terça-feira, 29 de agosto de 2017

PARA O MEU EXÉRCITO

Foto: Gilberto Perin


Mesmo o homem mais solitário, mesmo a mulher mais solitária, tem um exército por detrás. Um batalhão de amigos e familiares guerreiros, que deixarão tudo o que estão fazendo para ajudar.
Ninguém combate nesta vida sem uma legião de escudeiros. Ninguém! Alguns serão samurais escondidos nas sombras. Outros andarão corajosamente nas primeiras fileiras, ostentando a bandeira de nossas convicções.
Não se vive à toa. Morre-se de olhos abertos para enxergamos quem fechará as nossas pálpebras.
Você certamente tem alguém. Alguém que não lembra, mas que lembrará de você. Alguém que tenha conhecido somente em um dia, de passagem, de soslaio, continuará o seu olhar, entenderá o seu recado, completará a sua existência.
Não percebemos quem protege os nossos lados porque estamos entretidos com o escudo e a espada, tentando sobreviver. E agradecemos erradamente a sorte e o acaso e jamais abençoamos os punhos cerrados daquele que nos afasta dos perigos.
Você nunca estará desacompanhado. É um contato que julga desimportante, porém demonstrará apreço de combate. É um nome longínquo em sua memória que mentalizará a vigília.
Nossos guerreiros vão correr para o saguão do hospital para nos socorrer, para a sala de nossa casa, para o telefone, para o Facebook, para nossas casamatas digitais.
Amigos não dependem de asas porque emprestam os casacos. Não dependem de auréola porque cedem o guarda-chuva. Não dependem do voo porque são rápidos nas palavras e atentos no silêncio.
Amigos são um pedaço de céu nas nuvens do abandono, nos cobrem com a sombra quando o sol nos castiga.
Amigos não são profetas, não são cartomantes, não são telepatas, não se interessam em acertar a previsão dos dias, pois já formam parte de nosso destino. Cuidam também de nosso passado como se ele não tivesse pronto.
Amigos não têm fim nem na mais completa desesperança. Depois de ter confidentes, a luta já foi ganha. Nossa memória estará espalhada.

Publicado em O Globo em 13/04/17

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