Mulher desfruta de larga vantagem na argumentação. Encontra sinônimos para se defender e redirecionar as frases. Espanca o seu namorado com a gramática, esmurra a imobilidade verbal masculina com o dicionário.
Fala tanto que o seu par fica tonto e já não sabe exatamente o que discutiam. São voltas e voltas nas lembranças, reprises e resumos, que ele perde o caminho da conversa.
Mulher é ilusionista dos conceitos, mágica dos eufemismos. Diante do beco sem saída das palavras, termina voando. Enquanto o sujeito caminha, obediente às leis da gravidade, ela alça voo sobre o próprio discurso. Era proibido voar até aquele momento, de repente é permitido e ele que não aproveitou as asas da imaginação.
As regras da retórica mudam a toda hora, não adianta decorar. A lógica é emocional, a coerência é pessoal, não são contendas lineares.
DR para a mulher é equivalente à média harmônica do vestibular: as provas têm pesos diferentes e cálculo secreto.
Quando o homem aponta problemas, ela alega que não aguenta ser criticada. Provoca a maior choradeira, com o pretexto de que ele não para de cobrar e ver defeito em tudo.
A culpa enfraquece a virilidade. O escorpião pede desculpa e se transforma em caranguejo. O homem aprende que não deve reclamar e precisa buscar os pontos positivos do romance.
Mas é sofrer o mesmo que o mesmo não é o mesmo. A lição assimilada não vale mais.
Se ela desfia os erros da relação e o seu parceiro chama a atenção (porque faz o que diz para não fazer), a mulher acha um modo de alterar a natureza da crítica:
– Não é uma crítica, é uma constatação!
Ou seja, ele critica e ela constata, ainda que estejam abordando igual conteúdo. Ela pode destruir o seu parceiro a partir da desculpa que só vem falando a verdade.
Não resta alternativa. Assim como o sarcástico somente brinca, jamais fala sério, assim como o pessimista não puxa ninguém para baixo, é apenas um realista.
Quando for questionado, entenda que a mulher não está colocando o dedo em sua ferida, porém estancando o sangramento. Agradeça que dá menos trabalho.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.36
Porto Alegre (RS), 13/09/2015 Edição N°18293
2 comentários:
Kkkkkkk.. Bem isso!
De duas uma: ou eu sou homem ou você é mulher.
Me faltam sinônimos, sintomas e sentidos.
Me faltam os vocábulos que em ti sobram.
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