O homem tem a incômoda língua para fora quando se esforça. É carregar algo ou gostar de uma situação que ele põe a tramela no canto da boca.
De repente, não mais do que de repente, prepara um wrap dobrando a sua língua.
Parece um louquinho com camisa de força. Uma criança fazendo careta. Um cachorro com sede. Não traz seriedade, não inspira confiança.
A língua para fora sugere problemas motores incontornáveis. Assusta quem dividimos intimidade, ameaça quem nem conhecemos.
Nenhuma mulher gosta, com a devida razão. Pois estraga a maior parte das selfies e das cenas amorosas. Isso que pode surgir no meio do sexo, com os espelhos do motel apontados para o corpo, provocando inevitáveis desdobramentos broxantes.
É um ataque epilético manso que acomete todo macho. Acontecerá jogando sinuca, levando as compras do mercado, batendo um pênalti, numa brincadeira no sofá, dançando em uma balada, levantando peso na academia.
Não há como apagar aquela porção de Coringa em nosso rosto, acalmar o Jim Carrey de nossas expressões. O contorcionismo poderia ser cômico se houvesse controle. Mas não tem como programá-lo ou desprogramá-lo. É um bug no sistema operacional masculino. Ainda corremos o risco de babar.
Trata-se de um movimento intuitivo, do princípio da linguagem, evocação da transição de gestos bucais nas cavernas, que emerge sem percebermos nas tarefas que exigem grande concentração. Só identificamos quando alguém chama atenção, mas já não existe desculpa convincente e reparo sociável imediato.
Às vezes, quando a esposa coloca a mão em meus lábios, não é para me silenciar, é para devolver o monstro ao seu lugar. Outras vezes quando ela me surpreende com um beijo não significa arrebatamento, é apenas uma mordaça, um selinho constrangido, destinado a interromper a vergonha de qualquer jeito.
Publicado em Donna ZH em 24/9/2017
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