O adulto toma banho de noite para relaxar, para se encaminhar à cama, para se livrar das toxinas do trabalho e desacelerar a mente. É como um mantra de relaxamento, ainda mais se desfrutar de meia-luz e roupão.
Já com criança o efeito do banho noturno é o oposto: um risco aos pais. Toda ducha recarrega imediatamente a bateria da prole, renova as pilhas dos filhos.
Daí eles ficam elétricos e insones, pulam na cama, derrubam brinquedos da estante e correm, loucos, pela casa. O pijama vira roupa de astronauta, a gravidade desaparece e os objetos não param no mesmo lugar.
Na verdade, creio que as crianças são Gremlins ocultos. São Mogwais disfarçados. Quando molhados no período noturno, começam a se multiplicar, saindo bolotas das costas, similares a ovos.
Trata-se de um acontecimento sobrenatural na vida familiar. Um poltergeist cômico. Da torneira, deve chover uma aplicação de adrenalina reservada exclusivamente ao mundo infantil.
Se você carregava o seu pequeno no colo diante de tamanha exaustão, se ele não conseguia nem andar e falar, se ele não ajudava a tirar a roupa, se a gola da camiseta trancava no pescoço, se ele baixava o queixo bêbado de cansaço, é entrar em contato com a água quente que ele amanhece de novo.
Água quente é ansiolítico para o adulto e ritalina para a criança. Água quente é aposentadoria para o adulto e renascimento para a criança. Água quente é calmaria para o adulto e ataque de nervos para a criança. Água quente é chá de camomila para o adulto e café para a criança.
Não existe pesquisa científica a fundamentar a minha opinião. É achismo e, ao mesmo tempo, pura perdição de pai.
Publicado em Vida Breve em 13/9/2017
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