A vassoura e o rodo são figuras antagônicas em casa. Não têm igual temperamento.
Podemos distinguir as pessoas em dois grupos. Algumas varrem os problemas um pouco por vez; outras, unicamente limpam quando o piso está comprometido.
A vassoura é para quem cuida da sujeira um pouco por dia, o rodo é para quem deixa para socorrer o chão tarde demais.
A vassoura é filha do vento e do sol, o rodo é filho da água e da noite.
A vassoura é gentil, o rodo é abrupto.
A vassoura é casada com a pazinha, o rodo é solteiro.
A vassoura mima o tapete, o rodo esnoba o balde.
A vassoura sai para a rua e fala com os vizinhos, o rodo vive trancado e não gosta de conversa.
A vassoura solta os cabelos, o rodo esconde a calvície com o turbante.
A vassoura é supersticiosa, acredita em bruxas e simpatias, o rodo é ateu.
A vassoura procura mostrar o que está escondido debaixo do tapete em montinhos, o rodo joga tudo para o ralo.
A vassoura é véspera, o rodo é calamidade.
A vassoura é paz, o rodo é desespero.
A vassoura é controle, o rodo é descontrole.
A vassoura é chamada para qualquer hora, o rodo só é chamado em caso de alagamento.
A vassoura fica atrás da porta, o rodo apenas é visto em banheiros sem cortina.
A vassoura enfrenta degraus, o rodo aproveita declives e lombas.
A vassoura dança, o rodo não mexe o quadril.
A vassoura se molda ao mundo, o rodo é quadrado.
A vassoura se espalha, o rodo se isola.
A vassoura faz amizade com as folhas, o rodo manda embora.
A vassoura trabalha em equipe com a lixeira, o rodo trabalha sozinho.
A vassoura passeia em manhãs e tardes de sol, o rodo pisa em poças.
A vassoura solta os braços, o rodo tensiona os braços. Com a vassoura, erguemos o queixo; com o rodo, baixamos a cabeça.
A vassoura tem esperança de reencontrar brincos perdidos, o rodo empurra o que acha para o esgoto.
A vassoura pode ser de palha e queima, como toda paixão, o rodo tem borracha e não se mistura, como toda tristeza.
A vassoura se doa mais do que o rodo. O rodo reclama mais do que a vassoura.
A vassoura canta, o rodo grita.
A vassoura pede licença, o rodo é mal-educado.
A vassoura é feliz, o rodo é rabugento.
Apesar do mesmo corpo, as cabeças são totalmente diferentes.
Publicado no jornal Zero Hora
Porto Alegre (RS), Edição N°
Um comentário:
Amei!
Postar um comentário