O amor perdeu a sua pureza. Não é possível amar ingenuamente. Confiar primeiro para perguntar depois. Acreditar cegamente para se conhecer depois.
Antes dos anos 80, não havia nenhum mal em se apaixonar e perder a cabeça. Agora a cabeça é o novo coração.
Toda relação que se inicia pressupõe as cartas na mesa. Se o casal pretende transar sem camisinha, o que costuma acontecer diante da inadiável explosão química, é necessário apresentar exame do DST-SIDA. Não é paranoia, suspeita, ceticismo - significa a mais recente promulgada lei da atração.
Fazer o exame e mostrar o resultado positivo ou negativo é o primeiro pilar da construção a dois, o eixo da convivência. Tudo o que será feito e decidido seguirá o diagnóstico. E entenda-se que ter HIV, com a devida consciência, não atrapalha em nada a felicidade e o enamoramento.
Solicitar o exame ao par é a regra. O romance não terá o charme irresistível da confusão. Não terá a empatia do sonho. Romperá o encanto e a surpresa da pele, terminará com a mania do apaixonado de agradar a qualquer custo, de concordar em experimentar o desconhecido (um tanto excitante) e de jamais dizer não. A exigência resultará em constrangimento e conversa séria logo no começo, mas não é mais brincadeira. Tornou-se fundamental pré-requisito ao namoro.
O corpo é uma máquina mortífera, o sexo é uma roleta-russa, e a maior parte das pessoas não quer fazer o simples exame com medo do pior. E não sabem qual o seu estado de saúde e não deixam o outro saber. Milhares de pessoas desconhecem a sua condição sorológica e contaminam parceiros involuntariamente.
A prevenção não pode ser mais uma oposição à liberdade, um antagonismo para a fluidez das relações. A sinceridade, aliada ao autoconhecimento, deve anteceder o primeiro eu te amo.
Apaixonar-se é cuidar de si cuidando do próximo. Acostume-se com a ideia.
Publicado em O Globo em 29/01/2018
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