sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O ESCÂNDALO MASCULINO

O homem pode matar barata com os pés descalços, não tem medo de esmagar mosquito com as mãos, mas ainda não consegue enfrentar uma mera gripe.

Arma um escândalo quando está gripado. É como se fosse desmaiar. É como se fosse um ataque de asma, uma pneumonia. Força a tosse, e só descreve as suas dores com resmungos. Joga o corpo para frente em uma epilepsia histriônica. Deita no sofá e lá fica na posição de almofada.

Transforma-se numa criança incapaz de medir a própria temperatura, de buscar remédio e preparar chá. Toda namorada é convertida em mãe, em enfermeira, em babysitter.

A casa torna-se uma creche, com as roupas espalhadas e objetos fora do lugar.

Enquanto a mulher gripada não diz nada, medica-se e segue com o trabalho, o homem realiza uma ópera. Entra em pânico, é preciso reinstalar o Windows do sujeito.

O nariz escorre coriza e reage com o espanto de sangue. Ele quer ir para o hospital, acha que vai morrer, recusa o banho, puxa as cobertas aos ombros, treme de frio a ponto de bater o queixo, responde a mesma pergunta na quarta tentativa, alucina de olhos abertos.

Qualquer pessoa de fora jura que ele está chapado ou é um péssimo ator. Não dá para acreditar na autenticidade dos sintomas. Não existe progressão gradual. O cansaço já é lassidão, a derrocada, violenta e imediata, não subiu degraus.

É um simples resfriado, e já pede para a namorada telefonar para o emprego no seu lugar e arranjar um atestado. Não encontra valentia nem para ligar para o seu chefe.

Ninguém descobrirá se dessa vez é grave porque sempre é grave. Finge se afogar nas primeiras expectorações. Há um retrocesso etário em poucas horas. Conforme aumenta a febre, diminui a idade.

Antes de perder a paciência com o seu eleito e rebaixá-lo de herói dos insetos a covarde das dores, a ciência provou que o sistema imunológico masculino é mais fraco do que o das mulheres e, ao mesmo tempo, ele tem mais receptores de temperatura no cérebro, o que intensifica e amplia os efeitos.

Perdoe a birra incurável no homem.

Publicado em Donna ZH em 04/02/2018

Nenhum comentário: