Ou você se salva ou salva o relacionamento. Quem já não passou por esse duro dilema?
Entre se afogar e voltar para a margem. Entre deixar à deriva quem você gosta ou manter a sua vida dentro dos limites da sanidade.
E sempre sofrendo pela ternura desperdiçada, sempre penando por sacrificar uma manifestação sincera de apego.
Há romances que não nasceram para a felicidade. Por mais difícil que seja aceitar essa irreversibilidade. São intensos, passionais, selvagens, porém inviáveis socialmente. É como namorar com Mogli numa cidade grande e tentar usar os talheres.
Porque há pessoas que somente sabem amar pela violência das rupturas. Só sabem amar se separando e voltando. Não aceitam outra forma de dependência senão pelo grito.
Têm uma noção de amor como briga, estremecimento, discussão. Viveram na infância sob o jugo de pais quebrando os pratos e batendo boca e não entendem os laços na frequência da gentileza e da concordância. Enxergam o entendimento como submissão.
Se tudo está bem é que está mal. Se tudo está calmo é que está entediante.
Logo arrumam uma bronca para tornar a rotina mais excitante. Mesmo que seja uma suspeita inventada.
Transam unicamente com vontade após chantagens e ameaças de despedida. O sexo é uma demonstração de poder e possessividade, não de confiança e carinho. A intimidade precisa ser testada para oferecer liga. O ódio costuma vir à tona para renovar a atração.
Você tem aquela dúvida constante se vem sendo amada ou odiada, se ele lhe deseja mesmo ou recorre ao pretexto da carne para lhe ofender na cama.
Não existe jeito de contentar o tipo que se relaciona somente pela guerra. Nunca ficará saciado. Você pode fazer todos os caprichos e não será suficiente. Pois ele age por crises e surtos periódicos, usando os melhores sentimentos para justificar as piores atitudes. É treinado para a tortura psicológica, para o jogo de nervos. Não senta para discutir, não tem paciência, logo se levanta virando as costas e esmurrando as portas. Por uma banalidade, cria uma epopeia para a sua raiva.
Um ano ao lado de alguém assim é o equivalente a uma década de casado.
Não me arrisco a dizer se o amor termina, mas guardo a convicção de que ele cansa.
Publicado em UOL em 05/01/2018
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