terça-feira, 29 de agosto de 2017

SEPARAÇÕES ESQUISITAS

Muitas separações acontecem porque um dos dois não quer casar imediatamente.

Uma amiga terminou o namoro pois não sentiu firmeza nas intenções do rapaz. Ambos desfrutavam do interesse de casar, porém divergiram do momento. Ela esperava que fosse agora, ele gostaria de encontrar antes uma folga financeira para não somar pobrezas. Ela romântica, ele prático. Ela identificando o adiamento como enrolação, ele entendendo a sua espera como engajamento. Chegaram a conclusões diferentes de um sentimento igual. Ela não aceitou explicações, ele não admitiu pressão. Os dois deixaram de se falar porque sonhavam casar em horas discordantes.

É paradoxal se separar porque se pretende firmar a paixão em cartório. Se quer tanto casar não faz sentido acabar com o relacionamento. Ou, melhor, é cômico que o motivo da separação seja a vontade de casar.

Expulsar uma pessoa da vida por ambicionar que esteja a vida inteira perto é uma incoerência.

Como alguém que deseja passar o resto dos dias com outro termina a história de repente?

Vejo uma montanha de apaixonados deslizando em avalanche e soterrando a paz da rotina pois não vislumbram alicerces e um compromisso sério e exato. Acham que estão envelhecendo e perdendo ciclos e estipulam um ultimato: é tudo ou nada, é hoje ou nunca mais. Entram no território movediço da chantagem. Só que cometem uma contradição: rompem pois desejavam mais tempo junto. Abandonam o romance por amar. Rasgam as fotos apressadamente pela posteridade do porta-retratos e do álbum de casamento.

Não é que estão brigando ou experimentando uma precariedade emocional no relacionamento, estão simplesmente insatisfeitos pela demora ficcional do altar ou de uma casa em comum. Podem, inclusive, flutuar em felicidade, mas o medo de não ter um futuro garantido desestabiliza o presente.

Casais se separam à toa, mais pela falta de expectativa do que pela ausência de amor. É esquisito cortar o laço por desejar mais, e não por desejar menos.

A alegria não deveria ser motivo de discórdia. É justificável desfazer namoros por desentendimentos, indiferença, grosseria, egoísmo, infidelidade e deslealdade. Jamais pela vontade teórica de casar rápido.

A idealização é sinônimo de escravidão. Quando se ama, adaptar-se é crescer lado a lado. Até que os dois sejam um e nenhum dos dois deixe de ser aquilo que era antes do namoro.

Publicado em Jornal Zero Hora em 18/06/17

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