O que mais incomoda as mulheres não é o que o homem fala, é o que ele não deixa ser dito.
Faltou na escola no dia em que a professora disse: um de cada vez.
Sempre interrompe, sempre se antecipa e se sobrepõe a mulher no momento em que ela está se explicando. Usa o tom grave de sua voz para abafar as delicadezas e refutar qualquer sinal de contrariedade. Não precisa nem gritar para bloquear o pensamento de sua namorada ou esposa: explora a violência do timbre para calar e intimidar. Ele não quer registrar nada que o ponha em dúvida - só que viver assim, na mais completa tirania, de apenas um lado ter razão, é impossível.
Pergunte a um gago como é irritante alguém completar as palavras por ele.
A maior parte das brigas não surge de uma desavença explícita, vem da injustiça da interrupção, do jeito falhado que se conversa.
É só ausência de educação mesmo, porque não custa esperar o outro finalizar as suas ideias para, então, expor os seus comentários.
Mas o homem conversa como ele dirige: cortando os carros, atropelando os sinais, não dando pisca-alerta para mudar de pista, buzinando, abrindo o vidro para xingar, aproveitando a inexistência de radar para aumentar a velocidade. Alimenta o mesmo padrão agressivo no trânsito das palavras.
Sua indisposição de falar sério enerva o mais corriqueiro papo. Toda avaliação é vista como crítica, todo apontamento é acolhido como defeito, toda atenção é identificada como ameaça.
Como a mulher não consegue terminar o seu raciocínio, acredita que ele não escutou o que apresentou antes e busca repetir do início. A repetição demanda o dobro de tempo e paciência previstos na discussão de relacionamento. O que era para ser breve vira, forçosamente, uma maratona de soletração.
O machismo é que ele jura que sabe o que a mulher vai falar. Ele passará uma vida desconhecendo quem o acompanha, desperdiçando infinitas chances de aprender o que ela é e o que ela procura em sua vida pois nunca ouviu nenhum desabafo até o fim.
Publicado em Donna ZH em 07/01/2018
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