Há simpatias que funcionam perfeitamente. Pena que ao contrário. Sempre que lavo o carro, chove. Confiro a previsão no celular e não dizia nada de temporal. Prometia sol e estabilidade. É deixar o veículo na lavagem que as nuvens começam a se amontoar e o céu escurecer.
É uma queda d’água repentina, não é nem educada a ponto de mandar relâmpagos para me dissuadir do capricho.
Não encontro formas de prevenção. Ao sair de casa, predominava a ordem solar de cartão-postal, é impossível se preparar.
Tampouco tenho com quem reclamar da propaganda enganosa. Resta-me bufar. Não consigo aproveitar a limpeza e o brilho por 24 horas. Não receberei elogio nenhum dos familiares. Não há como impressionar e se destacar na fileira empoeirada do estacionamento. Não gozo do bem-estar da lavanda. Os tapetes recém limpos já estarão emporcalhados dos sapatos das poças. A alegria dura menos que a vida de uma borboleta.
Logo que lavo o carro, entro na vala comum da lama. As folhas das árvores presas no para-brisa são ironias do meu desencanto. O carro se encontra mais sujo do que antes. A vontade é retornar para a garagem e pedir o dinheiro de volta. Só não faço porque o lavador não tem culpa, não vigora nenhuma condicional na promoção, não está escrito no cartaz “lavagem grátis de novo se chover no dia”, tudo acontece dentro da loucura de minha cabeça.
Já busquei me enganar: lavar o carro quando não é para lavar, ou aparecer de repente sem ter planejado. Ou solicitar que a minha mulher leve até lá. Mas não driblo a maldição. Vai acontecer igual querendo ou não querendo.
Chove e choverá quando entregar as chaves para o moço dos baldes e panos. Não sei por que não me candidato a meteorologista.
Publicado em Vida Breve em 1º/11/2017
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