Arte: Peter Blake
Toda morte traz o acento grave da reflexão. Paramos para pensar quem somos e o quanto seremos memoráveis.
Ponderamos as nossas decisões, voltamos os braços para a família, medimos o tempo que nos falta com a colherzinha no fundo da xícara do café.
A morte não melhora o falecido, ela existe justamente para melhorar os vivos, garantindo uma segunda chance para aqueles que ficaram.
É o momento de pensar duas vezes antes de falar e de rezar duas vezes depois de falar.
A morte não santifica ninguém, não recupera danos, não dissipa mágoas, não soluciona conflitos, porém ela impõe respeito. Respeito que deve existir igualmente entre quem ama e quem odeia, entre amigos e inimigos, entre aliados e adversários.
E nem se trata de hipocrisia, ou de esconder os defeitos daquele que se foi, ou de sufocar a verdade. É tão somente compaixão. Não é mais a hora de brigar, é a hora de enterrar as mágoas. Não é mais hora de fazer piada, é hora de falar sério. Não é mais hora de apontar defeitos no falecido, é hora de reparar os próprios defeitos enquanto é possível.
Não cabe aumentar o sofrimento dos familiares com constrangimentos.
Levo de casa um par imutável de regrinhas: dos vivos somente falo mal pelas costas e dos mortos não falo mal de modo nenhum - é covardia, eles não têm mais como se defender.
Publicado em 31/07/17
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