O dedo podre faz com que perca a mão cheia de bons relacionamentos. Quando você se envolve com uma louca ou louco, um obsessor ou uma obsessora, não estraga apenas uma relação, mas também as relações futuras. Não cria unicamente trauma em sua história, prolonga-se em conflitos e crises em, pelo menos, dois romances futuros.
Pois não tem como terminar o envolvimento com alguém fora de si. É impossível. A pessoa jamais aceitará o desenlace, jamais acolherá a negativa, jamais admitirá o fim e o abandono, seguirá como um zumbi desgovernado perseguindo os seus passos e multiplicando os cadáveres com as suas mordidas. Vai criar contas fakes e avatares fantasmas para infernizar a sua vida e a de possíveis pretendentes.
Assim você não terá descanso. Provará do mais constrangedor dos arrependimentos, sonhando em mudar o passado e apagar certas lembranças. Sofrerá uma avalanche de fotos, insinuações e segredos para desestabilizar a sua alegria.
Não existe modo seguro para se isolar da ofensiva. Haverá descrição de detalhes de sua sexualidade e de suas manias, a ex ou o ex pretende disseminar a crença de que ainda são amantes e continuam se encontrando.
Suportará a ira e a vingança apocalíptica de um hacker do amor. Enfrentará um inimigo poderoso com conhecimento de causa de seus defeitos e fraquezas.
Todos os seus domínios serão contaminados por distorções e inverdades. Não terá descanso, trégua, até que a xiita ou o xiita liquide com as novas possibilidades de namoro. A sentença que move a alma atormentada é própria do camicase, lixando-se para as censuras morais: “já que não ficou comigo, então não ficará com mais ninguém”.
Como os começos são frágeis e a paixão é quebradiça, os ataques são vitoriosos e convincentes, despertando ciúme e desconfiança. Dificilmente a vítima desfrutará de tempo para se explicar. A ideia é espalhar a incerteza nos acontecimentos mais corriqueiros, transformando a intimidade antiga em suspeita e ameaça onipresentes.
A escolha errada de um parceiro ou de uma parceira, sem nenhuma base razoável, grangrena a esperança. Traz um preço muito alto a pagar, comprometendo o orçamento afetivo com parcelas infinitas. É o mesmo que continuar pagando prestações de um carro roubado.
O maluco e a maluca não largarão de seu pé até amputar inteiramente a sua mão. Só estarão satisfeitos quando não sobrar dedo nenhum para a aliança.
Publicado em O Globo em 16/11/2017
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