Foto: Gilberto Perin
O fim e o início são próximos. Não estão distanciados nem por um passo.
O que já testemunhei de amigo convicto da separação e logo depois marcava casamento. E a noiva era a futura ex. O que já testemunhei de parceiro que diz que a relação acabou num dia e noutro dia parte em viagem apaixonada de férias. Ou que cantou o término do romance para engravidar na sequência.
Discussão de relacionamento é paranormal. Fantasmas ressuscitam, garfos entortam, aparecem vozes na cabeça, casais levitam. Não há como definir os desdobramentos espíritas e acertar o resultado. Sempre surge um gol nos descontos da partida mudando o vencedor.
A pessoa pode ensaiar o discurso de despedida no espelho, e puxar um diferente do bolso na hora H.
As decisões sozinhas não persistem frente a frente. Um sexo selvagem é capaz de arrancar as certezas. Uma declaração apaixonada é capaz de roubar as ofensas. Um pedido de desculpa é capaz de enfraquecer o ódio.
A véspera da ruptura é enlouquecedora. Quando está prestes a se separar, o que costuma ocorrer é o contrário: uma forçada e inesperada renovação dos votos, uma surpreendente prorrogação dos laços. Você se sente culpado e se compromete ainda mais. Terá que telefonar para todos os amigos explicando o recálculo abrupto de rota. Ninguém entenderá, como sempre, o amor é um mistério até para quem ama.
Publicado em O Globo em 10/08/17
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