Se você não define qual o perfume que a sua mulher usa, não entre em pânico. Não é desinteresse. Não é desamor. Não é má vontade. Não significa que não presta atenção ou o que o seu olfato é falho.
Por mais que a namorada ou a esposa jogue em sua cara a desinformação, como se fosse uma lacuna grave de devoção, como se estivesse cometendo um crime e esquecendo a data que se conheceram, o nascimento dela, o signo.
O universo feminino faz de propósito para sacanear os seus homens. É uma cilada ancestral, elas contam com o erro para obter vantagem, alimentar culpa, e exercer o poder sobre os mais fracos.
Não há como saber. Eu passei muito tempo me recriminando, sentindo-me um farmacêutico incompetente, um laboratorista fracassado.
Como a minha mulher tem três perfumes, pensava que me confundia com a frequência alternada. Guardava os nomes, mas não acertava o dia deles. Fiz experimento em meu pulso com as fragrâncias para memorizar, tampouco fixei o olor. Surgia diferente na pele dela.
Foi quando percebi o óbvio: o excesso me embaralhava. Nem cheirando grão de café seria capaz de limpar o faro e desenredar o enigma.
Não era um único cheiro a ser decifrado, mas vários. Tem o cheiro de xampu e do condicionador no cabelo, tem o cheiro do sabonete líquido, tem o cheiro de creme pra mão, tem o cheiro de creme pra cutícula, tem o cheiro do óleo para cotovelos, tem o cheiro da loção para o pé, tem o cheiro do protetor para o rosto, afora os produtos especiais de combate à estrias e rugas que todas têm.
Não há como descobrir o perfume mesmo. É uma charada. O que nos resta é pular a pergunta no quiz-show do amor.
Publicado em UOL em 02/02/2018
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