A provação mais severa de qualquer ex é aguentar a felicidade de sua antiga companhia. É engolir a seco que ela deu certo com outro ou consigo mesma. Exige discernimento e também elegância de não interferir onde não tem mais influência.
Como é raro encontrar alguém que entenda e respeite a despedida, que aceite o ponto final, que não seja leviano a ponto de despertar sentimentos perigosos (dos quais não acredita) prejudicando a inocência da palavra.
O que tem de ex saindo da tumba quando repara a alegria de suas outrora parceiras nas redes sociais. Ressurge quando identifica um namoro começando ou um círculo social ativo.
Nem costuma procurar em nome de amor perdido, mas por inveja e mesquinhez. Quer estragar a vida mesmo, roubar o entusiasmo, ser penetra na festa alheia e beber de graça. Pretende apenas complicar e criar dúvidas, por mera implicância. Não há o desejo genuíno de voltar, ocorre uma insaciável necessidade de competir.
Nem é saudade, e sim controle. Nem é culpa, e sim cobiça. Nem é ciúme, e sim possessividade. Nem é afeição, e sim orgulho contrariado.
Ex é criança mimada. Não valoriza o brinquedo até vê-lo nas mãos de algum coleguinha.
Não admite não ser a única fonte de carinho. Manda mensagem do além disfarçada de amizade.
De repente, o contato bloqueado no WhatsApp, o telefone riscado dos seus contatos, pisca no seu e-mail.
Parece que está preocupado, e começa a evocar lembranças enterrados da vida a dois ou de como foi bom o tempo que viveram juntos. Não resistirá e fará um auto-elogio: destacará a sua mudança por completa, um amadurecimento como nunca aconteceu e de que a distância foi importante para repensar as suas prioridades.
Engraçado que os separados sempre alegam que descobriram o equilíbrio interior.
Não caia na conversa mole. Existe um período imediatamente pós-separação para propor reparos. Desculpas atrasadas são coroa de flores.
Antes de responder, acautele-se das consequências. Toda ressurreição tem o lado perverso que é morrer de novo.
Mande a mala sem alça de volta para a esteira do aeroporto. A bagagem de sofrimento não mais lhe pertence.
Publicado em O Globo em 10/01/2018
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