Foto de Gilberto Perin
Homem ou a mulher, quando trai, quando sustenta um caso por meses ou anos, quando alimenta vida dupla, quando falseia descaradamente onde estava e o que fazia, perde moralmente qualquer posição para exigir meio a meio na separação.
É um sentimento, não o que está na lei.
Deveria sair de casa com a roupa do corpo e não levantar o queixo para resmungar ou ensaiar qualquer apelo.
É baixar a cabeça e sair de fininho, como numa canção sertaneja.
Perderá a sua metade da louça, a sua metade dos móveis, a sua metade da casa. Aquela metade que tinha direito não tem mais - a indecência mandou embora.
O que vier de volta será lucro. Mas não deve pedir nada, depende da generosidade de quem ficou. Na maior parte das vezes, aquele que é traído cria nojo e despacha um frete do que restou, já que não quer guardar nada que lembre o ex ou a ex.
Mas aquele que trai deve deixar tudo para trás. Não é por compensação ou para amenizar o prejuízo amoroso, mas por vergonha mesmo. Precisa ter vergonha na cara para não exigir mais nada e apenas pedir perdão.
Profanar o santuário a dois impactará no uso da verdade dali por diante. Uma mentira não mata somente uma verdade circunstancial, mata a retrospectiva das verdades de uma vida. Porque envolve amantes, porque estabelece a paranoia de uma disputa. O que foi enganado não tem noção daquilo falado fora da residência.
Quando errei, deixei apartamento, deixei biblioteca, deixei coleção de décadas de vinil, deixei gavetas de sapatos, deixei dezenas de ternos, deixei objetos de infância, deixei álbuns de fotos, deixei o que comprei com o meu dinheiro. E aprendi o quanto custa uma traição. É matar a esperança do amor mais do que o amor, é perder tudo o que fez de valioso dentro da fidelidade, é trocar os dias sem segredos pelas noites de mistério.
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