sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A MINHA TRISTEZA PASSA RÁPIDO

Arte de Cundo Bermudez

Hoje completo 43 anos.

No primeiro aniversário que fiz para a os amigos, ninguém foi.

Foi um vexame. Foi um desastre. Foi um mico.

Tinha sete anos, cursava a primeira série, a mãe inventou de fazer a minha festa num feriado. A minha primeira festa para os outros.

O convite era do Flash Gordon, meu herói predileto na época.

A mãe e as irmãs passaram a semana preparando brigadeiros, branquinhos e salgados.

Estava me sentindo muito importante.

Eu fiquei na frente da casa esperando os meus convidados. Vestido de macacão e gravata borboleta. Jamais repeti esta combinação maluca na vida.

Morava numa residência de esquina.

Todo mundo que subia a lomba da Rua Corte Real, eu pensava que era alguém que chegava para a minha festa.

Gritava para os irmãos: - Agora sim!

Mas me enganava, as pessoas seguiam reto para seus compromissos. Não era para mim. Nunca era para mim.

Fiquei mais de duas horas plantado na frente de casa controlando todos que se aproximavam. Tão plantado que devo ter dado frutos e pássaros pousaram em meus ombros.

Até que anoiteceu, até que o pai pediu que entrasse, até que acabou o meu sonho de receber presentes dos colegas da escola.

Quando vi a mesa posta, com docinhos, cachorro-quente e salgadinhos para um exército, me deu uma pena de mim. Depois vi a torta imensa e a cara triste da minha mãe, daí me deu uma pena imensa de minha mãe. Guardei a lágrima, mais preocupado com ela, e busquei consolá-la:

- A gente pode congelar a torta para o ano que vem, não fica triste, mãe.

Sempre a tristeza dos outros é mais importante do que a minha tristeza, por isso a minha tristeza passa rápido.

Ouça meu comentário na manhã desta sexta-feira (23/10) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:


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