Filho é filho não importa a idade - terá condições de absorver do seu jeito. É um telepata das emoções. Uma esponja das crises. Criança entende mais rápido o que vem acontecendo do que você imagina - entende e resolve com um abraço, entende e resolve com um beijo, entende e resolve com um cartão, entende e resolve melhor que muito marmanjo oferecendo ternura em vez de palavras ásperas de ordem, restrição e sermão.
Quando tinha sete anos, a minha mãe não camuflou a sua dor. Desabou em lágrimas na minha frente expondo que o casamento com o meu pai havia terminado. Eu era um toco de gente e ela me pediu ajuda. Não me assustei. O desespero infantiliza o outro, e de repente a senhora dos meus cuidados tornou-se a minha primeira filha.
Eu peguei a minha mãe pela mão e falei:
- Vou lhe cuidar.
Acendi algumas velas e depositei no canto da banheira, preparei um banho bem quente, despejei um pote de xampu na água, para criar espuma, e esfreguei as suas costas lentamente, enquanto ela expulsava os soluços. O escuro com as chamas tremeluzindo lhe deu alguma esperança de igreja e promessa. Escoltei a sua saída para pisar no tapete, entreguei uma toalha e ela dormiu mais cedo naquela noite. Vigiei o seu sono até que a respiração voltasse ao normal.
Nunca mais nos separamos por dentro, nunca mais nos omitimos descobertas e aflições.
O mundo continuou sendo o nosso ventre.
Publicado em Jornal Zero Hora em 09/01/2018
Um comentário:
Muito legal você manter o blog....
vi um vídeo que você falava sobre cuidar dos pais ... nossa emocionante!
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