quarta-feira, 30 de agosto de 2017

EMPATIA

Arte: Eduardo Nasi

Amizade sem esforço não existe.

Tenho amigos que prometem encontros e sempre arrumam uma desculpa para não ir. Não são amigos, são hologramas.

Combinam café, jantar, cerveja, oferecem palácios e miragens durante as conversas nas redes. E, na hora, desaparecem por algum motivo obscuro: ou filho ou algum familiar adoeceu, ou surge uma viagem inesperada. Desculpas que se assemelham às aquelas usadas no ensino médio.

Atravessam idades jurando que agora vão, que está tudo certo, confirmam a presença e dois dias depois vem com uma justificativa diferente. A vontade é largá-los de mão. Não participam dos momentos mais importantes de sua vida como autógrafos, shows, batizado, casamento. Não comparecem nos enterros das mágoas nem na celebração dos recomeços.

Retomam o contato com velhas promessas e esperanças e não honram o nascimento da palavra. A palavra é tudo o que temos na amizade. Quem quebra o convívio produzirá sempre um silêncio incômodo. Um mal-estar orgânico. Não apagará a sombra das desfeitas.

Amigo que é amigo achará motivos improváveis para ir, apesar da neve e da chuva, do cansaço e do bagaço. Ele se envergonha de desmarcar. Não espera que você entenda adiamentos, já que a desistência é inexplicável e sinaliza uma ausência de prioridade. Ou você se encontra junto ou não se encontra, o meio-termo é habitado por mentiras.

Custa contrariar o conforto para atender a um amigo? Se é pela comodidade nunca sairemos de casa. Ou só receberemos em nossa casa.

Amigo é dedicação, é ajudar quem se separou quando você se vê feliz, é amparar o fracasso quando você se enxerga vitorioso. É largar o seu ponto de vista pela empatia e cumplicidade. Pois a memória a dois só pode ser feita pela renúncia.

Amigo não é boa vontade, é contrariar a vontade às vezes. Não há nada mais bonito do que abraçar forte o amigo e contracenar o seguinte diálogo:

– Pensava que não viesse!

– Imagina se eu perderia a sua cara de bobo.

Toda surpresa é pontualidade no amor. Todo apesar traz apenas o pesar.

Publicado em Vida Breve em 19/07/17

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