segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A MOEDA DAS FRALDAS

Os amigos Daniel e Gabriella recém tiveram uma filha: Joana.

Eles não estão mais no nosso mundo contábil e financeiro. Falam um idioma novo, de exclamações e onomatopeias.

Convivem entre nós, mas não acreditem na materialidade de seus corpos. As suas cabeças habitam um outro país, de formato de sapatinhos de crochê, com a bandeira do cueiro e a moeda da fralda. Não lidam mais com o real no dia a dia, os seus cálculos se resumem a fraldas.

As fraldas são os seus dólares e euros. As fraldas são os seus bitcoins. As fraldas são o seu fundo de investimentos. As fraldas são o seu IGP-DI (índice de inflação).

Como todos os cuidadores de bebê, precisam estocar fraldas. Só pensam nisso. São 12 por dia, média de 370 por mês. Limparam um armário para colocar as novas barras de ouro da residência.

Fralda virou uma obsessão, uma luta pela sobrevivência. É como insulina para diabético, não dá para contar com a sorte. Tornou-se uma urgência inadiável, dependente de rápida reposição.

Fundamenta o início e o término de qualquer telefonema. Antes se despediam com "tchau, eu te amo", agora é "tchau, não esquece de ver fraldas".

Não voltam mais do trabalho com a sacola de pães quentinhos, mas com fraldas. Festejam quando encontram uma promoção. Abrem um vinho quando acham um pacote de 46 por menos de R$ 1 cada fralda. Qualquer saída requer uma espiada nos preços das farmácias e dos supermercados.

Mesmo sem necessidade iminente, perdem o tempo de seus compromissos e verificam os valores nas prateleiras – vá que tenha uma barbada.

Calculam os seus salários por fraldas, convertem saídas para jantar e cinema em fraldas, fixaram uma tabela mental que reverte feijão, arroz, carne, ovos em fraldas. A cesta básica é comparada com fraldas. As únicas cotações que lhes interessam na bolsa de valores são a da Pampers e a da Huggies.

Serão dois anos e pouco com um raciocínio estranho, com uma matemática mágica, com divagações incessantes de estatísticos do amor.

Trocar o filho é realmente trocar de vida.

Publicado em Jornal Zero Hora em 05/12/2017

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