
A primeira é aquela que me inspirou a crescer, lembro perfeitamente que dependia de uma almofada e fui dispensando os apoios até o queixo alcançar o espelho. Tempos ambiciosos, em que festejava cada centímetro da altura.
A segunda é a que sinto mais saudade.
As casas estão abandonando a cadeira de balanço. É um animal de vime que está desaparecendo, quase extinto.
A cadeira de balanço é uma síntese poética da família. Do ideal de família.
Revela uma extensão do berço, perfeita para cantiga de ninar. Servia para amamentar as crianças. Todo quarto de gestante dispunha de uma delas ao fundo, para as madrugas de cólica e insônia. Acalmava o bebê e também não castigava as costas maternas.
Não é uma peça de madeira qualquer, trata-se do mais próximo que uma cadeira chegou do status de poltrona.
As crianças faziam fila para experimentar. Misto de brinquedo e assento, de balanço e cômodo.
Meninos e meninas brincam nela e logo pulam porque se divertem com o corrimão de escada.
Ninguém se recosta numa cadeira de balanço e levanta em seguida. Ela tem uma hipnose vadia de rede.
Ninguém se recosta numa cadeira de balanço e não se movimenta. Ela impulsiona os pés a testar a gravidade do dia.
Uma cadeira de balanço é um cavalo apeado. É a nossa nostalgia rural, do pampa e das ininterruptas fazendas. Talvez seja uma carrete que roubamos do interior para não nos perdermos de todo o campo. Tanto que as suas pernas são enxadas descansando.
Uma cadeira de balanço embeleza onde estiver, preenche o espaço como uma escultura e não machuca os pés distraídos.
Ela é uma varanda dentro de casa, feita para educar os suspiros.
É um ioiô de lembranças, o passado vem e some, vem e some.
Uma cadeira de balanço é uma companhia para diminuir a solidão dos mais velhos. Ela rumina de um lado para outro. Com piso encerado, pode, inclusive, falar.
Uma cadeira de balanço é um assento que tem frio, que sofre com o inverno, e recebe o xale de crochê aos ombros.
Uma cadeira de balanço é como sentar no colo da mãe, da avó, da bisavó. Apresenta um quadril largo de praça, de conforto e brisa.
É o único móvel onde se pede licença para subir e benção para descer.
Um comentário:
Cadeira de balanço diferente?
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