Foto: Gilberto Perin
A separação é uma injustiça. Se o casal se distancia pelas diferenças na convivência tampouco encontrará pontos de convergência agora que não estão mais lado a lado.
A separação fará bem a um e mal a outro. É uma gangorra temperamental fatídica.
Enquanto o primeiro se sentirá aliviado, mais confiante e bonito, o segundo se descobrirá deprimido, desleixado e antissocial. Enquanto o primeiro tomará banho de lojas, o segundo nem tomará mais banho e se disfarçará de mendigo. Enquanto o primeiro achará de volta a estima e a felicidade pessoal, o segundo mergulhará em traumas e recalques antigos. Enquanto o primeiro retomará prazerosamente as suas amizades, o segundo servirá café para os seus fantasmas. Enquanto o primeiro inventará de sair e festejar, depois da quarentena de brigas e discussões, o outro fugirá do convívio e não atenderá ao telefone. Enquanto o primeiro decidirá pela comida saudável e pelo reinício da academia, o segundo se esconderá no porão das lembranças. Enquanto o primeiro passará a ler, estudar e costurar sonhos deixados para trás, o segundo partirá para uma anorexia intelectual e abandono gradual de suas atividades.
É sempre assim: no fim do relacionamento, o par se divide em alguém incrível e alguém demolido, em alguém ressuscitado e alguém defunto. Os amigos em comum testemunharão o contraste das férias com o luto, da algazarra com a catatonia, da luz com as trevas. É possível sentir raiva de quem se alegra e compaixão por quem adoece, só que amor não é matemática e os resultados são diferentes apesar de partir da mesma questão.
Mas se, por ventura, ambos sofrem igual, nenhum melhora com o término, pode apostar que voltarão, que haverá reconciliação. Estão presos na telepatia e condenados a dividir os pensamentos e fantasias. Mesmo afastados, permanecem juntos.
Publicado em O Globo em 22/06/17
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