Arte de Karl Brullov
Há gente que nunca recebeu uma carta - acho uma pena. É lindo. É um suspense. Carta está lacrada, precisa abrir sem rasgar o conteúdo, traz aquela sensação do destinatário ser especial, exclusivo de alguém. Como não tem assunto como o e-mail, reforça a curiosidade e a nossa importância de fazer segredo.
Além disso, a carta é quando dedicamos o nosso tempo a alguém. Não há maior declaração de amor do que perder tempo para uma pessoa. É escrever várias vezes até não errar mais, jogar rascunhos fora, definir a melhor frase, caprichar na letra, comprar envelope, ir no correio, selar a correspondência, procurar o CEP.
Tenho pena de quem nunca mandou uma carta. Não viveu aquela ansiedade feliz de esperar para descobrir se a pessoa gostou daquilo que foi escrito. Este intervalo é fundamental para imaginar o outro, sonhar com o outro, amar o outro.
Ouça meu comentário na manhã desta terça-feira (15/9), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:
2 comentários:
E quando você, aos 18 anos de idade, apaixonada (paixão platônica) por um rapaz violonista clássico, a quem conheceu no Rio de Janeiro, manda uma carta dizendo que vai viajar no dia seguinte apenas para vê-lo e recebe um telegrama dizendo: "melhor não ir. Segue carta. Leo".
Eu quis morrer naquele dia.
Aí está algo que perdemos.
Quase na casa dos trinta, recordo-me que na escola havia um grupo de troca de papéis de carta, eu tive centenas deles, mas jamais os arquivei em pastas de plástico, mal os possuía e já escolhia o destinatário. Era uma festa. Escolhia os selos como se fossem convites, o envelope era o grande salão e as palavras eram a dança, em descompasso, da valsa na minha imaginação.
Postar um comentário