Arte de Eduardo Nasi
Quando o homem começa a acertar no relacionamento, já sofreu muito.
Quando o homem começa a ganhar na paixão, já tem um histórico de derrotas no coração.
Quando o homem começa a ser feliz no romance, já apanhou bastante em sua infância.
Atravessou os piores sentimentos como a inveja, o ciúme, a desvalia e a saudade antes de experimentar o amor.
Como ele amadurece bem mais tarde do que a mulher, não tem igualdade de condições para arrebatar suas colegas de escola.
As gurias do fim do Primeiro Grau, na minha época, por exemplo, de 13 anos, só ficavam com os caras mais velhos, de 16 anos para cima.
A concorrência era desleal.
Nós, da mesma faixa etária, rascunhávamos bilhetes e jogávamos fora, ensaiávamos frases por dizer e gaguejávamos na hora de reproduzir o seu conteúdo arrebatado. Nossa interação resumia a dividir a pastelina e o refrigerante. Ou sonhar com uma aproximação durante o trabalho em grupos.
Mas bastava sair dos limites da escola que desaparecíamos. Não existíamos. Evaporávamos.
Vinham os forasteiros. Alguns na universidade, alguns de carro, alguns falando grosso, alguns de barba enquanto ainda exibíamos a penugem transparente de um bigodinho.
Sequestravam intelectualmente as nossas garotas. Para além da noite e dos nossos olhos.
A maior parte delas namorava com os caras fora do nosso círculo. Não tínhamos chance. Representavam homens feitos, com quarto para namorar e dinheiro no bolso.
Além da desvantagem do tempo, havia uma injustiça na divisão dos recursos. Sem privacidade, seguíamos com uma rotina cigana, migrando da praça de alimentação dos shoppings para os bancos das praças, indo a pé da escola naquela vaga esperança de economizar a grana do ônibus. Impossível levar qualquer menina para casa, sofreríamos com o inquérito e espionagem da mãe.
Aspirávamos a primeira relação com elas, mas nem atingíamos o degrau do beijo. Não queriam saber dos piás, dos fedelhos, das crianças que voltavam suadas do recreio, com o gambito das pernas e as costas arqueadas.
Não desfrutávamos de peitoral e da simpatia bronzeada dos surfistas.
Quantas meninas amei sigilosamente no Ensino Fundamental e jamais me declarei? Por quantas meninas chorei em segredo?
Restava-me ser o melhor amigo delas, o confidente, o corno manso do amor platônico.
Por isso, faço questão de ser mais velho. Sempre adianto a minha idade. Para recuperar os três anos que perdi no princípio da adolescência.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira 21/10/2015
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